Radio Católica On-line

Homens a Luz de Deus.

Aleluia! Tu é abênçoado, e a sua Graça ja estar sendo preparada por Jesus, chegará em uma boa hora, pois ele conhece o teu coração e seus problemas, ele sofre com vc, ele se alegra com vc, mais aquele seu desejo, será agora atendido, espere que um anjo trará sua Graça, apenas agradeça ao Senhor e assim que receber, fale em seu pensamento. AMEM !

2011/04/11

Filme: The Passion Of The Christ

Filme: Damião O Santo de Molokai

Filme: O MIlagre

Filme: PATMOS- A ILHA DO APOCALIPSE

Vocação a Serviço da Vida



Pe. Toninho, Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe. Ourinhos SP.

VIII Jornada Vocacional da Arquidiocese de Brasília



Dia 15 de Maio de 2011Local: Centro Educacional Católica - Taguatinga Norte DF

Inácio, o místico pragmático

É tarefa árdua falar em poucas palavras sobre uma pessoa que admiramos. Já foi dito alguma vez que Inácio de Loyola é o tipo de santo que a gente demora a conhecer, mas conforme o vamos descobrindo ele vai nos conquistando até chegar a nos cativar. Isto aconteceu comigo. Vou trazer para vocês a frase com que um jesuíta anônimo resumiu o espírito do santo, no ano de 1640, quando se comemorava o primeiro centenário da fundação da Companhia de Jesus. Non coerceri a maximo, contineri tamen a minimo, hoc divinum est. Traduzido seria algo assim como: não ter limites nas coisas grandes dando atenção às mais pequenas é algo divino. Em outras palavras, é admirável a pessoa que sonha alto, porém, se mantém capaz de dar atenção ao mais pequeno.

Esta é uma caraterística típica do caráter, da espiritualidade e da obra de Inácio de Loyola. Temperamento, educação e circunstâncias da vida moldaram seu modo de ser. No que diz respeito à sua espiritualidade basta observar como, na sua apresentação da contemplação da Encarnação de Jesus, ele desce do universal ao particular, isto é, das alturas da Trindade até o ponto concreto da pequena Nazaré. Contemplando as três pessoas divinas, Inácio nos convida a ver as pessoas humanas, “umas após outras, na face da Terra, em tanta diversidade de roupas e de fisionomias, uns brancos, outros negros; uns em paz, outros em guerra; uns chorando, outros rindo; uns sãos, outros enfermos; uns nascendo, outros morrendo”. A Trindade decide salvar o gênero humano e, com Inácio descemos até um ponto concreto, Nazaré, onde encontramos uma jovem simples chamada Maria.

A vida de Inácio também está marcada por esta dupla visão ou contraste. O peregrino que sonhava percorrer o mundo, uma vez eleito superior geral da Ordem dos Jesuítas, passou os 16 anos que lhe restaram de vida no pequeno quarto de Roma, desde onde enviava e acompanhava seus companheiros missionários pelos caminhos da Europa, Índia ou Brasil.
O segredo desta visão universal unida ao senso da realidade concreta tem a sua última raiz na sua experiência de Deus. Estando o recém convertido Inácio dedicado à oração na cova de Manresa, ele teve um período de ilustrações que, conforme ele mesmo confidenciou no seu Relato do Peregrino, “entendia e conhecia muitas coisas, tanto em assuntos espirituais como nos de fé e letras e ... lhe pareciam todas coisas novas”; “lhe parecia como se fosse outro homem e tivesse outra inteligência e não a que tinha antes”. Foi esta luz recebida que lhe fez sentir como todas as coisas brotam de Deus como fonte e a ele estão chamadas de volta. Foi um contemplativo não só na oração, mas também na ação pois captou claramente, e sempre unidos, Deus e mundo, Criador e criatura, mostrando assim que, com olhar de fé, estamos chamados a encontrar Deus presente em todas as coisas, pessoas e situações. Um Deus sempre maior que habita em toda criatura, em cada um de nós trabalha, age e deseja se comunicar nos revelando seu amor.

Eu penso que Santo Inácio traz para nós, que vivemos num mundo tão fragmentado, uma mensagem de harmonia, de síntese e de comunhão. Como é importante hoje esse toque pessoal e gratuito no relacionamento humano familiar e profissional. Tirar a pessoa do anonimato, do utilitarismo e da rotina. Inácio une Deus e mundo; contemplação e ação; experiência pessoal e organização metódica; razão e afeto; obediência amorosa e liberdade. Não é por acaso que tantos companheiros de Inácio foram, ao mesmo tempo, homens de fé e dedicados estudiosos, cientistas, poetas e artistas. Mateus Ricci na China, José de Anchieta no Brasil, as Reduções do Paraguai, Teilhard de Chardin e os mártires de El Salvador são apenas alguns exemplos da herança inaciana. É que lá no fundo mais profundo do ser humano, cada um de nós comunga com o universo todo e com Alguém que está por trás dele
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Um Deus em busca do ser humano

“Desconhecer a Sagrada Escritura é desconhecer a Jesus Cristo” São Jerônimo.

Logo no início da Bíblia nos deparamos com a pergunta de Deus-Pai: “Adão onde estás”? (Gn 3,9) e na última página da Bíblia encontramos a oração na qual Cristo diz: “Eis que venho em breve” (Ap 22,7).
Entre estes dois extremos se desenvolve um longo caminho de uma humanidade que toma, progressivamente, consciência do amor de Deus. Neste itinerário podemos identificar 03 etapas principais.

1) A primeira é dominada pela pergunta de Deus. Tal pergunta envolve todo o Antigo Testamento, sublinhando a incansável busca do ser humano por parte de Deus. Deus convoca pessoas (Abraão, Isaac, Jacó); adota um povo inteiro, esse povo se revela incapaz de ser-lhe fiel; Deus então envia profetas para que denunciem com palavras e com a vida as incoerências do povo e o ajudem a reencontrar os horizontes que Deus reserva a todos os seus filhos.

2) Na segunda etapa, a pergunta “onde estás”? de Deus encontra sua expressão mais radical na vida de Jesus de Nazaré. Nele é o próprio Deus que se faz ser humano, padecendo nossas limitações. E o faz na condição de servo, Jesus se despoja de tudo e é elevado desnudo sobre uma cruz [1]. No Golgota, contemplamos um Deus totalmente desarmado abraçando toda a humanidade, estendendo a ela a dynamis (poder, milagre) da ressurreição.

3) A terceira etapa é, enfim, vivida pela humanidade renovada. Humanidade que vive e comunica o amor de Deus. Paulo, Pedro, Tiago, João com os seus escritos visam exprimir o eco de uma boa nova que enfrenta todos os obstáculos para alcançar todos os povos da terra.

A história da salvação perpassa páginas luminosas, mas também obscuras; personagens exemplares aparecem ao lado de outros nem tanto. Enfim, apresenta vicissitudes humanas nas quais ganha vida a paixão e a ternura de um Deus que é incansável na tarefa de buscar o ser humano.

Um álbum de família

A Bíblia pode ser comparada a um álbum de família [2] com recordações alegres, mas também tristes. Folheando a Bíblia se verifica diversos traços do rosto de Deus [3]:

O Deus artesão: inicialmente o ser humano bíblico pensa Deus de acordo com categorias antropomórficas (partindo sempre da experiência humana) [4]. A própria paz, o bem estar, a vitória sobre os inimigos são interpretados como prêmio a fidelidade à aliança, enquanto as derrotas, pelo contrário, são lidas como conseqüência da infidelidade e da desordem moral.

O pai que forma os seus filhos: é o anúncio dos profetas que iluminam a compreensão do rosto de Deus: ele é o amante apaixonado, o esposo ferido, a mãe que nutre, o pai que educa, o pastor que conduz, o vinhateiro paciente. A estas imagens se acrescem outras tiradas do mundo animal: a águia que protege o povo sobre suas asas, o leão em busca de presa...Lidas e meditadas à luz da experiência histórica vivida pelo povo, tais revelam um Deus que caminha com seu povo, com o rosto coberto de pó e sandálias gastas.

O pão repartido: A boa notícia de Jesus Cristo cai sobre este terreno predisposto, conduzindo uma revelação já iniciada, nessas imagens de Deus acima mencionadas, ao cumprimento. No Jardim do Golgota, lugar da morte e ressurreição de Jesus, Deus revela em plenitude o seu rosto.
“Sem o A. T., o N. T. seria um livro indecifrável, uma planta privada das suas raízes, destinada a secar-se” PCB 2001.


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José Abel de Sousa casino

4°. Dom. Quaresma

“Aquele que não se encontra com a natureza, dificilmente se encontrará consigo mesmo e com Deus”

“Pode parecer estranho que a figura de Inácio de Loyola tenha algo a nos dizer sobre ecologia.

A verdade é que a espiritualidade inaciana é muito mais integradora do que imaginamos. Inácio viveu e solidificou sua experiência de Deus de maneira unitiva, racional e afetiva. Sua relação com Deus e com a natureza se manifesta numa aplicação dos sentidos, da afetividade, como o olhar, o apalpar, o cheirar e o sentir, ajudando a interiorizar a sua experiência espiritual.

Pensar, viver e sentir os frutos espirituais só é possível numa visão de amor presente em todas as coisas. Trata-se de uma relação de amor em que não se pode separar o divino, o humano e o cósmico, pois Deus está presente em tudo e em todos” (Pe. Josafá Siqueira sj)

A experiência inaciana dos Exercícios desperta uma “atitude contemplativa” que nos impulsiona a buscar e encontrar Deus em todas as coisas da natureza e da vida humana. Para a pessoa que vive a experiência dos Exercícios, cada criatura torna-se uma revelação de Deus, uma faísca do Absoluto; tudo manifesta e revela o seu Amor; tudo pode ser lugar de encontro com o Criador.

A recomendação inaciana:“e sejam frequentemente exortados a procurar em todas as coisas a Deus nosso Senhor... amando-O em todas as coisas, e amando a todas n’Ele” (Const. 288) não significa frieza e distância da Criação, senão máximo respeito e cuidado para com as obras do Criador.
Para amar bem a todos e a tudo é preciso, antes, amar Alguém sobre todas as coisas. Pois bem, essa possibilidade é para S. Inácio fruto e manifestação da consolação divina.

Nesse sentido, a espiritualidade inaciana vai além de uma determinada experiência religiosa; ela se expressa como uma “atitude amorosa” para com a natureza e todas as criaturas.

O Universo inteiro é um imenso altar, no qual podemos contemplar a presença do Criador. A Natureza é sinfônica (harmonia de sons); estamos mergulhados num mundo formado por uma multiplicidade de notas, sons, sinais e mensagens diferentes. Formamos uma mesma realidade complexa, diversa e única. A Terra nos encanta e nos convida, constantemente, à admiração e ao cuidado.

A espiritualidade inaciana reconhece uma imanência de Deus no cosmos; há uma “divinização” do universo, enquanto Deus está presente nele. Deus está em tudo, tudo está em Deus. As criaturas existem e são sustentadas pela força criativa de Deus; Ele continua “trabalhando”, recriando, fazendo tudo novo.

A Criação, como dom recebido de Deus, situa-se no plano de uma “sacralidade” fundamental.

O Universo é um grande sacramento e se transforma no espaço e no lugar de manifestação da divin-dade. Tudo é sagrado; a Matéria é sagrada; a Natureza é espiritual, porque é Templo de Deus.
O sagrado invade todos as aspectos da vida e da criação. Todos os lugares da mãe-Terra pelos quais caminhados são “territórios sagrados”. Segundo a Bíblia, a Terra é um jardim onde Deus tem prazer em passear. E a primeira vocação do ser humano é a de ser jardineiro, pois recebeu do Criador a missão de cuidar e preservar o paraíso.

S. Inácio vê uma bondade e uma beleza presentes em todas as criaturas. O Amor se faz presença, se faz visível e se manifesta em cada detalhe da Criação. Tudo causa admiração e encantamento. Sentimos, estre-mecemos, vibramos, nos enternecemos, ficamos encantados com a Criação e sua insondável vitalidade.

“Ao ver uma planta, uma pequena erva, uma flor, uma fruta, um pequeno verme ou qualquer outro animal, S. Inácio contemplava e levantava os olhos aos céus, penetrando no mais interior e no mais remoto dos sentidos” (Pe. Ribadeneira).

S. Inácio considera Deus “habitando” nas criaturas, dando-lhes o ser, às plantas dando-lhes o cresci-mento, aos animais a sensação, aos seres humanos o entendimento (EE. 235)

Presença operativa e de amor, porque “Deus é amor”. E sendo amor, irradia vida, graça, dom...

Como tudo está ligado umbilicalmente a Deus, é a partir de Deus que encontramos o todo. Deus penetra no coração de cada coisa e cada coisa se encontra em Deus.

O horizonte da Criação, revelado pelo “Princípio e Fundamento” e pela “Contemplação para alcan-çar amor” suscita no exercitante uma atitude sabática de adoração.

De fato, na perspectiva bíblica, o ponto alto da Criação é o Sábado a partir do qual se entende a relação e a comunhão do ser humano com a natureza, numa atitude de permanente louvor (espanto, admiração diante da beleza da Criação e da presença divina que a conduz à plenitude).

O Princípio e Fundamento expressa, portanto, uma atitude espiritual ecológica.

Na Contemplação para alcançar amor, S. Inácio leva o exercitante a perceber a íntima presença de Deus na Criação. E dela decorre uma atitude de respeito, harmonia e sintonia.

As coisas, o mundo, a natureza, os outros, eu... existimos em Deus, não isoladamente, não paralelamen-te, não superpostos... “Nossa vida está escondida com Cristo em Deus”, diz S. Paulo.

Ele é o Elo que perpassa todos os seres, divinizando-os, interligando-os, favorecendo a relação, a vida, a comunhão... rumo a horizontes cada vez mais abertos.

É a partir desse pano de fundo que podemos compreender o significado da expressão “as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o ser humano...” (EE. 23).

Nesse sentido, espiritualidade inaciana, na perspectiva ecológica, se opõe ao utilitarismo e à depreda-ção da natureza. Ela não é vista como sendo uma mediação criada só para servir ao ser humano, mas também como lugar e meio para “louvar, reverenciar e servir o Criador”.

Sendo “criado e criativo”, o ser humano denuncia a destruição e morte da vida da natureza e dos seus irmãos, e anuncia um Reino de vida e de harmonia entre todas as criaturas.

Ele acolhe o dom da presença divina através de uma resposta oblativa e contemplativa e nunca como explorador que usa e abusa das criaturas.

É esta a “experiência mística” que brota da relação com as criaturas; mergulha-se diante da beleza da natureza até o coração do cosmos, sentindo pulsar aí uma vida maior.
Por isso a mística inaciana nos ajuda a superar as dicotomias na busca da unidade e da totalidade: ciência e mística, mundo físico e espiritual, corpo e espírito, céu e terra... tudo se encontra em profunda harmonia e em íntima intercomunicação.

Tal experiência nos propicia uma fecunda mística cósmico-ecológica. Sentimo-nos conduzidos pela força do Espírito que alimenta as energias do universo e a nossa própria energia vital e espiritual.

Pertencemos à Terra; somos filhos e filhas da Terra. O ser humano vem de húmus. Temos Terra dentro de nós: somos formados com as mesmas energias, com os mesmos elementos físico-químicos dentro da mesma rede de relações de tudo com tudo. “Somos Terra” que pensa, sente, canta, ama e abre-se ao Criador. Daqui brota uma atitude contemplativa na qual o belo, o fascinante e o diferente cativam os nossos olhos, enchem o nosso coração de “exclamação de admiração com intenso afeto, disco-rrendo por todas as criaturas...” (EE. 60)

A experiência dos Exercícios Espirituais nos possibilita, portanto, “mergulhar os pés na terra”.

É na obscuridade da terra que a planta vai buscar a força que a manterá viva, que lhe dará condição de expandir sua copa em direção à imensidão do céu. As raízes mergulham na terra de modo profundo, silencioso e lento. No “chão”, à primeira vista, estão todas as sujeiras, os detritos e as coisas em decomposição. Mas, para as raízes, tudo isso significa a origem da vida.

Na experiência espiritual nos é pedido que mergulhemos no “chão da vida”, como as raízes na obscuri-dade, na presen

3º domingo da Quaresma

Textos:
Êxodo 17,3-7
Salmo 94,1-2.6-9
Romanos 5,1-2.5-8
João 4,5-42.

Água é vida. Quando os astrônomos buscam pelas galáxias planetas capazes de vida, verificam a massa do planeta e da estrela-sol, a distância entre eles, a rotação e translação, para verem se é possível água liquida em abundância. Para o povo da Bíblia, água era mais fundamental, por ser escassa. Nós no Brasil não temos a experiência daqueles povos. Mesmo no sertão nordestino, o problema não é falta, é irregularidade. Assim que a solução apontada tem sido o armazenamento distribuído da água abundante de chuva em milhares de cisternas domésticas. Mas em Israel, o problema tem sido quantidade. O Israel moderno pós-1948, com técnicos formados nas melhores universidades do Ocidente, equacionou o problema em grande parte com água do mar dessalinizada. Para o povo da Bíblia, a associação entre água e vida é mais imediata que para nós, mexe mais com emoções.

O povo de Israel no deserto do Sinai protesta contra Moisés por causa das condições duras de nômades em região árida. Em passagem próxima da de hoje, diz: " melhor ser escravo dos egípcios, que morrer no deserto ". A liberdade e a vida a mais são desconfortáveis, às vezes. "Massa" e "Meriba" querem dizer "dissidência, divergência" e "provocação, protesto mal-humorado". Moisés deu este nome àquele lugar. "Fechar o coração" é ficar de mau humor a ponto de agir irracionalmente, bloquear-se afetivamente numa atitude. O que pode ser engraçadinho como no menino pirracento de quem a mãe diz " ah, deixa: quando resolver, ele merenda " e ele contrariado: " eu num resóvo !". Mas em adultos pode ser sério, porque se prejudicam com isso. Na cultura bíblica, "coração" é o que nos "guia" na vida, nos dá o para onde e o como estaremos indo. O que em parte em nossa cultura ocidental é papel do "cérebro", da "cabeça". Mas mesmo em nossas línguas a dimensão "condutiva" do coração aparece (por exemplo) em "coragem", que se deriva de "coração", da mesma raiz. "Fechar o coração" não deixa ir adiante.

Paulo diz aos romanos (e a nós) que a esperança não decepciona. O fundamento da esperança em termos de nossa realidade profunda é o Espírito Santo agindo em nós: é uma ação real, suave, faz parte da vida participada da Trindade que Ele instaura em nós. O fundamento da esperança em nossa visão das coisas, em nossa subjetividade, é o amor sem limites com que Deus nos amou. Jesus morreu por nós. Noite destas vi no jornal da TV pessoas entrevistadas na rua em São Paulo, sobre os técnicos japoneses que arriscavam a vida para reduzirem o vazamento radioativo em Fukushima. Vários elogiavam e diziam que era admirável, mas não seriam capazes de atitude assim. Mas um homem disse que algo assim não se justificava em caso algum, "nem para salvar um filho, quanto mais estranhos". Não deixa de ser um pouco decepcionante: pagãos formados na ética samurai de amor profundo e efetivo a seu povo (japonês) são capazes do que parece inaceitável a gente num país que se diz cristão.

Jesus Cristo é surpreendente e desconcertante. Sobretudo para meios muito piedosos e morais, ele é desconcertante.

Os rabis não falavam a mulheres sobre a Lei, sobre Javé, sobre vida no espírito. Com as da família, falavam de assuntos domésticos. Na sinagoga, as mulheres ocupavam bancada própria e os rabis ostensivamente não se dirigiam a elas, ignoravam-nas voltados para os homens. Jesus fala de Javé, de adoração em espírito e verdade, de vida no espírito a uma mulher. Os discípulos se espantam de que esteja conversando com ela. Engraçado, vocês não acham? A esta altura, ele tinha discípulas . Eles sabiam disto e quem eram .

Esta é samaritana. Sabem que no tempo do neto de Davi dez tribos romperam com ele e formaram reino à parte. A família de Davi reinou sobre o Sul, o reino de Judá. O norte era reino de Efraim, que os outros povos ao redor chamavam de "Israel". Dos dois lados, por séculos, muita gente misturou a adoração de Javé com os cultos dos deuses pagãos, porém ainda mais no Norte. Josias conseguiu por uns anos cerzir a unidade do tempo de Davi. Mas veio o segundo exílio (quando os caldeus destruíram Judá). Quando o rei da Pérsia derrotou a Caldéia e apoiou a volta dos israelitas a sua terra, os de Judá tinham conservado certa unidade e raízes; lideraram a volta e a reconstrução. Os do norte estavam muito misturados (por casamentos, por cultura) com gente de outros povos. Neste tempo se escrevem (no Sul) livros como Rute (" gente, a avó de Davi era moabita! ") e Jonas (" se assírios se convertem, Javé os perdoa! "); mas o purismo religioso (e nacional) venceu. Os samaritanos quiseram ajudar a reconstruir o Templo em Jerusalém, mas os donos da pureza religiosa não deixaram. Esta rejeição lascou de vez o racha e a vaca da separação foi inarredavelmente para o brejo. Irmãos rejeitados e renegados se odeiam pior do que estranhos hostis. A própria mulher objeta a Jesus, " Como tu, judeu, pedes água a mim, samaritana? ". Ela levanta a discussão, se "o certo" é adorar Javé no Garizim, onde "nosso pai" Jacó (meu e teu!) levantou um monumento de louvor a Javé, ou nesse Templo de Salomão em Jerusalém.

E mais. Esta mulher não é assim o exemplo que mães zelosas citariam a suas filhas mocinhas, no item (bom) comportamento sexual. Ela tem de buscar água ao meio dia (o usual era ao amanhecer ou depois do pôr do sol) porque as mulheres de Sicar a discriminam e marginalizam. Vocês adivinham, por que o mulherio sicarenho tem raiva dela? É verdade que os cinco homens que teve e o que não é dela agora, remetem simbolicamente à confusão religiosa sincrética da Samaria. Ela vai ser símbolo de seu povo, acolhido com afeto por Jesus do jeito que é, para ser ajudado a se libertar e viver melhor nos planos de Deus.

Jesus tem uma preferência - ideológica no melhor sentido - por quem está "por fora" e "por baixo". É muito desconcertante.

Instituto Nª. Sª. do Brasil (INOSEB) e
Capela Nª. Sª. dos Navegantes
Varjão DF

Quinta-feira do 2 Domingo da Quaresma

O tema das riquezas leva a Lucas a inserir, no seu evangelho, a parábola do rico esbanjador e do pobre sofredor. Lucas serve-se da versão de um conto egípcio, copiado na Palestina por judeus que moravam na Alexandria, onde o conto era muito conhecido. Foi Jesus quem a usou? É possível!.

A descrição do conto é minuciosa onde entram detalhes irreais (v. 20-24). Destacados, por Lucas, para conseguir melhor a finalidade do tema.. Trata-se de uma parábola. A finalidade dela é expressa no contraste das duas personagens: o pobre e o rico; duas sortes distintas: o rico, na terra, goza e, depois pena; o pobre, na terra pena, depois goza.

A finalidade da parábola oferece duas hipóteses: 1) Trata-se de expressar, apenas, a possibilidade de que o rico possa condenar-se, dado que as riquezas não garantem a salvação? A mentalidade do AT. supunha que as riquezas eram bênção de Deus dada por uma conduta reta; assim pensavam os fariseus; enquanto acreditavam que a pobreza era uma maldição de Deus.

Trata-se do resultado, apenas, do mau uso das riquezas que levam à maldição de Deus? Enquanto, que o pobre, por ser pobre ,”aní ”, submisso à vontade de Deus, se salva?

Na parábola, não se fala da possibilidade; trata-se de um fato: condenação ou salvação. A condenação supõe o uso errado das riquezas, pois elas, por si mesmas, nem são boas e nem más; tudo depende do uso que se fizer delas. Igualmente, a pobreza nem é má e nem é boa; depende da atitude assumida diante dela. Nesta parábola, não se fala somente da possibilidade de que, no outro mundo, se mude a sorte dos ricos e dos pobres, mentalidade do A.T., mas se trata da possibilidade da condenação pelo mau uso delas e a salvação pela resignação diante de pobreza.
Esta parábola é o mais belo detalhe dos ensinamentos do Senhor: “Bem-aventurados os pobres”. (Lc 6,20).

Um outro elemento doutrinal que aparece na parábola é o grande valor dado ao testemunho de Moisés e dos profetas (v.13). sobre a existência das sortes distintas no “sheol ”. Com relação à existência de outra vida, além desta, estaria indigitando os saduceus que negavam a vida eterna.
O nome de Lázaro é abreviatura de Eleazar e significa: “ Deus ajuda ”. Versões posteriores, dão-se ao rico os nomes de “ ninive ” ou “ Fineas ”. (v. 20).

O seio de Abraão está expresso na literatura extra-bíblica. Mais do que indicar o lugar onde moram as almas dos justos, é o estado afetivo da alma em que se encontram os crentes. “ Lázaro foi levado pelos anjos ”. A literatura rabínica afirma, em diversas passagens, que no paraíso só entravam os que eram levados pelos anjos (v.22).

“ O rico foi sepultado ” (v.23). A tradução “ sepultus est in inferno ” da Vulgata não é exata. “No inferno ele levanto os olhos e viu a Abraão” . É o “ sheol ”, nesta época, inferno dos condenados e que Lucas traduz como estados próximos, onde podem ver-se e falar-se; a possibilidade aumenta o sofrimento dos condenados (4 Esd 7,85-93; Henoc 9,13). É o que insinuam os elementos descritivos da parábola.

As regiões são infranqueáveis; “ Há, entre elas, um abismo. Não é possível passar de um lugar ao outro ”. Refere-se à eternidade dos destinos (vv.26 e 23).

” O rico foi condenado e pede a Abraão, que preside a mansão dos justos, que envie a Lázaro a seus irmãos para que corrijam seu comportamento e não venham cair neste abismo ” (v 27-31); a resposta é negativa: “eles têm Moisés e aos profetas, que ouvem nas sinagogas; seus irmãos sabem o que tem que fazer para não vir ao inferno ”. Nem fariam caso a um morto que lhes viesse a avisar. Pensariam ser um fantasma, como pensavam de Jesus ressuscitado. O que pensavam os saduceus das ressurreições que Cristo fez na sua vida? No fundo, não está o problema em avisos extraordinários, mas na atitude moral de cada dia. Eles já acreditam no que Deus exige para salvar-se: Cumprir o que Moisés e os profetas afirmam.

Comentaristas acham que a parábola responde a uma situação de “crise ” da primeira comunidade cristã que acreditava na vinda iminente do Senhor, Jesus. A acentuação, no segundo ponto da parábola, (vv.27-31) era a urgência de que os cinco irmãos assumissem uma atitude decisiva de modificar sua conduta para escapar da condenação eterna. O que podemos esperar do mau uso das riquezas? O que podemos esperar do bom uso da pobreza? Ficha limpa ou ficha suja. Também vale na eternidade.

Pe. Victoriano Baquero,sj.

Homilia - 1° Dom. - Quaresma

A vida está cheia de provas. Superá-las é vontade do Pai.
Os primeiros pais tiveram provas (Dt 11,18ss). Os judeus tiveram provas; Jesus teve provas, os primeiros cristãos tiveram provas. Nós temos provas, mas podemos vencer.

É um fato que Jesus foi posto a duras provas na sua vida. Os adversários lhe exigiam que realizasse sinais espetaculares que provassem seu messianismo. Queriam forçá-lo a tomar o caminho da ostentação; torná-lo rei poderoso. Insistente era o apelo sedutor das esperanças populares, cristalizadas no movimento político dos zelotas. Esperava-se um militar poderoso contra a opressão estrangeira e conquista do mundo. O ápice da prova foi representado pela tentativa de Pedro de desviar Jesus do projeto de subir a Jerusalém, cidade da paixão e morte (Mt 16,21-22). Para Jesus essa tentativa era uma sugestão diabólica visando desviá-lo de missão salvadora. Deus o tinha escolhido e enviado como Messias, mas na linha do servo sofredor (Rm 5,12-19) Tratava-se agora de mostrar sua fidelidade ao Pai ou ceder às tentações do poder e da glória. Resistiu aos chefes dos judeus, ao povo e aos discípulos. A Pedro replicou: “Longe de mim, Satanás” (Mt 16,23). Desiludiu o povo indo à crucifixão. Realizou a vontade do Pai. Escolheu ser Filho de Deus privado de poder, débil e frágil.

A Comunidade cristã primitiva estava em situação parecida à de Jesus. O movimento zelota, ano sessenta, desencadeia uma guerra contra os romanos. Os cristãos se interrogavam: O que fazer? Refletindo sobre Cristo nas tentações do deserto, concluíram ser tentação diabólica entrar na onda da violência. A Igreja nascente não tomou parte nesta sublevação. Para ajudar os novos cristãos a assumir a atitude de Jesus, criou-se o relato das tentações de Jesus. Como Jesus agiu, assim os cristãos deviam agir. O que Jesus experimentou, na sua vida pública, foi formalizado e ligado à tradição histórica de sua permanência no deserto, que, na tradição, significava o lugar da preparação para uma missão divina. O confronto com a opinião pública, luta contra Satanás, desenhou a experiência de Jesus: efeito dramático, e expressivo de um profundo significado oculto atrás dos movimentos de massa. Preparou-se um diálogo fechado entre o tentador e Cristo, precisamente, uma disputa feita na base de textos bíblicos. Um midrash.

As esperanças messiânicas evoluíam na base do Êxodo, do Templo e da mentalidade do tempo As tentações eram uma repetição das tentações do povo na travessia pelo deserto, 40 anos, Jesus 40 dias.. Contra a tentação de converter as pedras em pães: resposta: “Não só de pão vive o homem, mas da palavra de Deus”. Mt 8,3). Contra atirar-se do pináculo do Templo: “Não tentarás ao Senhor teu Deus” (Mt 6,13). E contra a tentação da adoração para receber todo o poder sobre as nações: “Só a Deus adorarás e só a ele servirás” (Mt 6,16). O modo de Jesus cortar as tentações era fechar o diálogo com citação da palavra. Deus e: Pronto!

Nós estamos tentados da mesma forma: O mundo moderno quer fazer o milagre de industrializar a terra em pão para enriquecer-se; Quer o malabarismo dos feitos mirabolantes, ir à Lua, Vênus, etc. e o mundo um bilhão morrendo de fome. O domínio das armas sofisticadas para dominar o mundo. Bomba atômica. Ele mesmo se vai destruir. Deus não precisa fazer coisa de estardalhaço. Nós mesmos estamos destruindo a mãe terra. A Campanha da Fraternidade nos está alertando sobre a destruição do planeta terra. Aprendamos de Jesus e dos primeiros cristãos a eliminar os caminhos da destruição e seguirmos o Caminho da Verdade da Vida e da paz que Jesus nos ensinou, Amém.

Pe. Victoriano Baquero, sj.

João Paulo, santo

Dom Aldo Pagotto
Arcebispo Metropolitano da Paraíba - PB


A bênção, João de Deus! Seis anos se passaram de sua partida, após 26 anos de serviço incansável à humanidade, na tentativa de reconstrução da civilização cristã. João Paulo II foi um líder espiritual reconhecido mundialmente pelo seu estilo ecumênico, aberto à colaboração para a superação dos males sociais que ameaçam a vida das pessoas e dos povos. Preposto à Igreja que tanto amou, dispôs-se a edificar a civilização do amor, da justiça e da paz entre os povos.

Sua intuição sobre a missão específica da Igreja no mundo moderno foi de serviçal humanitária, não de instituição mantenedora de um poder temporal, reprodutora de esquemas de defesa e engrandecimento de si mesma. Seu ardor missionário codifica nas inúmeras viagens pelas terras próximas e longínquas. Voltava-se ao diálogo entre a razão e a fé, entre as filosofias filhas da pós-modernidade e as novas formas de manifestação de espiritualidade e estilos místicos característicos da pluralidade hodierna.

Foi do agrado do Pai confiar ao dileto pastor os desígnios misteriosos de transformação histórica. Karol Wojtila viveu os transtornos deletérios do nazismo sucedido pelo comunismo. Com seu povo viveu na própria pele as contradições dos regimes totalitários, que se julgaram acima da liberdade inalienável dos seres humanos. Esses regimes de governo fracassaram, após a dizimação de milhares de pessoas, famílias, povos, culturas.

Os horrores da guerra favoreceram a formação do caráter do varão resistente ao ódio e às lutas fratricidas, baseadas em ideologias que servem tão somente para desconstruir e desestabilizar a pessoa e a sociedade.

Ele dedicou toda a sua vida à regeneração do tecido social em base à instituição familiar. Seus ensinos e práticas contemplam as dimensões pertinentes à identidade, vida e missão da Igreja, como se ampliam às bases constitutivas da vida e da sociedade, com forte acento no humanismo cristão.

Seu programa apostólico desenvolveu-se em função da verdade sobre Jesus Cristo, sobre a Igreja e sobre o homem. Seu lema “totus tuus” refere-se ao sentimento de filial pertença a Maria, Mãe de Jesus, sublinhando o que sempre viveu, ou seja, a ternura maternal com a firmeza indomável do apóstolo da fé e da justiça. A trajetória de João de Deus é perscrutada, analisada, comentada por cientistas, historiadores, políticos, antropólogos, sociólogos, espiritualistas.

João de Deus é respeitado e admirado não apenas por católicos, mas por representantes dos povos e dos mais variados segmentos da sociedade. Tido como uma espécie de conselheiro experiente, todos enxergam nele os misteriosos desígnios de Deus. Como um profeta da verdade, incomodou e continuará a desinstalar a muitos de suas certezas particulares.

João Paulo II se comprometeu com a formação de lideranças para enfrentar a mudança de época histórica, em curso. Exercia um fascínio inexplicável sobre pessoas e multidões. Seu segredo? Amar de verdade.

João de Deus inovou com seus braços abertos a crianças e pessoas idosas, afagando-as, beijando o chão das terras em suas inúmeras visitas. Para ele não há estrangeiro. Amou a pátria de todos como a sua (Polônia). Deus o dotou de dons inestimáveis. João de Deus é santo porque obrou o milagre de levar as pessoas a acreditarem na força transformadora do amor do Pai.

Exercícios Quaresmais

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte - MG


Os exercícios quaresmais, na vivência litúrgica que a Igreja Católica oferece como preparação para a celebração da Páscoa do Senhor Jesus, o Salvador do mundo, são riquezas de um caminho que constituem uma das páginas insubstituíveis na qualificação da vida de todos. Esses exercícios trazem consequências e resultados mais fecundos na participação de cada pessoa na grande teia da cidadania, que cada um, em conjunto com outros, ajuda a tecer e manter. Exercícios que conquistam a saúde do corpo são indispensáveis, essa demanda gera na atualidade uma verdadeira indústria de serviços, que traz benefícios variados para além da questão estética, muitas vezes buscada de maneira superficial na velocidade efêmera da vida que passa. É preciso também o suporte e a articulação com o que tece e sustenta a interioridade, o que está na mente e no coração. Com o que eiva a constituição cerebral de cada um com entendimentos, sentimentos e vivências. Propriedades de alimentar as transmissões que ali se operam para garantir, além do bem estar, uma postura qualificada e madura diante da vida e na condução cotidiana.

Saúde não é apenas condição física. A interioridade é coluna mestra que a sustenta, uma coordenação articulada de energias e a constituição de vínculos e ligações que abrem a vida para a transcendência, para o infinito do amor de Deus. E, também, para cada outro, dando sentido ao viver, ao serviço que se presta e ao gosto de amar e comprometer-se com a vida de todos. Os exercícios quaresmais, na bimilenar tradição espiritual e litúrgica da Igreja Católica, à medida que são seguidos e vivenciados, propiciam conquistas que não se alcançam por outros caminhos e metodologias. Especial menção merece a busca da própria identidade e dos valores pessoais, pois ela alimenta a consistência indispensável enquanto constituição da fonte que sustenta o viver a cada dia, não permite perder o rumo da vida. Trata-se de uma qualificação da existência que faz das pessoas um instrumento da paz, em razão da profunda ligação e intimidade cultivadas com o Senhor Único da vida. Nada é mais precioso!

No Sermão da Montanha, o evangelista Mateus (capítulos 5 a 7) relata regras de ouro que Jesus ensina aos seus discípulos, em vista de uma vida qualificada e vivida com gosto e proveito. O Mestre inclui na dinâmica dos exercícios que qualificam o discípulo a indicação da prática da esmola, da oração e do jejum. Na verdade, Jesus não propõe a prática de simples gestos descomprometidos. A esmola, mais do que a disponibilização do supérfluo, como muitas vezes se entende e pratica, aponta como significação o compromisso com a vida de todos - especialmente a dos pobres e dos miseráveis. Esse comprometimento implica uma compreensão da realidade que gera posturas cidadãs para traduzi-las em empenhos com causas e projetos. Define prioridades e dá, a quem se dispõe, a condição de porta-voz para fazer valer o direito de todos e a cabível opção preferencial pelos que precisam mais. A esmola é um gesto de partilha localizado na atitude de quem compreende seu compromisso de defender a vida, de forma incondicional, em todas as suas etapas, e trabalhar sem descanso para promovê-la. Suscita uma visão social e política da mais alta qualidade por colocar à luz da presença de Deus, o outro, particularmente o pobre, que não tem o necessário, é enfermo, excluído ou sofredor, como centro de preocupações e de reverências.

Jesus inclui, ainda, na dinâmica desse exercício de qualificação da existência e do dom da vida, o jejum. Certamente parece obsoleta essa atitude, num tempo de tanta fartura, de desperdícios, contracenando com um mundo de pelo menos um bilhão de famintos. Jejuar é um exercício de correção de costumes e hábitos que nos levam a tratar o alimento com respeito, nos motiva a repartir nosso bocado com quem tem fome, superando a gula que despersonaliza e fomenta irracionalidades. É ainda um exercício que dá a temperança indispensável para não cairmos nos exageros da corrupção, dos apegos nascidos da voracidade que põem o indivíduo diante das coisas e dos bens.

Na riqueza das considerações possíveis das muitas vivências dos exercícios quaresmais há um verdadeiro tratado de ciência do bem viver e de qualificação da existência, que repercute na vida: a importante prática da oração. Essa indicação sábia de mestre a discípulos já foi pensada como hábito piegas. Aberturas e interesses por milenares práticas meditativas são sinais de que a cultura ocidental precisa e pode revisitar os tesouros de sua herança cristã, de modo a entendê-la, como no dizer de um autor do século quarto: “a oração é a luz da alma”. E adorná-la com modéstia e a luz resplandecente da justiça, temperando a conduta do orante com o sal do amor de Deus.

Em defesa do Bom Pastor

Dom Aloísio Roque Oppermann scj
Arcebispo de Uberaba - MG


Em certa ocasião, um grupo de políticos católicos, na esteira da ideologia de seu partido, me pediu que, na Igreja, parássemos de falar em “pastor”, “rebanho”, “ovelhas”, pois isso se tinha tornado uma conversa desagradável aos ouvidos modernos. Levando em consideração o singular pedido, fiquei analisando por que tal idéia estava despertando neles tanta resistência. Cheguei à conclusão de que se trata de um enorme equívoco. As palavras generosas, brotadas dos lábios de Jesus, foram abordadas em outra chave de leitura, e não no seu sentido original, altamente simpáticas. “Eu sou o bom Pastor e conheço as minhas ovelhas” (Jo 10,11). Qual é o falso pressuposto dessa linda figura do Pastor? Veja a minha leitura.

Está suposto – sempre na idéia deles - que essa parábola transmite a idéia de que o povo ficaria reduzido à condição infantil; que esta imagem traria contexto da roça, e nós somos do meio urbano; que a obediência despersonaliza e mata a iniciativa; que o rebanho é levado para um destino bucólico de paz, de estagnação, e não de moderna luta; que essa imagem levaria a não ter iniciativa; ela realçaria demais a dependência do chefe e a identificação com ele; traria uma fatal dependência do grupo, totalmente sem fantasia e sem vontade própria. Mas ao contrário, acho essa figura muito linda e respeitável. Quem procurar entender bem, saberá que a idéia se desenvolve num ambiente sumamente positivo. Jesus mostrou que a obediência não despersonaliza, mas faz crescer, como Ele fez diante do Pai. “Embora sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente” (Hb 5, 8). A parábola ensina que as ovelhas seguem o Bom Pastor. Portanto são livres, e não tangidas contra a vontade. A ovelha é um animal frágil, fácil presa de lobos. O ser humano precisa da proteção de alguém mais forte, que o liberte das garras dos malvados. Jesus é o protótipo da ternura, E tem relações sumamente amistosas para com seus seguidores, e não de domínio. Ademais, por nada deste mundo vamos deixar de lado essa linda idéia do Pastor, porque ela tem raízes no Primeiro Testamento (veja o Sl 22), e sobretudo no Novo. Prefiro a Bíblia a qualquer eventual cartilha de grupos particulares. Diante da alergia de alguns poucos, vamos abandonar a praxe de 20 séculos de arte, de músicas, pinturas e de rica teologia?

Papa envia mensagem ao povo do Rio de Janeiro e se diz consternado com atentado contra crianças .


O papa Bento XVI enviou um telegrama, na manhã de hoje, 8, ao arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta, no qual se diz “profundamente consternado pelo dramático atentado realizado contra crianças indefesas”, no bairro de Realengo (RJ). O telegrama foi enviado por meio do secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone.

Segundo o cardeal, o papa convida todos os cariocas, diante desta tragédia, a dizer não à violência que “constitui caminho sem futuro, procurando construir uma sociedade fundada sobre a justiça e o respeito pelas pessoas, sobretudo os mais fracos e indefesos”, disse.

No final da mensagem o papa concede a todo o povo brasileiro a sua Benção Apostólica.

No mesmo telegrama, o núncio apostólico no Brasil, dom Lorenzo Baldisseri, diz estar unido à dor dos que perderam parentes e amigos e manda uma mensagem ao arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani.

“Uno às palavras do cardeal Tarcisio Bertone, à minha fervente oração a Deus Todo poderoso e rico em misericórdia, nesta circunstância tão dolorosa na sua arquidiocese”, disse dom Lorenzo.

Leia a íntegra da mensagem abaixo:

Excelência Reverendíssima

Cumpro o dever de transmitir a Vossa Excelência, o telegrama de Sua Eminência o cardeal Tarcício Bertone, Secretário de Estado:

Exmo Revmo Dom Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

Profundamente consternado pelo dramático atentado realizado contra crianças indefesas em um colégio municipal no bairro do Realengo, o Sumo Pontífice deseja assegurar através de Vossa Excelência Revma sua solidariedade e conforto espiritual às famílias que perderam seus filhos e toda a comunidade escolar, com votos de pronta recuperação dos feridos.

O Santo Padre convida todos os cariocas, diante desta tragédia, a dizer não à violência que constitui caminho sem futuro, procurando construir uma sociedade fundada sobre a justiça e o respeito pelas pessoas, sobretudo os mais fracos e indefesos.

Em nome de Deus, para que a esperança não esmoreça nesta hora de prova e faça prevalecer o perdão e o amor sobre o ódio e a vingança, Sua Santidade Papa Bento XVI concede-lhes uma confortadora bênção apostólica.

Cardeal Tarcísio Bertone
Secretário de Estado de Sua Santidade

Uno às palavras do Cardeal, minha fervente oração a Deus Todo poderoso e rico em misericórdia, nesta circunstância tão dolorosa na sua Arquidiocese.

Aproveito o ensejo para expressar meus sentimentos de alta estima.

Dom Lorenzo Baldisseri
Núncio Apostólico

João Paulo II, missionário contemplativo, diz Bento XVI

Palavras ao ver o documentário “Peregrino vestido de branco”



João Paulo II não foi só um missionário, segundo afirma Bento XVI. Seu zelo apostólico explica-se graças à oração, acrescenta seu sucessor e próximo colaborador durante mais de duas décadas.

O Papa traçou um breve e pessoal perfil de Karol Wojtyla ao participar da exibição do documentário “Peregrino vestido de branco” (http://www.jp2szukalemwas.pl), dirigido pelo diretor polonês Jarosław Szmidt, considerado uma das maiores produções da história dos documentários poloneses.

Na exibição, o bispo de Roma sublinhou “os dois pilares” da vida e ministério do futuro beato: “a oração e o zelo missionário”.

“João Paulo II foi um grande contemplativo e um grande apóstolo de Cristo. Deus o escolheu para a sede de Pedro e o preservou durante anos para introduzir a Igreja no terceiro milênio”, afirmou, em referência a palavras que o cardeal Stefan Wyszyński, primaz da Polônia, que, no momento da eleição do pontífice polonês, disse-lhe: ‘A te far entrare la Chiesa nel Terzo Millennio’.

“Com seu exemplo, guiou-nos nesta peregrinação, e agora segue nos acompanhando do céu”, afirmou Bento XVI, que recordou as palavras dirigidas na homilia do funeral de João Paulo II.

Naquele 8 de abril de 2005, o cardeal Joseph Ratzinger disse: "Nenhum de nós poderá esquecer que no último domingo de Páscoa de sua vida, o Santo Padre, marcado pelo sofrimento, foi até a janela do Palácio Apostólico Vaticano e deu a bênção ‘Urbi et Orbi’ pela última vez. Podemos estar seguros de que nosso amado Papa está agora na janela da casa do Pai, nos vê e abençoa. Sim, abençoe-nos, Santo Padre”.

“Peregrino vestido de branco” é uma produção que durou quase 4 anos, realizada em 12 países de 4 continentes. Mais de 50 pessoas foram entrevistadas.

Monsenhor Slawomir Oder, postulador da causa de beatificação de João Paulo II, disse que o documentário é “uma ilustração do que surgiu no processo de beatificação”.

Mais informação sobre o documentário em: http://www.h2onews.org/espanol/66-santa-sede/224448107-nuevo-documental-sobre-juan-pablo-ii.html

2011/04/11

Filme: The Passion Of The Christ

Filme: Damião O Santo de Molokai

Filme: O MIlagre

Filme: PATMOS- A ILHA DO APOCALIPSE

Vocação a Serviço da Vida



Pe. Toninho, Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe. Ourinhos SP.

VIII Jornada Vocacional da Arquidiocese de Brasília



Dia 15 de Maio de 2011Local: Centro Educacional Católica - Taguatinga Norte DF

Inácio, o místico pragmático

É tarefa árdua falar em poucas palavras sobre uma pessoa que admiramos. Já foi dito alguma vez que Inácio de Loyola é o tipo de santo que a gente demora a conhecer, mas conforme o vamos descobrindo ele vai nos conquistando até chegar a nos cativar. Isto aconteceu comigo. Vou trazer para vocês a frase com que um jesuíta anônimo resumiu o espírito do santo, no ano de 1640, quando se comemorava o primeiro centenário da fundação da Companhia de Jesus. Non coerceri a maximo, contineri tamen a minimo, hoc divinum est. Traduzido seria algo assim como: não ter limites nas coisas grandes dando atenção às mais pequenas é algo divino. Em outras palavras, é admirável a pessoa que sonha alto, porém, se mantém capaz de dar atenção ao mais pequeno.

Esta é uma caraterística típica do caráter, da espiritualidade e da obra de Inácio de Loyola. Temperamento, educação e circunstâncias da vida moldaram seu modo de ser. No que diz respeito à sua espiritualidade basta observar como, na sua apresentação da contemplação da Encarnação de Jesus, ele desce do universal ao particular, isto é, das alturas da Trindade até o ponto concreto da pequena Nazaré. Contemplando as três pessoas divinas, Inácio nos convida a ver as pessoas humanas, “umas após outras, na face da Terra, em tanta diversidade de roupas e de fisionomias, uns brancos, outros negros; uns em paz, outros em guerra; uns chorando, outros rindo; uns sãos, outros enfermos; uns nascendo, outros morrendo”. A Trindade decide salvar o gênero humano e, com Inácio descemos até um ponto concreto, Nazaré, onde encontramos uma jovem simples chamada Maria.

A vida de Inácio também está marcada por esta dupla visão ou contraste. O peregrino que sonhava percorrer o mundo, uma vez eleito superior geral da Ordem dos Jesuítas, passou os 16 anos que lhe restaram de vida no pequeno quarto de Roma, desde onde enviava e acompanhava seus companheiros missionários pelos caminhos da Europa, Índia ou Brasil.
O segredo desta visão universal unida ao senso da realidade concreta tem a sua última raiz na sua experiência de Deus. Estando o recém convertido Inácio dedicado à oração na cova de Manresa, ele teve um período de ilustrações que, conforme ele mesmo confidenciou no seu Relato do Peregrino, “entendia e conhecia muitas coisas, tanto em assuntos espirituais como nos de fé e letras e ... lhe pareciam todas coisas novas”; “lhe parecia como se fosse outro homem e tivesse outra inteligência e não a que tinha antes”. Foi esta luz recebida que lhe fez sentir como todas as coisas brotam de Deus como fonte e a ele estão chamadas de volta. Foi um contemplativo não só na oração, mas também na ação pois captou claramente, e sempre unidos, Deus e mundo, Criador e criatura, mostrando assim que, com olhar de fé, estamos chamados a encontrar Deus presente em todas as coisas, pessoas e situações. Um Deus sempre maior que habita em toda criatura, em cada um de nós trabalha, age e deseja se comunicar nos revelando seu amor.

Eu penso que Santo Inácio traz para nós, que vivemos num mundo tão fragmentado, uma mensagem de harmonia, de síntese e de comunhão. Como é importante hoje esse toque pessoal e gratuito no relacionamento humano familiar e profissional. Tirar a pessoa do anonimato, do utilitarismo e da rotina. Inácio une Deus e mundo; contemplação e ação; experiência pessoal e organização metódica; razão e afeto; obediência amorosa e liberdade. Não é por acaso que tantos companheiros de Inácio foram, ao mesmo tempo, homens de fé e dedicados estudiosos, cientistas, poetas e artistas. Mateus Ricci na China, José de Anchieta no Brasil, as Reduções do Paraguai, Teilhard de Chardin e os mártires de El Salvador são apenas alguns exemplos da herança inaciana. É que lá no fundo mais profundo do ser humano, cada um de nós comunga com o universo todo e com Alguém que está por trás dele
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Um Deus em busca do ser humano

“Desconhecer a Sagrada Escritura é desconhecer a Jesus Cristo” São Jerônimo.

Logo no início da Bíblia nos deparamos com a pergunta de Deus-Pai: “Adão onde estás”? (Gn 3,9) e na última página da Bíblia encontramos a oração na qual Cristo diz: “Eis que venho em breve” (Ap 22,7).
Entre estes dois extremos se desenvolve um longo caminho de uma humanidade que toma, progressivamente, consciência do amor de Deus. Neste itinerário podemos identificar 03 etapas principais.

1) A primeira é dominada pela pergunta de Deus. Tal pergunta envolve todo o Antigo Testamento, sublinhando a incansável busca do ser humano por parte de Deus. Deus convoca pessoas (Abraão, Isaac, Jacó); adota um povo inteiro, esse povo se revela incapaz de ser-lhe fiel; Deus então envia profetas para que denunciem com palavras e com a vida as incoerências do povo e o ajudem a reencontrar os horizontes que Deus reserva a todos os seus filhos.

2) Na segunda etapa, a pergunta “onde estás”? de Deus encontra sua expressão mais radical na vida de Jesus de Nazaré. Nele é o próprio Deus que se faz ser humano, padecendo nossas limitações. E o faz na condição de servo, Jesus se despoja de tudo e é elevado desnudo sobre uma cruz [1]. No Golgota, contemplamos um Deus totalmente desarmado abraçando toda a humanidade, estendendo a ela a dynamis (poder, milagre) da ressurreição.

3) A terceira etapa é, enfim, vivida pela humanidade renovada. Humanidade que vive e comunica o amor de Deus. Paulo, Pedro, Tiago, João com os seus escritos visam exprimir o eco de uma boa nova que enfrenta todos os obstáculos para alcançar todos os povos da terra.

A história da salvação perpassa páginas luminosas, mas também obscuras; personagens exemplares aparecem ao lado de outros nem tanto. Enfim, apresenta vicissitudes humanas nas quais ganha vida a paixão e a ternura de um Deus que é incansável na tarefa de buscar o ser humano.

Um álbum de família

A Bíblia pode ser comparada a um álbum de família [2] com recordações alegres, mas também tristes. Folheando a Bíblia se verifica diversos traços do rosto de Deus [3]:

O Deus artesão: inicialmente o ser humano bíblico pensa Deus de acordo com categorias antropomórficas (partindo sempre da experiência humana) [4]. A própria paz, o bem estar, a vitória sobre os inimigos são interpretados como prêmio a fidelidade à aliança, enquanto as derrotas, pelo contrário, são lidas como conseqüência da infidelidade e da desordem moral.

O pai que forma os seus filhos: é o anúncio dos profetas que iluminam a compreensão do rosto de Deus: ele é o amante apaixonado, o esposo ferido, a mãe que nutre, o pai que educa, o pastor que conduz, o vinhateiro paciente. A estas imagens se acrescem outras tiradas do mundo animal: a águia que protege o povo sobre suas asas, o leão em busca de presa...Lidas e meditadas à luz da experiência histórica vivida pelo povo, tais revelam um Deus que caminha com seu povo, com o rosto coberto de pó e sandálias gastas.

O pão repartido: A boa notícia de Jesus Cristo cai sobre este terreno predisposto, conduzindo uma revelação já iniciada, nessas imagens de Deus acima mencionadas, ao cumprimento. No Jardim do Golgota, lugar da morte e ressurreição de Jesus, Deus revela em plenitude o seu rosto.
“Sem o A. T., o N. T. seria um livro indecifrável, uma planta privada das suas raízes, destinada a secar-se” PCB 2001.


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4°. Dom. Quaresma

“Aquele que não se encontra com a natureza, dificilmente se encontrará consigo mesmo e com Deus”

“Pode parecer estranho que a figura de Inácio de Loyola tenha algo a nos dizer sobre ecologia.

A verdade é que a espiritualidade inaciana é muito mais integradora do que imaginamos. Inácio viveu e solidificou sua experiência de Deus de maneira unitiva, racional e afetiva. Sua relação com Deus e com a natureza se manifesta numa aplicação dos sentidos, da afetividade, como o olhar, o apalpar, o cheirar e o sentir, ajudando a interiorizar a sua experiência espiritual.

Pensar, viver e sentir os frutos espirituais só é possível numa visão de amor presente em todas as coisas. Trata-se de uma relação de amor em que não se pode separar o divino, o humano e o cósmico, pois Deus está presente em tudo e em todos” (Pe. Josafá Siqueira sj)

A experiência inaciana dos Exercícios desperta uma “atitude contemplativa” que nos impulsiona a buscar e encontrar Deus em todas as coisas da natureza e da vida humana. Para a pessoa que vive a experiência dos Exercícios, cada criatura torna-se uma revelação de Deus, uma faísca do Absoluto; tudo manifesta e revela o seu Amor; tudo pode ser lugar de encontro com o Criador.

A recomendação inaciana:“e sejam frequentemente exortados a procurar em todas as coisas a Deus nosso Senhor... amando-O em todas as coisas, e amando a todas n’Ele” (Const. 288) não significa frieza e distância da Criação, senão máximo respeito e cuidado para com as obras do Criador.
Para amar bem a todos e a tudo é preciso, antes, amar Alguém sobre todas as coisas. Pois bem, essa possibilidade é para S. Inácio fruto e manifestação da consolação divina.

Nesse sentido, a espiritualidade inaciana vai além de uma determinada experiência religiosa; ela se expressa como uma “atitude amorosa” para com a natureza e todas as criaturas.

O Universo inteiro é um imenso altar, no qual podemos contemplar a presença do Criador. A Natureza é sinfônica (harmonia de sons); estamos mergulhados num mundo formado por uma multiplicidade de notas, sons, sinais e mensagens diferentes. Formamos uma mesma realidade complexa, diversa e única. A Terra nos encanta e nos convida, constantemente, à admiração e ao cuidado.

A espiritualidade inaciana reconhece uma imanência de Deus no cosmos; há uma “divinização” do universo, enquanto Deus está presente nele. Deus está em tudo, tudo está em Deus. As criaturas existem e são sustentadas pela força criativa de Deus; Ele continua “trabalhando”, recriando, fazendo tudo novo.

A Criação, como dom recebido de Deus, situa-se no plano de uma “sacralidade” fundamental.

O Universo é um grande sacramento e se transforma no espaço e no lugar de manifestação da divin-dade. Tudo é sagrado; a Matéria é sagrada; a Natureza é espiritual, porque é Templo de Deus.
O sagrado invade todos as aspectos da vida e da criação. Todos os lugares da mãe-Terra pelos quais caminhados são “territórios sagrados”. Segundo a Bíblia, a Terra é um jardim onde Deus tem prazer em passear. E a primeira vocação do ser humano é a de ser jardineiro, pois recebeu do Criador a missão de cuidar e preservar o paraíso.

S. Inácio vê uma bondade e uma beleza presentes em todas as criaturas. O Amor se faz presença, se faz visível e se manifesta em cada detalhe da Criação. Tudo causa admiração e encantamento. Sentimos, estre-mecemos, vibramos, nos enternecemos, ficamos encantados com a Criação e sua insondável vitalidade.

“Ao ver uma planta, uma pequena erva, uma flor, uma fruta, um pequeno verme ou qualquer outro animal, S. Inácio contemplava e levantava os olhos aos céus, penetrando no mais interior e no mais remoto dos sentidos” (Pe. Ribadeneira).

S. Inácio considera Deus “habitando” nas criaturas, dando-lhes o ser, às plantas dando-lhes o cresci-mento, aos animais a sensação, aos seres humanos o entendimento (EE. 235)

Presença operativa e de amor, porque “Deus é amor”. E sendo amor, irradia vida, graça, dom...

Como tudo está ligado umbilicalmente a Deus, é a partir de Deus que encontramos o todo. Deus penetra no coração de cada coisa e cada coisa se encontra em Deus.

O horizonte da Criação, revelado pelo “Princípio e Fundamento” e pela “Contemplação para alcan-çar amor” suscita no exercitante uma atitude sabática de adoração.

De fato, na perspectiva bíblica, o ponto alto da Criação é o Sábado a partir do qual se entende a relação e a comunhão do ser humano com a natureza, numa atitude de permanente louvor (espanto, admiração diante da beleza da Criação e da presença divina que a conduz à plenitude).

O Princípio e Fundamento expressa, portanto, uma atitude espiritual ecológica.

Na Contemplação para alcançar amor, S. Inácio leva o exercitante a perceber a íntima presença de Deus na Criação. E dela decorre uma atitude de respeito, harmonia e sintonia.

As coisas, o mundo, a natureza, os outros, eu... existimos em Deus, não isoladamente, não paralelamen-te, não superpostos... “Nossa vida está escondida com Cristo em Deus”, diz S. Paulo.

Ele é o Elo que perpassa todos os seres, divinizando-os, interligando-os, favorecendo a relação, a vida, a comunhão... rumo a horizontes cada vez mais abertos.

É a partir desse pano de fundo que podemos compreender o significado da expressão “as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o ser humano...” (EE. 23).

Nesse sentido, espiritualidade inaciana, na perspectiva ecológica, se opõe ao utilitarismo e à depreda-ção da natureza. Ela não é vista como sendo uma mediação criada só para servir ao ser humano, mas também como lugar e meio para “louvar, reverenciar e servir o Criador”.

Sendo “criado e criativo”, o ser humano denuncia a destruição e morte da vida da natureza e dos seus irmãos, e anuncia um Reino de vida e de harmonia entre todas as criaturas.

Ele acolhe o dom da presença divina através de uma resposta oblativa e contemplativa e nunca como explorador que usa e abusa das criaturas.

É esta a “experiência mística” que brota da relação com as criaturas; mergulha-se diante da beleza da natureza até o coração do cosmos, sentindo pulsar aí uma vida maior.
Por isso a mística inaciana nos ajuda a superar as dicotomias na busca da unidade e da totalidade: ciência e mística, mundo físico e espiritual, corpo e espírito, céu e terra... tudo se encontra em profunda harmonia e em íntima intercomunicação.

Tal experiência nos propicia uma fecunda mística cósmico-ecológica. Sentimo-nos conduzidos pela força do Espírito que alimenta as energias do universo e a nossa própria energia vital e espiritual.

Pertencemos à Terra; somos filhos e filhas da Terra. O ser humano vem de húmus. Temos Terra dentro de nós: somos formados com as mesmas energias, com os mesmos elementos físico-químicos dentro da mesma rede de relações de tudo com tudo. “Somos Terra” que pensa, sente, canta, ama e abre-se ao Criador. Daqui brota uma atitude contemplativa na qual o belo, o fascinante e o diferente cativam os nossos olhos, enchem o nosso coração de “exclamação de admiração com intenso afeto, disco-rrendo por todas as criaturas...” (EE. 60)

A experiência dos Exercícios Espirituais nos possibilita, portanto, “mergulhar os pés na terra”.

É na obscuridade da terra que a planta vai buscar a força que a manterá viva, que lhe dará condição de expandir sua copa em direção à imensidão do céu. As raízes mergulham na terra de modo profundo, silencioso e lento. No “chão”, à primeira vista, estão todas as sujeiras, os detritos e as coisas em decomposição. Mas, para as raízes, tudo isso significa a origem da vida.

Na experiência espiritual nos é pedido que mergulhemos no “chão da vida”, como as raízes na obscuri-dade, na presen

3º domingo da Quaresma

Textos:
Êxodo 17,3-7
Salmo 94,1-2.6-9
Romanos 5,1-2.5-8
João 4,5-42.

Água é vida. Quando os astrônomos buscam pelas galáxias planetas capazes de vida, verificam a massa do planeta e da estrela-sol, a distância entre eles, a rotação e translação, para verem se é possível água liquida em abundância. Para o povo da Bíblia, água era mais fundamental, por ser escassa. Nós no Brasil não temos a experiência daqueles povos. Mesmo no sertão nordestino, o problema não é falta, é irregularidade. Assim que a solução apontada tem sido o armazenamento distribuído da água abundante de chuva em milhares de cisternas domésticas. Mas em Israel, o problema tem sido quantidade. O Israel moderno pós-1948, com técnicos formados nas melhores universidades do Ocidente, equacionou o problema em grande parte com água do mar dessalinizada. Para o povo da Bíblia, a associação entre água e vida é mais imediata que para nós, mexe mais com emoções.

O povo de Israel no deserto do Sinai protesta contra Moisés por causa das condições duras de nômades em região árida. Em passagem próxima da de hoje, diz: " melhor ser escravo dos egípcios, que morrer no deserto ". A liberdade e a vida a mais são desconfortáveis, às vezes. "Massa" e "Meriba" querem dizer "dissidência, divergência" e "provocação, protesto mal-humorado". Moisés deu este nome àquele lugar. "Fechar o coração" é ficar de mau humor a ponto de agir irracionalmente, bloquear-se afetivamente numa atitude. O que pode ser engraçadinho como no menino pirracento de quem a mãe diz " ah, deixa: quando resolver, ele merenda " e ele contrariado: " eu num resóvo !". Mas em adultos pode ser sério, porque se prejudicam com isso. Na cultura bíblica, "coração" é o que nos "guia" na vida, nos dá o para onde e o como estaremos indo. O que em parte em nossa cultura ocidental é papel do "cérebro", da "cabeça". Mas mesmo em nossas línguas a dimensão "condutiva" do coração aparece (por exemplo) em "coragem", que se deriva de "coração", da mesma raiz. "Fechar o coração" não deixa ir adiante.

Paulo diz aos romanos (e a nós) que a esperança não decepciona. O fundamento da esperança em termos de nossa realidade profunda é o Espírito Santo agindo em nós: é uma ação real, suave, faz parte da vida participada da Trindade que Ele instaura em nós. O fundamento da esperança em nossa visão das coisas, em nossa subjetividade, é o amor sem limites com que Deus nos amou. Jesus morreu por nós. Noite destas vi no jornal da TV pessoas entrevistadas na rua em São Paulo, sobre os técnicos japoneses que arriscavam a vida para reduzirem o vazamento radioativo em Fukushima. Vários elogiavam e diziam que era admirável, mas não seriam capazes de atitude assim. Mas um homem disse que algo assim não se justificava em caso algum, "nem para salvar um filho, quanto mais estranhos". Não deixa de ser um pouco decepcionante: pagãos formados na ética samurai de amor profundo e efetivo a seu povo (japonês) são capazes do que parece inaceitável a gente num país que se diz cristão.

Jesus Cristo é surpreendente e desconcertante. Sobretudo para meios muito piedosos e morais, ele é desconcertante.

Os rabis não falavam a mulheres sobre a Lei, sobre Javé, sobre vida no espírito. Com as da família, falavam de assuntos domésticos. Na sinagoga, as mulheres ocupavam bancada própria e os rabis ostensivamente não se dirigiam a elas, ignoravam-nas voltados para os homens. Jesus fala de Javé, de adoração em espírito e verdade, de vida no espírito a uma mulher. Os discípulos se espantam de que esteja conversando com ela. Engraçado, vocês não acham? A esta altura, ele tinha discípulas . Eles sabiam disto e quem eram .

Esta é samaritana. Sabem que no tempo do neto de Davi dez tribos romperam com ele e formaram reino à parte. A família de Davi reinou sobre o Sul, o reino de Judá. O norte era reino de Efraim, que os outros povos ao redor chamavam de "Israel". Dos dois lados, por séculos, muita gente misturou a adoração de Javé com os cultos dos deuses pagãos, porém ainda mais no Norte. Josias conseguiu por uns anos cerzir a unidade do tempo de Davi. Mas veio o segundo exílio (quando os caldeus destruíram Judá). Quando o rei da Pérsia derrotou a Caldéia e apoiou a volta dos israelitas a sua terra, os de Judá tinham conservado certa unidade e raízes; lideraram a volta e a reconstrução. Os do norte estavam muito misturados (por casamentos, por cultura) com gente de outros povos. Neste tempo se escrevem (no Sul) livros como Rute (" gente, a avó de Davi era moabita! ") e Jonas (" se assírios se convertem, Javé os perdoa! "); mas o purismo religioso (e nacional) venceu. Os samaritanos quiseram ajudar a reconstruir o Templo em Jerusalém, mas os donos da pureza religiosa não deixaram. Esta rejeição lascou de vez o racha e a vaca da separação foi inarredavelmente para o brejo. Irmãos rejeitados e renegados se odeiam pior do que estranhos hostis. A própria mulher objeta a Jesus, " Como tu, judeu, pedes água a mim, samaritana? ". Ela levanta a discussão, se "o certo" é adorar Javé no Garizim, onde "nosso pai" Jacó (meu e teu!) levantou um monumento de louvor a Javé, ou nesse Templo de Salomão em Jerusalém.

E mais. Esta mulher não é assim o exemplo que mães zelosas citariam a suas filhas mocinhas, no item (bom) comportamento sexual. Ela tem de buscar água ao meio dia (o usual era ao amanhecer ou depois do pôr do sol) porque as mulheres de Sicar a discriminam e marginalizam. Vocês adivinham, por que o mulherio sicarenho tem raiva dela? É verdade que os cinco homens que teve e o que não é dela agora, remetem simbolicamente à confusão religiosa sincrética da Samaria. Ela vai ser símbolo de seu povo, acolhido com afeto por Jesus do jeito que é, para ser ajudado a se libertar e viver melhor nos planos de Deus.

Jesus tem uma preferência - ideológica no melhor sentido - por quem está "por fora" e "por baixo". É muito desconcertante.

Instituto Nª. Sª. do Brasil (INOSEB) e
Capela Nª. Sª. dos Navegantes
Varjão DF

Quinta-feira do 2 Domingo da Quaresma

O tema das riquezas leva a Lucas a inserir, no seu evangelho, a parábola do rico esbanjador e do pobre sofredor. Lucas serve-se da versão de um conto egípcio, copiado na Palestina por judeus que moravam na Alexandria, onde o conto era muito conhecido. Foi Jesus quem a usou? É possível!.

A descrição do conto é minuciosa onde entram detalhes irreais (v. 20-24). Destacados, por Lucas, para conseguir melhor a finalidade do tema.. Trata-se de uma parábola. A finalidade dela é expressa no contraste das duas personagens: o pobre e o rico; duas sortes distintas: o rico, na terra, goza e, depois pena; o pobre, na terra pena, depois goza.

A finalidade da parábola oferece duas hipóteses: 1) Trata-se de expressar, apenas, a possibilidade de que o rico possa condenar-se, dado que as riquezas não garantem a salvação? A mentalidade do AT. supunha que as riquezas eram bênção de Deus dada por uma conduta reta; assim pensavam os fariseus; enquanto acreditavam que a pobreza era uma maldição de Deus.

Trata-se do resultado, apenas, do mau uso das riquezas que levam à maldição de Deus? Enquanto, que o pobre, por ser pobre ,”aní ”, submisso à vontade de Deus, se salva?

Na parábola, não se fala da possibilidade; trata-se de um fato: condenação ou salvação. A condenação supõe o uso errado das riquezas, pois elas, por si mesmas, nem são boas e nem más; tudo depende do uso que se fizer delas. Igualmente, a pobreza nem é má e nem é boa; depende da atitude assumida diante dela. Nesta parábola, não se fala somente da possibilidade de que, no outro mundo, se mude a sorte dos ricos e dos pobres, mentalidade do A.T., mas se trata da possibilidade da condenação pelo mau uso delas e a salvação pela resignação diante de pobreza.
Esta parábola é o mais belo detalhe dos ensinamentos do Senhor: “Bem-aventurados os pobres”. (Lc 6,20).

Um outro elemento doutrinal que aparece na parábola é o grande valor dado ao testemunho de Moisés e dos profetas (v.13). sobre a existência das sortes distintas no “sheol ”. Com relação à existência de outra vida, além desta, estaria indigitando os saduceus que negavam a vida eterna.
O nome de Lázaro é abreviatura de Eleazar e significa: “ Deus ajuda ”. Versões posteriores, dão-se ao rico os nomes de “ ninive ” ou “ Fineas ”. (v. 20).

O seio de Abraão está expresso na literatura extra-bíblica. Mais do que indicar o lugar onde moram as almas dos justos, é o estado afetivo da alma em que se encontram os crentes. “ Lázaro foi levado pelos anjos ”. A literatura rabínica afirma, em diversas passagens, que no paraíso só entravam os que eram levados pelos anjos (v.22).

“ O rico foi sepultado ” (v.23). A tradução “ sepultus est in inferno ” da Vulgata não é exata. “No inferno ele levanto os olhos e viu a Abraão” . É o “ sheol ”, nesta época, inferno dos condenados e que Lucas traduz como estados próximos, onde podem ver-se e falar-se; a possibilidade aumenta o sofrimento dos condenados (4 Esd 7,85-93; Henoc 9,13). É o que insinuam os elementos descritivos da parábola.

As regiões são infranqueáveis; “ Há, entre elas, um abismo. Não é possível passar de um lugar ao outro ”. Refere-se à eternidade dos destinos (vv.26 e 23).

” O rico foi condenado e pede a Abraão, que preside a mansão dos justos, que envie a Lázaro a seus irmãos para que corrijam seu comportamento e não venham cair neste abismo ” (v 27-31); a resposta é negativa: “eles têm Moisés e aos profetas, que ouvem nas sinagogas; seus irmãos sabem o que tem que fazer para não vir ao inferno ”. Nem fariam caso a um morto que lhes viesse a avisar. Pensariam ser um fantasma, como pensavam de Jesus ressuscitado. O que pensavam os saduceus das ressurreições que Cristo fez na sua vida? No fundo, não está o problema em avisos extraordinários, mas na atitude moral de cada dia. Eles já acreditam no que Deus exige para salvar-se: Cumprir o que Moisés e os profetas afirmam.

Comentaristas acham que a parábola responde a uma situação de “crise ” da primeira comunidade cristã que acreditava na vinda iminente do Senhor, Jesus. A acentuação, no segundo ponto da parábola, (vv.27-31) era a urgência de que os cinco irmãos assumissem uma atitude decisiva de modificar sua conduta para escapar da condenação eterna. O que podemos esperar do mau uso das riquezas? O que podemos esperar do bom uso da pobreza? Ficha limpa ou ficha suja. Também vale na eternidade.

Pe. Victoriano Baquero,sj.

Homilia - 1° Dom. - Quaresma

A vida está cheia de provas. Superá-las é vontade do Pai.
Os primeiros pais tiveram provas (Dt 11,18ss). Os judeus tiveram provas; Jesus teve provas, os primeiros cristãos tiveram provas. Nós temos provas, mas podemos vencer.

É um fato que Jesus foi posto a duras provas na sua vida. Os adversários lhe exigiam que realizasse sinais espetaculares que provassem seu messianismo. Queriam forçá-lo a tomar o caminho da ostentação; torná-lo rei poderoso. Insistente era o apelo sedutor das esperanças populares, cristalizadas no movimento político dos zelotas. Esperava-se um militar poderoso contra a opressão estrangeira e conquista do mundo. O ápice da prova foi representado pela tentativa de Pedro de desviar Jesus do projeto de subir a Jerusalém, cidade da paixão e morte (Mt 16,21-22). Para Jesus essa tentativa era uma sugestão diabólica visando desviá-lo de missão salvadora. Deus o tinha escolhido e enviado como Messias, mas na linha do servo sofredor (Rm 5,12-19) Tratava-se agora de mostrar sua fidelidade ao Pai ou ceder às tentações do poder e da glória. Resistiu aos chefes dos judeus, ao povo e aos discípulos. A Pedro replicou: “Longe de mim, Satanás” (Mt 16,23). Desiludiu o povo indo à crucifixão. Realizou a vontade do Pai. Escolheu ser Filho de Deus privado de poder, débil e frágil.

A Comunidade cristã primitiva estava em situação parecida à de Jesus. O movimento zelota, ano sessenta, desencadeia uma guerra contra os romanos. Os cristãos se interrogavam: O que fazer? Refletindo sobre Cristo nas tentações do deserto, concluíram ser tentação diabólica entrar na onda da violência. A Igreja nascente não tomou parte nesta sublevação. Para ajudar os novos cristãos a assumir a atitude de Jesus, criou-se o relato das tentações de Jesus. Como Jesus agiu, assim os cristãos deviam agir. O que Jesus experimentou, na sua vida pública, foi formalizado e ligado à tradição histórica de sua permanência no deserto, que, na tradição, significava o lugar da preparação para uma missão divina. O confronto com a opinião pública, luta contra Satanás, desenhou a experiência de Jesus: efeito dramático, e expressivo de um profundo significado oculto atrás dos movimentos de massa. Preparou-se um diálogo fechado entre o tentador e Cristo, precisamente, uma disputa feita na base de textos bíblicos. Um midrash.

As esperanças messiânicas evoluíam na base do Êxodo, do Templo e da mentalidade do tempo As tentações eram uma repetição das tentações do povo na travessia pelo deserto, 40 anos, Jesus 40 dias.. Contra a tentação de converter as pedras em pães: resposta: “Não só de pão vive o homem, mas da palavra de Deus”. Mt 8,3). Contra atirar-se do pináculo do Templo: “Não tentarás ao Senhor teu Deus” (Mt 6,13). E contra a tentação da adoração para receber todo o poder sobre as nações: “Só a Deus adorarás e só a ele servirás” (Mt 6,16). O modo de Jesus cortar as tentações era fechar o diálogo com citação da palavra. Deus e: Pronto!

Nós estamos tentados da mesma forma: O mundo moderno quer fazer o milagre de industrializar a terra em pão para enriquecer-se; Quer o malabarismo dos feitos mirabolantes, ir à Lua, Vênus, etc. e o mundo um bilhão morrendo de fome. O domínio das armas sofisticadas para dominar o mundo. Bomba atômica. Ele mesmo se vai destruir. Deus não precisa fazer coisa de estardalhaço. Nós mesmos estamos destruindo a mãe terra. A Campanha da Fraternidade nos está alertando sobre a destruição do planeta terra. Aprendamos de Jesus e dos primeiros cristãos a eliminar os caminhos da destruição e seguirmos o Caminho da Verdade da Vida e da paz que Jesus nos ensinou, Amém.

Pe. Victoriano Baquero, sj.

João Paulo, santo

Dom Aldo Pagotto
Arcebispo Metropolitano da Paraíba - PB


A bênção, João de Deus! Seis anos se passaram de sua partida, após 26 anos de serviço incansável à humanidade, na tentativa de reconstrução da civilização cristã. João Paulo II foi um líder espiritual reconhecido mundialmente pelo seu estilo ecumênico, aberto à colaboração para a superação dos males sociais que ameaçam a vida das pessoas e dos povos. Preposto à Igreja que tanto amou, dispôs-se a edificar a civilização do amor, da justiça e da paz entre os povos.

Sua intuição sobre a missão específica da Igreja no mundo moderno foi de serviçal humanitária, não de instituição mantenedora de um poder temporal, reprodutora de esquemas de defesa e engrandecimento de si mesma. Seu ardor missionário codifica nas inúmeras viagens pelas terras próximas e longínquas. Voltava-se ao diálogo entre a razão e a fé, entre as filosofias filhas da pós-modernidade e as novas formas de manifestação de espiritualidade e estilos místicos característicos da pluralidade hodierna.

Foi do agrado do Pai confiar ao dileto pastor os desígnios misteriosos de transformação histórica. Karol Wojtila viveu os transtornos deletérios do nazismo sucedido pelo comunismo. Com seu povo viveu na própria pele as contradições dos regimes totalitários, que se julgaram acima da liberdade inalienável dos seres humanos. Esses regimes de governo fracassaram, após a dizimação de milhares de pessoas, famílias, povos, culturas.

Os horrores da guerra favoreceram a formação do caráter do varão resistente ao ódio e às lutas fratricidas, baseadas em ideologias que servem tão somente para desconstruir e desestabilizar a pessoa e a sociedade.

Ele dedicou toda a sua vida à regeneração do tecido social em base à instituição familiar. Seus ensinos e práticas contemplam as dimensões pertinentes à identidade, vida e missão da Igreja, como se ampliam às bases constitutivas da vida e da sociedade, com forte acento no humanismo cristão.

Seu programa apostólico desenvolveu-se em função da verdade sobre Jesus Cristo, sobre a Igreja e sobre o homem. Seu lema “totus tuus” refere-se ao sentimento de filial pertença a Maria, Mãe de Jesus, sublinhando o que sempre viveu, ou seja, a ternura maternal com a firmeza indomável do apóstolo da fé e da justiça. A trajetória de João de Deus é perscrutada, analisada, comentada por cientistas, historiadores, políticos, antropólogos, sociólogos, espiritualistas.

João de Deus é respeitado e admirado não apenas por católicos, mas por representantes dos povos e dos mais variados segmentos da sociedade. Tido como uma espécie de conselheiro experiente, todos enxergam nele os misteriosos desígnios de Deus. Como um profeta da verdade, incomodou e continuará a desinstalar a muitos de suas certezas particulares.

João Paulo II se comprometeu com a formação de lideranças para enfrentar a mudança de época histórica, em curso. Exercia um fascínio inexplicável sobre pessoas e multidões. Seu segredo? Amar de verdade.

João de Deus inovou com seus braços abertos a crianças e pessoas idosas, afagando-as, beijando o chão das terras em suas inúmeras visitas. Para ele não há estrangeiro. Amou a pátria de todos como a sua (Polônia). Deus o dotou de dons inestimáveis. João de Deus é santo porque obrou o milagre de levar as pessoas a acreditarem na força transformadora do amor do Pai.

Exercícios Quaresmais

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte - MG


Os exercícios quaresmais, na vivência litúrgica que a Igreja Católica oferece como preparação para a celebração da Páscoa do Senhor Jesus, o Salvador do mundo, são riquezas de um caminho que constituem uma das páginas insubstituíveis na qualificação da vida de todos. Esses exercícios trazem consequências e resultados mais fecundos na participação de cada pessoa na grande teia da cidadania, que cada um, em conjunto com outros, ajuda a tecer e manter. Exercícios que conquistam a saúde do corpo são indispensáveis, essa demanda gera na atualidade uma verdadeira indústria de serviços, que traz benefícios variados para além da questão estética, muitas vezes buscada de maneira superficial na velocidade efêmera da vida que passa. É preciso também o suporte e a articulação com o que tece e sustenta a interioridade, o que está na mente e no coração. Com o que eiva a constituição cerebral de cada um com entendimentos, sentimentos e vivências. Propriedades de alimentar as transmissões que ali se operam para garantir, além do bem estar, uma postura qualificada e madura diante da vida e na condução cotidiana.

Saúde não é apenas condição física. A interioridade é coluna mestra que a sustenta, uma coordenação articulada de energias e a constituição de vínculos e ligações que abrem a vida para a transcendência, para o infinito do amor de Deus. E, também, para cada outro, dando sentido ao viver, ao serviço que se presta e ao gosto de amar e comprometer-se com a vida de todos. Os exercícios quaresmais, na bimilenar tradição espiritual e litúrgica da Igreja Católica, à medida que são seguidos e vivenciados, propiciam conquistas que não se alcançam por outros caminhos e metodologias. Especial menção merece a busca da própria identidade e dos valores pessoais, pois ela alimenta a consistência indispensável enquanto constituição da fonte que sustenta o viver a cada dia, não permite perder o rumo da vida. Trata-se de uma qualificação da existência que faz das pessoas um instrumento da paz, em razão da profunda ligação e intimidade cultivadas com o Senhor Único da vida. Nada é mais precioso!

No Sermão da Montanha, o evangelista Mateus (capítulos 5 a 7) relata regras de ouro que Jesus ensina aos seus discípulos, em vista de uma vida qualificada e vivida com gosto e proveito. O Mestre inclui na dinâmica dos exercícios que qualificam o discípulo a indicação da prática da esmola, da oração e do jejum. Na verdade, Jesus não propõe a prática de simples gestos descomprometidos. A esmola, mais do que a disponibilização do supérfluo, como muitas vezes se entende e pratica, aponta como significação o compromisso com a vida de todos - especialmente a dos pobres e dos miseráveis. Esse comprometimento implica uma compreensão da realidade que gera posturas cidadãs para traduzi-las em empenhos com causas e projetos. Define prioridades e dá, a quem se dispõe, a condição de porta-voz para fazer valer o direito de todos e a cabível opção preferencial pelos que precisam mais. A esmola é um gesto de partilha localizado na atitude de quem compreende seu compromisso de defender a vida, de forma incondicional, em todas as suas etapas, e trabalhar sem descanso para promovê-la. Suscita uma visão social e política da mais alta qualidade por colocar à luz da presença de Deus, o outro, particularmente o pobre, que não tem o necessário, é enfermo, excluído ou sofredor, como centro de preocupações e de reverências.

Jesus inclui, ainda, na dinâmica desse exercício de qualificação da existência e do dom da vida, o jejum. Certamente parece obsoleta essa atitude, num tempo de tanta fartura, de desperdícios, contracenando com um mundo de pelo menos um bilhão de famintos. Jejuar é um exercício de correção de costumes e hábitos que nos levam a tratar o alimento com respeito, nos motiva a repartir nosso bocado com quem tem fome, superando a gula que despersonaliza e fomenta irracionalidades. É ainda um exercício que dá a temperança indispensável para não cairmos nos exageros da corrupção, dos apegos nascidos da voracidade que põem o indivíduo diante das coisas e dos bens.

Na riqueza das considerações possíveis das muitas vivências dos exercícios quaresmais há um verdadeiro tratado de ciência do bem viver e de qualificação da existência, que repercute na vida: a importante prática da oração. Essa indicação sábia de mestre a discípulos já foi pensada como hábito piegas. Aberturas e interesses por milenares práticas meditativas são sinais de que a cultura ocidental precisa e pode revisitar os tesouros de sua herança cristã, de modo a entendê-la, como no dizer de um autor do século quarto: “a oração é a luz da alma”. E adorná-la com modéstia e a luz resplandecente da justiça, temperando a conduta do orante com o sal do amor de Deus.

Em defesa do Bom Pastor

Dom Aloísio Roque Oppermann scj
Arcebispo de Uberaba - MG


Em certa ocasião, um grupo de políticos católicos, na esteira da ideologia de seu partido, me pediu que, na Igreja, parássemos de falar em “pastor”, “rebanho”, “ovelhas”, pois isso se tinha tornado uma conversa desagradável aos ouvidos modernos. Levando em consideração o singular pedido, fiquei analisando por que tal idéia estava despertando neles tanta resistência. Cheguei à conclusão de que se trata de um enorme equívoco. As palavras generosas, brotadas dos lábios de Jesus, foram abordadas em outra chave de leitura, e não no seu sentido original, altamente simpáticas. “Eu sou o bom Pastor e conheço as minhas ovelhas” (Jo 10,11). Qual é o falso pressuposto dessa linda figura do Pastor? Veja a minha leitura.

Está suposto – sempre na idéia deles - que essa parábola transmite a idéia de que o povo ficaria reduzido à condição infantil; que esta imagem traria contexto da roça, e nós somos do meio urbano; que a obediência despersonaliza e mata a iniciativa; que o rebanho é levado para um destino bucólico de paz, de estagnação, e não de moderna luta; que essa imagem levaria a não ter iniciativa; ela realçaria demais a dependência do chefe e a identificação com ele; traria uma fatal dependência do grupo, totalmente sem fantasia e sem vontade própria. Mas ao contrário, acho essa figura muito linda e respeitável. Quem procurar entender bem, saberá que a idéia se desenvolve num ambiente sumamente positivo. Jesus mostrou que a obediência não despersonaliza, mas faz crescer, como Ele fez diante do Pai. “Embora sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente” (Hb 5, 8). A parábola ensina que as ovelhas seguem o Bom Pastor. Portanto são livres, e não tangidas contra a vontade. A ovelha é um animal frágil, fácil presa de lobos. O ser humano precisa da proteção de alguém mais forte, que o liberte das garras dos malvados. Jesus é o protótipo da ternura, E tem relações sumamente amistosas para com seus seguidores, e não de domínio. Ademais, por nada deste mundo vamos deixar de lado essa linda idéia do Pastor, porque ela tem raízes no Primeiro Testamento (veja o Sl 22), e sobretudo no Novo. Prefiro a Bíblia a qualquer eventual cartilha de grupos particulares. Diante da alergia de alguns poucos, vamos abandonar a praxe de 20 séculos de arte, de músicas, pinturas e de rica teologia?

Papa envia mensagem ao povo do Rio de Janeiro e se diz consternado com atentado contra crianças .


O papa Bento XVI enviou um telegrama, na manhã de hoje, 8, ao arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta, no qual se diz “profundamente consternado pelo dramático atentado realizado contra crianças indefesas”, no bairro de Realengo (RJ). O telegrama foi enviado por meio do secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone.

Segundo o cardeal, o papa convida todos os cariocas, diante desta tragédia, a dizer não à violência que “constitui caminho sem futuro, procurando construir uma sociedade fundada sobre a justiça e o respeito pelas pessoas, sobretudo os mais fracos e indefesos”, disse.

No final da mensagem o papa concede a todo o povo brasileiro a sua Benção Apostólica.

No mesmo telegrama, o núncio apostólico no Brasil, dom Lorenzo Baldisseri, diz estar unido à dor dos que perderam parentes e amigos e manda uma mensagem ao arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani.

“Uno às palavras do cardeal Tarcisio Bertone, à minha fervente oração a Deus Todo poderoso e rico em misericórdia, nesta circunstância tão dolorosa na sua arquidiocese”, disse dom Lorenzo.

Leia a íntegra da mensagem abaixo:

Excelência Reverendíssima

Cumpro o dever de transmitir a Vossa Excelência, o telegrama de Sua Eminência o cardeal Tarcício Bertone, Secretário de Estado:

Exmo Revmo Dom Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

Profundamente consternado pelo dramático atentado realizado contra crianças indefesas em um colégio municipal no bairro do Realengo, o Sumo Pontífice deseja assegurar através de Vossa Excelência Revma sua solidariedade e conforto espiritual às famílias que perderam seus filhos e toda a comunidade escolar, com votos de pronta recuperação dos feridos.

O Santo Padre convida todos os cariocas, diante desta tragédia, a dizer não à violência que constitui caminho sem futuro, procurando construir uma sociedade fundada sobre a justiça e o respeito pelas pessoas, sobretudo os mais fracos e indefesos.

Em nome de Deus, para que a esperança não esmoreça nesta hora de prova e faça prevalecer o perdão e o amor sobre o ódio e a vingança, Sua Santidade Papa Bento XVI concede-lhes uma confortadora bênção apostólica.

Cardeal Tarcísio Bertone
Secretário de Estado de Sua Santidade

Uno às palavras do Cardeal, minha fervente oração a Deus Todo poderoso e rico em misericórdia, nesta circunstância tão dolorosa na sua Arquidiocese.

Aproveito o ensejo para expressar meus sentimentos de alta estima.

Dom Lorenzo Baldisseri
Núncio Apostólico

João Paulo II, missionário contemplativo, diz Bento XVI

Palavras ao ver o documentário “Peregrino vestido de branco”



João Paulo II não foi só um missionário, segundo afirma Bento XVI. Seu zelo apostólico explica-se graças à oração, acrescenta seu sucessor e próximo colaborador durante mais de duas décadas.

O Papa traçou um breve e pessoal perfil de Karol Wojtyla ao participar da exibição do documentário “Peregrino vestido de branco” (http://www.jp2szukalemwas.pl), dirigido pelo diretor polonês Jarosław Szmidt, considerado uma das maiores produções da história dos documentários poloneses.

Na exibição, o bispo de Roma sublinhou “os dois pilares” da vida e ministério do futuro beato: “a oração e o zelo missionário”.

“João Paulo II foi um grande contemplativo e um grande apóstolo de Cristo. Deus o escolheu para a sede de Pedro e o preservou durante anos para introduzir a Igreja no terceiro milênio”, afirmou, em referência a palavras que o cardeal Stefan Wyszyński, primaz da Polônia, que, no momento da eleição do pontífice polonês, disse-lhe: ‘A te far entrare la Chiesa nel Terzo Millennio’.

“Com seu exemplo, guiou-nos nesta peregrinação, e agora segue nos acompanhando do céu”, afirmou Bento XVI, que recordou as palavras dirigidas na homilia do funeral de João Paulo II.

Naquele 8 de abril de 2005, o cardeal Joseph Ratzinger disse: "Nenhum de nós poderá esquecer que no último domingo de Páscoa de sua vida, o Santo Padre, marcado pelo sofrimento, foi até a janela do Palácio Apostólico Vaticano e deu a bênção ‘Urbi et Orbi’ pela última vez. Podemos estar seguros de que nosso amado Papa está agora na janela da casa do Pai, nos vê e abençoa. Sim, abençoe-nos, Santo Padre”.

“Peregrino vestido de branco” é uma produção que durou quase 4 anos, realizada em 12 países de 4 continentes. Mais de 50 pessoas foram entrevistadas.

Monsenhor Slawomir Oder, postulador da causa de beatificação de João Paulo II, disse que o documentário é “uma ilustração do que surgiu no processo de beatificação”.

Mais informação sobre o documentário em: http://www.h2onews.org/espanol/66-santa-sede/224448107-nuevo-documental-sobre-juan-pablo-ii.html