Radio Católica On-line
Homens a Luz de Deus.
Aleluia! Tu é abênçoado, e a sua Graça ja estar sendo preparada por Jesus, chegará em uma boa hora, pois ele conhece o teu coração e seus problemas, ele sofre com vc, ele se alegra com vc, mais aquele seu desejo, será agora atendido, espere que um anjo trará sua Graça, apenas agradeça ao Senhor e assim que receber, fale em seu pensamento. AMEM !
2010/09/25
Para que servem minhas fraquezas?
Nossa meta maior sempre será retornar para Deus!
Entretanto, os caminhos desta estrada de volta revelarão sempre a pessoa que somos, nossas virtudes e fracassos. Das virtudes, gostamos até demais delas! Dos fracassos, até nos causam pânico!
Quem se aproxima um pouco mais de Deus pela oração e direção espiritual, vai entendendo aos poucos que nossas fraquezas são amigas que, se ouvidas com vigilância e humildade, nos conduzirão para uma contínua conversão.
São Pe. Pio de Pieltrecina afirma que "se Deus permite que você vacile em alguma fraqueza, não é porque o abandonou; ao contrário, Ele está o fortalecendo na humildade e na vigilância."
Por isso, não tenha medo! Suas fraquezas podem ser, hoje, suas maiores e mais importantes aliadas!
Já havia pensado assim?
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Com carinho e orações,
Seu irmão,
Ricardo Sá
É preciso conciliar tempo para trabalho e família, diz Papa
Da Redação, com agências
A sala de imprensa da Santa Sé apresentou nesta sexta-feira, 24, a carta enviada pelo Papa Bento XVI ao presidente do Pontifício Conselho para a Família, Cardeal Ennio Antonelli. Na mensagem, o Santo Padre confirmou o VII Encontro Mundial das Famílias, que será realizado entre 30 de maio e 3 de junho de 2012, em Milão, na Itália, e fez uma reflexão sobre o tema do evento: "A Família: o trabalho e a festa”.
“O trabalho e a festa - explicou Bento XVI no documento - estão intimamente relacionados com a vida das famílias, pois condicionam as escolhas, influenciam as relações entre os cônjuges e entre pais e filhos, além de influenciarem nas relações das famílias com a sociedade e a Igreja".
“Nos nossos tempos atuais – disse o Papa -, infelizmente, a organização do trabalho baseada na competição do mercado e do lucro máximo, bem como a utilização das festas como ‘válvulas de escape’ contribuem para a desagregação da estrutura familiar e para o condicionamento de um estilo de vida individualista”.
"Por isso, é necessário promover uma reflexão e um compromisso para conciliar as exigências e os tempos do trabalho com os da família, e recuperar o verdadeiro sentido da festa, especialmente do domingo, páscoa semanal, dia do Senhor e dia do homem, dia da família, da comunidade e da solidariedade".
O Papa escreve que "o próximo Encontro Mundial das Famílias é uma ocasião privilegiada para voltar a expor o trabalho e a festa na perspectiva de uma família unida e aberta à vida, bem integrada na sociedade e na Igreja, atenta contra a qualidade das relações e a economia do núcleo familiar".
Seguidamente o Santo Padre expressa seu desejo de que já no ano 2011 (no 30° aniversário da exortação apostólica ‘Familiaris consortio’ de João Paulo II), "carta magna" da pastoral familiar, comece um itinerário com iniciativas em nível paroquial, diocesano e nacional, com o fim de "destacar as experiências de trabalho e de festa em seus aspectos mais reais e positivos, com especial insistência na incidência sobre a experiência de vida concreta das famílias".
Ao final da carta, o Santo Padre assinala que o VII Encontro Mundial, como os iores, durará cinco dias e culminará no sábado a noite com a ‘Festa dos testemunhos’ e na manhã do domingo com a Missa solene. Nestas duas celebrações, que presidirei, reuniremo-nos como ‘família de famílias’".
Comentando o tema da carta, o Cardeal Antonelli se referiu aos problemas que afetam a família e advertiu que "se privatiza e se reduz a um lugar de afetos e de gratificação individual; não recebe o adequado apoio cultural, jurídico, econômico e político; sofre o oneroso condicionamento de dinâmicas desintegrantes complexas, entre as que têm uma influência significativa a organização do trabalho e o declive da festa ao "tempo livre".
Neste sentido, sublinhou que o tema do Encontro de Milão "pode supor uma importante contribuição à defesa e promoção dos valores humanos autênticos no mundo atual, começando por novos estilos de vida familiar".
Participaram também da coletiva o Bispo Jean Laffitte, Dom Carlos Simón Vázquez e o padre Gianfranco Grieco, respectivamente secretário, subsecretário e chefe de escritório do Pontifício Conselho para a Família; o Bispo Auxiliar de Milão, Dom Erminio Do Scalzi, delegado do Cardeal Arcebispo Dionigi Tettamanzi para a organização do Encontro e Davide Milani, responsável pelas comunicações sociais desta arquidiocese.
Perdão é necessário para resolver atual crise espiritual, diz Papa
Kelen Galvan
Da Redação
"O núcleo da crise espiritual do nosso tempo tem as suas raízes no obscurecimento da graça do perdão", afirmou o Papa Bento XVI neste sábado, 25, aos bispos do Rio de Janeiro em visita ad Limina a Roma.
O Santo Padre explicou que quando o perdão não é reconhecido "como real e eficaz", tende-se a libertar a pessoa do sentimento de culpa. Sendo assim, afasta-se a possibilidade para que o perdão aconteça. Mas, explicou Bento XVI, "as pessoas assim 'libertadas' sabem que isso não é verdade, que o pecado existe e que elas mesmas são pecadoras".
.: Leia o discurso na íntegra
"Embora algumas linhas da psicologia sintam grande dificuldade em admitir que, entre os sentidos de culpa, possa haver também os devidos a uma ' verdadeira culpa', quem for tão 'frio' que não prove sentimentos de culpa nem sequer quando deve, procure por todos os meios recuperá-los, porque no ordenamento espiritual são necessários para a saúde da alma. De fato Jesus veio salvar, não aqueles que já se libertaram por si mesmos pensando que não têm necessidade d’Ele, mas quantos sentem que são pecadores e precisam d’Ele (cf. Lc 5, 31-32)", destacou.
O Papa afirmou ainda que "todos nós temos necessidade" desse perdão de Deus. "Como o Escultor divino que remove as incrustações de pó e lixo que se pousaram sobre a imagem de Deus inscrita em nós. Precisamos do perdão, que constitui o cerne de toda a verdadeira reforma: refazendo a pessoa no seu íntimo, torna-se também o centro da renovação da comunidade".
"Somente a partir desta profundidade de renovação do indivíduo é que nasce a Igreja, nasce a comunidade que une e sustenta na vida e na morte", explicou Bento XVI. "Ela é uma companhia na subida, na realização daquela purificação que nos torna capazes da verdadeira altura do ser homens, da companhia com Deus. À medida que se realiza a purificação, também a subida – que ao princípio é árdua – vai-se tornando cada vez mais jubilosa. Esta alegria deve transparecer cada vez mais da Igreja, contagiando o mundo, porque ela é a juventude do mundo".
E concluiu lembrando aos bispos que "tal obra não pode ser realizada com as nossas forças, mas são necessárias a luz e a graça que provêm do Espírito de Deus e agem no íntimo dos corações e das consciências".
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Canção Nova – Cantinho da Reflexão - Já não sei viver sem teu amor
*Monsenhor Jonas Abib
Adorar é um diálogo de amor. A adoração é um dom de Deus e não um esforço nosso. O primeiro passo sempre é de Deus. É ele quem toma a iniciativa de estar conosco, de se relacionar conosco para estabelecer uma relação íntima, de amizade. Por isso, a adoração não só é um desejo do nosso coração, mas, mais do que isto, é um desejo de Deus.
Cada um de nós tem um coração de adorador que precisa ser trabalhado, desenvolvido para crescer no dom da adoração. A indisposição que às vezes você sente para adorar não é sua. Este trabalho para crescer na adoração consiste num acolhimento da graça de Deus. Sim, é um dom que Deus quer nos dar pela ação do Espírito Santo. É dom, é preciso, em primeiro lugar, acolher.
O coração de adorador não é algo que vamos comprar com os nossos esforços, mas que vamos acolher com a nossa liberdade. É um exercício, contínuo e frequente, de todos os dias. É um trato de fidelidade e sinceridade com Deus. É um desejo de também demonstrar a Ele todo o nosso amor.
Quando se luta, a indisposição vai sumindo e quando menos esperar verá que está adorando. Independentemente do tempo que a pessoa tem para adorar, aquele tempo é muito precioso e não é em vão. Deus sabe da sua indisposição e do pecado original que está em você. Ele vê seu esforço e sua luta.
É claro que você gostaria de fazer uma oração gostosa, que faça esquentar por dentro. Mas Deus viu o seu esforço e para Ele valeu. Você pode não ter percebido, mas tudo o que precisava, aconteceu. Basta ficar diante do sol para ele causar efeito em você. Mesmo que o dia esteja nublado e a todo instante uma nuvem cubra o sol, tenha certeza de que os raios ultrapassaram aquelas nuvens e atingiram você. O fato de ter ficado exposto naquele lugar fez os raios do sol atingir a sua pele.
Assim também acontece com a adoração. É isso que quer dizer adorar em espírito e verdade. Você adora a partir da sua verdade, e a sua verdade naquele dia infelizmente era estar indisposto para adorar. Você não foi falso e adorou em verdade. Por muitas vezes sentirá essa indisposição porque ela vem do pecado original, mas você sempre estará partindo da verdade, portanto, estará sempre adorando em espírito e verdade.
Seu irmão,
*Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova e Presidente de Honra da Fundação João Paulo II. É autor de 48 livros, milhares de palestras em áudio e vídeo, viajando o Brasil e o mundo em encontros de evangelização. Acesse: www.padrejonas.com / http://twitter.com/padrejonasabib
MENSAGEM DO PAPA PARA A JMJ DE MADRI 2011
Texto integral em português
CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 14 de setembro de 2010 (ZENIT.org) – Apresentamos a Mensagem do Papa Bento XVI para a XXVI Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá em Madri, em agosto de 2011. O texto, difundido agora em português pela Santa Sé, fora publicado a 3 de setembro.
* * *
«Enraizados e edificados n’Ele... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7).
Queridos amigos!
Penso com frequência na Jornada Mundial da Juventude de Sidney de 2008. Lá vivemos uma grande festa da fé, durante a qual o Espírito de Deus agiu com força, criando uma comunhão intensa entre os participantes, que vieram de todas as partes do mundo. Aquele encontro, assim como os precedentes, deu frutos abundantes na vida de numerosos jovens e de toda a Igreja. Agora, o nosso olhar dirige-se para a próxima Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar em Madrid em Agosto de 2011. Já em 1989, poucos meses antes da histórica derrocada do Muro de Berlim, a peregrinação dos jovens fez etapa na Espanha, em Santiago de Compostela. Agora, num momento em que a Europa tem grande necessidade de reencontrar as suas raízes cristãs, marcamos encontro em Madrid, com o tema: «Enraizados e edificados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). Por conseguinte, convido-vos para este encontro tão importante para a Igreja na Europa e para a Igreja universal. E gostaria que todos os jovens, quer os que compartilham a nossa fé em Jesus Cristo, quer todos os que hesitam, que estão na dúvida ou não crêem n’Ele, possam viver esta experiência, que pode ser decisiva para a vida: a experiência do Senhor Jesus ressuscitado e vivo e do seu amor por todos nós.
Na nascente das vossas maiores aspirações!
1. Em todas as épocas, também nos nossos dias, numerosos jovens sentem o desejo profundo de que as relações entre as pessoas sejam vividas na verdade e na solidariedade. Muitos manifestam a aspiração por construir relacionamentos de amizade autêntica, por conhecer o verdadeiro amor, por fundar uma família unida, por alcançar uma estabilidade pessoal e uma segurança real, que possam garantir um futuro sereno e feliz. Certamente, recordando a minha juventude, sei que estabilidade e segurança não são as questões que ocupam mais a mente dos jovens. Sim, a procura de um posto de trabalho e com ele poder ter uma certeza é um problema grande e urgente, mas ao mesmo tempo a juventude permanece contudo a idade na qual se está em busca da vida maior. Se penso nos meus anos de então: simplesmente não nos queríamos perder na normalidade da vida burguesa. Queríamos o que é grande, novo. Queríamos encontrar a própria vida na sua vastidão e beleza. Certamente, isto dependia também da nossa situação. Durante a ditadura nacional-socialista e durante a guerra nós fomos, por assim dizer, «aprisionados» pelo poder dominante. Por conseguinte, queríamos sair fora para entrar na amplidão das possibilidades do ser homem. Mas penso que, num certo sentido, todas as gerações sentem este impulso de ir além do habitual. Faz parte do ser jovem desejar algo mais do que a vida quotidiana regular de um emprego seguro e sentir o anseio pelo que é realmente grande. Trata-se apenas de um sonho vazio que esvaece quando nos tornamos adultos? Não, o homem é verdadeiramente criado para aquilo que é grande, para o infinito. Qualquer outra coisa é insuficiente. Santo Agostinho tinha razão: o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti. O desejo da vida maior é um sinal do facto que foi Ele quem nos criou, de que temos a Sua «marca». Deus é vida, e por isso todas as criaturas tendem para a vida; de maneira única e especial a pessoa humana, feita à imagem de Deus, aspira pelo amor, pela alegria e pela paz. Compreendemos então que é um contra-senso pretender eliminar Deus para fazer viver o homem! Deus é a fonte da vida; eliminá-lo equivale a separar-se desta fonte e, inevitavelmente, a privar-se da plenitude e da alegria: «De facto, sem o Criador a criatura esvaece» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 36). A cultura actual, nalgumas áreas do mundo, sobretudo no Ocidente, tende a excluir Deus, ou a considerar a fé como um facto privado, sem qualquer relevância para a vida social. Mas o conjunto de valores que estão na base da sociedade provém do Evangelho — como o sentido da dignidade da pessoa, da solidariedade, do trabalho e da família — constata-se uma espécie de «eclipse de Deus», uma certa amnésia, ou até uma verdadeira rejeição do Cristianismo e uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de perder a própria identidade profunda.
Por este motivo, queridos amigos, convido-vos a intensificar o vosso caminho de fé em Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Vós sois o futuro da sociedade e da Igreja! Como escrevia o apóstolo Paulo aos cristãos da cidade de Colossos, é vital ter raízes, bases sólidas! E isto é particularmente verdadeiro hoje, quando muitos não têm pontos de referência estáveis para construir a sua vida, tornando-se assim profundamente inseguros. O relativismo difundido, segundo o qual tudo equivale e não existe verdade alguma, nem qualquer ponto de referência absoluto, não gera a verdadeira liberdade, mas instabilidade, desorientação, conformismo às modas do momento. Vós jovens tendes direito de receber das gerações que vos precedem pontos firmes para fazer as vossas opções e construir a vossa vida, do mesmo modo como uma jovem planta precisa de um sólido apoio para que as raízes cresçam, para se tornar depois uma árvore robusta, capaz de dar fruto.
Enraizados e fundados em Cristo
2. Para ressaltar a importância da fé na vida dos crentes, gostaria de me deter sobre cada uma das três palavras que São Paulo usa nesta sua expressão: «Enraizados e fundados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). Nela podemos ver três imagens: «enraizado» recorda a árvore e as raízes que a alimentam; «fundado» refere-se à construção de uma casa; «firme» evoca o crescimento da força física e moral. Trata-se de imagens muito eloquentes. Antes de as comentar, deve-se observar simplesmente que no texto original as três palavras, sob o ponto de vista gramatical, estão no passivo: isto significa que é o próprio Cristo quem toma a iniciativa de radicar, fundar e tornar firmes os crentes.
A primeira imagem é a da árvore, firmemente plantada no solo através das raízes, que a tornam estável e a alimentam. Sem raízes, seria arrastada pelo vento e morreria. Quais são as nossas raízes? Naturalmente, os pais, a família e a cultura do nosso país, que são uma componente muito importante da nossa identidade. A Bíblia revela outra. O profeta Jeremias escreve: «Bendito o homem que deposita a confiança no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. É como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a inquieta a seca de um ano; continua a produzir frutos» (Jr 17, 7-8). Estender as raízes, para o profeta, significa ter confiança em Deus. D’Ele obtemos a nossa vida; sem Ele não poderíamos viver verdadeiramente. «Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está em Seu Filho» (1 Jo 5, 11). O próprio Jesus apresenta-se como nossa vida (cf. Jo 14, 6). Por isso a fé cristã não é só crer em verdades, mas é antes de tudo uma relação pessoal com Jesus Cristo, é o encontro com o Filho de Deus, que dá a toda a existência um novo dinamismo. Quando entramos em relação pessoal com Ele, Cristo revela-nos a nossa identidade e, na sua amizade, a vida cresce e realiza-se em plenitude. Há um momento, quando somos jovens, em que cada um de nós se pergunta: que sentido tem a minha vida, que finalidade, que orientação lhe devo dar? É uma fase fundamental, que pode perturbar o ânimo, às vezes também por muito tempo. Pensa-se no tipo de trabalho a empreender, quais relações sociais estabelecer, que afectos desenvolver... Neste contexto, penso de novo na minha juventude. De certa forma muito cedo tive a consciência de que o Senhor me queria sacerdote. Mais tarde, depois da Guerra, quando no seminário e na universidade eu estava a caminho para esta meta, tive que reconquistar esta certeza. Tive que me perguntar: é este verdadeiramente o meu caminho? É deveras esta a vontade do Senhor para mim? Serei capaz de Lhe permanecer fiel e de estar totalmente disponível para Ele, ao Seu serviço? Uma decisão como esta deve ser também sofrida. Não pode ser de outra forma. Mas depois surgiu a certeza: é bem assim! Sim, o Senhor quer-me, por isso também me dará a força. Ao ouvi-Lo, ao caminhar juntamente com Ele torno-me deveras eu mesmo. Não conta a realização dos meus próprios desejos, mas a Sua vontade. Assim a vida torna-se autêntica.
Tal como as raízes da árvore a mantêm firmemente plantada na terra, também os fundamentos dão à casa uma estabilidade duradoura. Mediante a fé, nós somos fundados em Cristo (cf. Cl 2, 7), como uma casa é construída sobre os fundamentos. Na história sagrada temos numerosos exemplos de santos que edificaram a sua vida sobre a Palavra de Deus. O primeiro foi Abraão. O nosso pai na fé obedeceu a Deus que lhe pedia para deixar a casa paterna a fim de se encaminhar para uma terra desconhecida. «Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça e foi chamado amigo de Deus» (Tg 2, 23). Estar fundados em Cristo significa responder concretamente à chamada de Deus, confiando n’Ele e pondo em prática a sua Palavra. O próprio Jesus admoesta os seus discípulos: «Porque me chamais: “Senhor, Senhor” e não fazeis o que Eu digo?» (Lc 6, 46). E, recorrendo à imagem da construção da casa, acrescenta: «todo aquele que vem ter Comigo, escuta as Minhas palavras e as põe em prática, é semelhante a um homem que construiu uma casa: Cavou, aprofundou e assentou os alicerces sobre a rocha. Sobreveio a inundação, a torrente arremessou-se com violência contra aquela casa e não pôde abalá-la por ter sido bem construída» (Lc 6, 47-48).
Queridos amigos, construí a vossa casa sobre a rocha, como o homem que «cavou muito profundamente». Procurai também vós, todos os dias, seguir a Palavra de Cristo. Senti-O como o verdadeiro Amigo com o qual partilhar o caminho da vossa vida. Com Ele ao vosso lado sereis capazes de enfrentar com coragem e esperança as dificuldades, os problemas, também as desilusões e as derrotas. São-vos apresentadas continuamente propostas mais fáceis, mas vós mesmos vos apercebeis que se revelam enganadoras, que não vos dão serenidade e alegria. Só a Palavra de Deus nos indica o caminho autêntico, só a fé que nos foi transmitida é a luz que ilumina o caminho. Acolhei com gratidão este dom espiritual que recebestes das vossas famílias e comprometei-vos a responder com responsabilidade à chamada de Deus, tornando-vos adultos na fé. Não acrediteis em quantos vos dizem que não tendes necessidade dos outros para construir a vossa vida! Ao contrário, apoiai-vos na fé dos vossos familiares, na fé da Igreja, e agradecei ao Senhor por a ter recebido e feito vossa!
Firmes na fé
3. «Enraizados e fundados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). A Carta da qual é tirado este convite, foi escrita por São Paulo para responder a uma necessidade precisa dos cristãos da cidade de Colossos. Com efeito, aquela comunidade estava ameaçada pela influência de determinadas tendências culturais da época, que afastavam os fiéis do Evangelho. O nosso contexto cultural, queridos jovens, tem numerosas analogias com o tempo dos Colossenses daquela época. De facto, há uma forte corrente de pensamento laicista que pretende marginalizar Deus da vida das pessoas e da sociedade, perspectivando e tentando criar um «paraíso» sem Ele. Mas a experiência ensina que o mundo sem Deus se torna um «inferno»: prevalecem os egoísmos, as divisões nas famílias, o ódio entre as pessoas e entre os povos, a falta de amor, de alegria e de esperança. Ao contrário, onde as pessoas e os povos acolhem a presença de Deus, o adoram na verdade e ouvem a sua voz, constrói-se concretamente a civilização do amor, na qual todos são respeitados na sua dignidade, cresce a comunhão, com os frutos que ela dá. Contudo existem cristãos que se deixam seduzir pelo modo de pensar laicista, ou são atraídos por correntes religiosas que afastam da fé em Jesus Cristo. Outros, sem aderir a estas chamadas, simplesmente deixaram esmorecer a sua fé, com inevitáveis consequências negativas a nível moral.
Aos irmãos contagiados por ideias alheias ao Evangelho, o apóstolo Paulo recorda o poder de Cristo morto e ressuscitado. Este mistério é o fundamento da nossa vida, o centro da fé cristã. Todas as filosofias que o ignoram, que o consideram «escândalo» (1 Cor 1, 23), mostram os seus limites diante das grandes perguntas que habitam o coração do homem. Por isso também eu, como Sucessor do apóstolo Pedro, desejo confirmar-vos na fé (cf. Lc 22, 32). Nós cremos firmemente que Jesus Cristo se ofereceu na Cruz para nos doar o seu amor; na sua paixão, carregou os nossos sofrimentos, assumiu sobre si os nossos pecados, obteve-nos o perdão e reconciliou-nos com Deus Pai, abrindo-nos o caminho da vida eterna. Deste modo fomos libertados do que mais entrava a nossa vida: a escravidão do pecado, e podemos amar a todos, até os inimigos, e partilhar este amor com os irmãos mais pobres e em dificuldade.
Queridos amigos, muitas vezes a Cruz assusta-nos, porque parece ser a negação da vida. Na realidade, é o contrário! Ela é o «sim» de Deus ao homem, a expressão máxima do seu amor e a nascente da qual brota a vida eterna. De facto, do coração aberto de Jesus na cruz brotou esta vida divina, sempre disponível para quem aceita erguer os olhos para o Crucificado. Portanto, não posso deixar de vos convidar a aceitar a Cruz de Jesus, sinal do amor de Deus, como fonte de vida nova. Fora de Cristo morto e ressuscitado, não há salvação! Só Ele pode libertar o mundo do mal e fazer crescer o Reino de justiça, de paz e de amor pelo qual todos aspiram.
Crer em Jesus Cristo sem o ver
4. No Evangelho é-nos descrita a experiência de fé do apóstolo Tomé ao acolher o mistério da Cruz e da Ressurreição de Cristo. Tomé faz parte dos Doze apóstolos; seguiu Jesus; foi testemunha directa das suas curas, dos milagres; ouviu as suas palavras; viveu a desorientação perante a sua morte. Na noite de Páscoa o Senhor apareceu aos discípulos, mas Tomé não estava presente, e quando lhe foi contado que Jesus estava vivo e se mostrou, declarou: «Se eu não vir o sinal dos cravos nas Suas mãos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e não meter a mão no Seu lado, não acreditarei» (Jo 20, 25).
Também nós gostaríamos de poder ver Jesus, de poder falar com Ele, de sentir ainda mais forte a sua presença. Hoje para muitos, o acesso a Jesus tornou-se difícil. Circulam tantas imagens de Jesus que se fazem passar por científicas e O privam da sua grandeza, da singularidade da Sua pessoa. Portanto, durante longos anos de estudo e meditação, maturou em mim o pensamento de transmitir um pouco do meu encontro pessoal com Jesus num livro: quase para ajudar a ver, a ouvir, a tocar o Senhor, no qual Deus veio ao nosso encontro para se dar a conhecer. De facto, o próprio Jesus aparecendo de novo aos discípulos depois de oito dias, diz a Tomé: «Chega aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente» (Jo 20, 27). Também nós temos a possibilidade de ter um contacto sensível com Jesus, meter, por assim dizer, a mão nos sinais da sua Paixão, os sinais do seu amor: nos Sacramentos Ele torna-se particularmente próximo de nós, doa-se a nós. Queridos jovens, aprendei a «ver», a «encontrar» Jesus na Eucaristia, onde está presente e próximo até se fazer alimento para o nosso caminho; no Sacramento da Penitência, no qual o Senhor manifesta a sua misericórdia ao oferecer-nos sempre o seu perdão. Reconhecei e servi Jesus também nos pobres, nos doentes, nos irmãos que estão em dificuldade e precisam de ajuda.
Abri e cultivai um diálogo pessoal com Jesus Cristo, na fé. Conhecei-o mediante a leitura dos Evangelhos e do Catecismo da Igreja Católica; entrai em diálogo com Ele na oração, dai-lhe a vossa confiança: ele nunca a trairá! «Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus» (Catecismo da Igreja Católica, n. 150). Assim podereis adquirir uma fé madura, sólida, que não estará unicamente fundada num sentimento religioso ou numa vaga recordação da catequese da vossa infância. Podereis conhecer Deus e viver autenticamente d’Ele, como o apóstolo Tomé, quando manifesta com força a sua fé em Jesus: «Meu Senhor e meu Deus!».
Amparados pela fé da Igreja para ser testemunhas
5. Naquele momento Jesus exclama: «Porque Me viste, acreditaste. Bem-aventurados os que, sem terem visto, acreditaram!» (Jo 20, 29). Ele pensa no caminho da Igreja, fundada sobre a fé das testemunhas oculares: os Apóstolos. Compreendemos então que a nossa fé pessoal em Cristo, nascida do diálogo com Ele, está ligada à fé da Igreja: não somos crentes isolados, mas, pelo Baptismo, somos membros desta grande família, e é a fé professada pela Igreja que dá segurança à nossa fé pessoal. O credo que proclamamos na Missa dominical protege-nos precisamente do perigo de crer num Deus que não é o que Jesus nos revelou: «Cada crente é, assim, um elo na grande cadeia dos crentes. Não posso crer sem ser motivado pela fé dos outros, e pela minha fé contribuo também para guiar os outros na fé» (Catecismo da Igreja Católica, n. 166). Agradeçamos sempre ao Senhor pelo dom da Igreja; ela faz-nos progredir com segurança na fé, que nos dá a vida verdadeira (cf. Jo 20, 31).
Na história da Igreja, os santos e os mártires hauriram da Cruz gloriosa de Cristo a força para serem fiéis a Deus até à doação de si mesmos; na fé encontraram a força para vencer as próprias debilidades e superar qualquer adversidade. De facto, como diz o apóstolo João, «Quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus?» (1 Jo 5, 5). E a vitória que nasce da fé é a do amor. Quantos cristãos foram e são um testemunho vivo da força da fé que se exprime na caridade; foram artífices de paz, promotores de justiça, animadores de um mundo mais humano, um mundo segundo Deus; comprometeram-se nos vários âmbitos da vida social, com competência e profissionalidade, contribuindo de modo eficaz para o bem de todos. A caridade que brota da fé levou-os a dar um testemunho muito concreto, nas acções e nas palavras: Cristo não é um bem só para nós próprios, é o bem mais precioso que temos para partilhar com os outros. Na era da globalização, sede testemunhas da esperança cristã em todo o mundo: são muitos os que desejam receber esta esperança! Diante do sepulcro do amigo Lázaro, morto havia quatro dias, Jesus, antes de o chamar de novo à vida, disse à sua irmã Marta: «Se acreditasses, verias a glória de Deus» (cf. Jo 11, 40). Também vós, se acreditardes, se souberdes viver e testemunhar a vossa fé todos os dias, tornar-vos-eis instrumentos para fazer reencontrar a outros jovens como vós o sentido e a alegria da vida, que nasce do encontro com Cristo!
Rumo à Jornada Mundial de Madrid
6. Queridos amigos, renovo-vos o convite a ir à Jornada Mundial da Juventude a Madrid. É com profunda alegria que espero cada um de vós pessoalmente: Cristo quer tornar-vos firmes na fé através a Igreja. A opção de crer em Cristo e de O seguir não é fácil; é dificultada pelas nossas infidelidades pessoais e por tantas vozes que indicam caminhos mais fáceis. Não vos deixeis desencorajar, procurai antes o apoio da Comunidade cristã, o apoio da Igreja! Ao longo deste ano preparai-vos intensamente para o encontro de Madrid com os vossos Bispos, os vossos sacerdotes e os responsáveis da pastoral juvenil nas dioceses, nas comunidades paroquiais, nas associações e nos movimentos. A qualidade do nosso encontro dependerá sobretudo da preparação espiritual, da oração, da escuta comum da Palavra de Deus e do apoio recíproco.
Amados jovens, a Igreja conta convosco! Precisa da vossa fé viva, da vossa caridade e do dinamismo da vossa esperança. A vossa presença renova a Igreja, rejuvenesce-a e confere-lhe renovado impulso. Por isso as Jornadas Mundiais da Juventude são uma graça não só para vós, mas para todo o Povo de Deus. A Igreja na Espanha está a preparar-se activamente para vos receber e para viver juntos a experiência jubilosa da fé. Agradeço às dioceses, às paróquias, aos santuários, às comunidades religiosas, às associações e aos movimentos eclesiais, que trabalham com generosidade na preparação deste acontecimento. O Senhor não deixará de os abençoar. A Virgem Maria acompanhe este caminho de preparação. Ela, ao anúncio do Anjo, acolheu com fé a Palavra de Deus; com fé consentiu a obra que Deus estava a realizar nela. Pronunciando o seu «fiat», o seu «sim», recebeu o dom de uma caridade imensa, que a levou a doar-se totalmente a Deus. Interceda por cada um e cada uma de vós, para que na próxima Jornada Mundial possais crescer na fé e no amor. Garanto-vos a minha recordação paterna na oração e abençoo-vos de coração.
Vaticano, 6 de Agosto de 2010, Festa da Transfiguração do Senhor.
BENEDICTUS PP. XVI
NOTA DA CNBB SOBRE AS ELEIÇÕES NO BRASIL
BRASÍLIA, sexta-feira, 17 de setembro de 2010 (ZENIT.org) – Apresentamos a nota difundida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) nessa quinta-feira, a respeito das Eleições 2010 no país.
* * *
Constantes interpelações têm chegado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB a respeito de seu posicionamento em relação às eleições do próximo dia 3 de outubro.
Falam em nome da CNBB somente a Assembleia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência. O único pronunciamento oficial da CNBB sobre as eleições/2010 é a Declaração sobre o Momento Político Nacional, aprovada pela 48ª Assembleia Geral da CNBB, deste ano, cujo conteúdo permanece como orientação neste momento de expressão do exercício da cidadania em nosso País.
Nessa Declaração, a CNBB, em consonância com sua missão histórica, mantém a tradição de apresentar princípios éticos, morais e cristãos fundamentais para ajudar os eleitores no discernimento do seu voto visando à consolidação da democracia entre nós.
Reafirmamos, portanto, o que diz a Declaração: “A campanha eleitoral é oportunidade para empenho de todos na reflexão sobre o que precisa ser levado adiante com responsabilidade e o que deve ser modificado, em vista de um Projeto Nacional com participação popular.
Por isso, incentivamos a que todos participem e expressem, através do voto ético, esclarecido e consciente, a sua cidadania nas próximas eleições, superando possíveis desencantos com a política, procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana. Em particular, encorajamos os leigos e as leigas da nossa Igreja a que assumam ativamente seu papel de cidadãos colaborando na construção de um País melhor para todos.
Confiando na intercessão de Nossa Senhora Aparecida, invocamos as bênçãos de Deus para todo o Povo Brasileiro”.
Brasília, 16 de setembro de 2010
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana – MG
Presidente da CNBB
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário Geral da CNBB
* * *
Constantes interpelações têm chegado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB a respeito de seu posicionamento em relação às eleições do próximo dia 3 de outubro.
Falam em nome da CNBB somente a Assembleia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência. O único pronunciamento oficial da CNBB sobre as eleições/2010 é a Declaração sobre o Momento Político Nacional, aprovada pela 48ª Assembleia Geral da CNBB, deste ano, cujo conteúdo permanece como orientação neste momento de expressão do exercício da cidadania em nosso País.
Nessa Declaração, a CNBB, em consonância com sua missão histórica, mantém a tradição de apresentar princípios éticos, morais e cristãos fundamentais para ajudar os eleitores no discernimento do seu voto visando à consolidação da democracia entre nós.
Reafirmamos, portanto, o que diz a Declaração: “A campanha eleitoral é oportunidade para empenho de todos na reflexão sobre o que precisa ser levado adiante com responsabilidade e o que deve ser modificado, em vista de um Projeto Nacional com participação popular.
Por isso, incentivamos a que todos participem e expressem, através do voto ético, esclarecido e consciente, a sua cidadania nas próximas eleições, superando possíveis desencantos com a política, procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana. Em particular, encorajamos os leigos e as leigas da nossa Igreja a que assumam ativamente seu papel de cidadãos colaborando na construção de um País melhor para todos.
Confiando na intercessão de Nossa Senhora Aparecida, invocamos as bênçãos de Deus para todo o Povo Brasileiro”.
Brasília, 16 de setembro de 2010
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana – MG
Presidente da CNBB
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário Geral da CNBB
HOMILIA NA BEATIFICAÇÃO DE JOHN HENRY NEWM
“O coração fala ao coração”
BIRMINGHAM, domingo, 19 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a homilia que Bento XVI pronunciou hoje, ao presidir, no Wimblendon Park de Birmingham, a Celebração Eucarística de beatificação de John Henry Newman (1801-1890), cardeal e fundador dos oratórios de São Felipe Néri, na Inglaterra.
* * *
Queridos irmãos e irmãs em Cristo:
Estamos aqui em Birmingham em um dia realmente feliz. Em primeiro lugar, porque é o dia do Senhor, o domingo, dia em que o Senhor Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e transformou para sempre o curso da história humana, oferecendo vida e esperança a todos os que vivem na escuridão e nas sombras da morte. É a razão pela qual os cristãos do mundo inteiro se reúnem neste dia para louvar e dar graças a Deus pelas maravilhas que Ele fez por nós. Este domingo, em particular, representa também um momento significativo na vida da nação britânica, ao ser o dia escolhido para comemorar o 70º aniversário da Batalha da Inglaterra. Para mim, que estive entre os que viveram e sofreram os escuros dias do regime nazista na Alemanha, é profundamente comovente estar conosco nesta ocasião e poder recordar a tantos concidadãos vossos que sacrificaram suas vidas, resistindo com garra às forças desta ideologia demoníaca. Penso em particular na vizinha Coventry, que sofreu duríssimos bombardeios, com numerosas vítimas, em novembro de 1940. Setenta anos depois, recordamos com vergonha e horror o espantoso preço da morte e destruição que a guerra traz consigo; e renovamos nossa determinação de trabalhar pela paz e pela reconciliação, onde quer que ameace um conflito. Mas existe outra razão, mais alegre, pela qual este dia é especial para a Grã-Bretanha, para o centro da Inglaterra, para Birmingham. Este é o dia em que formalmente o cardeal John Henry Newman foi elevado aos altares e declarado beato.
Agradeço ao arcebispo Bernard Longley por seu cordial acolhimento ao começar a Missa nesta manhã. Agradeço a todos os que trabalharam tão duramente durante tantos anos na promoção da causa do cardeal Newman, incluindo os padres do Oratório de Birmingham e os membros da Família Espiritual Das Werk. E saúdo todos vós, que viestes de diferentes lugares da Grã-Bretanha, Irlanda e outros pontos mais distantes; obrigado pela vossa presença nesta celebração, na qual louvamos e damos glória a Deus pelas virtudes heroicas deste santo inglês.
A Inglaterra tem uma longa tradição de santos mártires, cujo valente testemunho sustentou e inspirou a comunidade católica local durante séculos. É justo e conveniente reconhecer hoje a santidade de um confessor, um filho desta nação que, ainda que não tenha sido chamado a derramar o sangue pelo Senhor, jamais se cansou de dar um testemunho eloquente d'Ele ao longo de uma vida entregue ao ministério sacerdotal, especialmente a pregar, lecionar e escrever. É digno de fazer parte da longa fila de santos e eruditos destas ilhas: São Beda, Santa Hilda, São Aelred, o beato Duns Scot, por nomear apenas alguns. No beato John Newman, esta tradição de delicada erudição, profunda sabedoria humana e amor intenso pelo Senhor deu grandes frutos, como sinal da presença constante do Espírito Santo no coração do povo de Deus, suscitando copiosos dons de santidade.
O lema do cardeal Newman, cor ad cor loquitur, "o coração fala ao coração", oferece-nos a perspectiva da sua compreensão da vida cristã como um chamado à santidade, experimentada como o desejo profundo do coração humano de entrar em comunhão íntima com o coração de Deus. Recorda-nos que a fidelidade à oração vai nos transformando gradualmente em semelhança de Deus. Como escreveu em um dos seus muitos e belos sermões, "o hábito da oração, a prática de buscar Deus e o mundo invisível em cada momento, em cada lugar, em cada emergência... digo-vos que a oração tem o que se pode chamar de efeito natural na alma, espiritualizando-a e elevando-a. Um homem já não é o que era antes; gradualmente (...) se vê imbuído de uma série de ideias novas e se vê impregnado de princípios diferentes" (Sermões Paroquiais e Comuns, IV, 230-231). O Evangelho de hoje afirma que ninguém pode servir a dois senhores (cf. Lc 16, 13), e o Beato John Henry, em seus ensinamentos sobre a oração, esclarece como o fiel cristão toma partido por servir seu único e verdadeiro Mestre, que pede só para si nossa devoção incondicional (cf. Mt 23, 10). Newman nos ajuda a entender em que consiste isso para a nossa vida cotidiana: ele nos diz que nosso divino Mestre confiou uma tarefa específica a cada um de nós, um "serviço concreto", confiado de maneira única a cada pessoa concreta: "Tenho minha missão - escreve -, sou um elo na corrente, um vínculo de união entre pessoas. Ele não me criou para o nada. Farei o bem, farei seu trabalho; serei um anjo de paz, um pregador da verdade no lugar que me é próprio. (...) Se o fizer, eu me manterei em seus mandamentos e O servirei nas minhas tarefas" (Meditação e Devoção, 301-2).
O serviço concreto ao qual o beato John Henry foi chamado incluía a aplicação entusiasta da sua inteligência e sua prolífica caneta a muitas das mais urgentes "questões do dia". Suas intuições sobre a relação entre fé e razão, sobre o lugar vital da religião revelada na sociedade civilizada e sobre a necessidade de uma educação esmerada e ampla foram de grande importância, não somente para a Inglaterra vitoriana. Hoje também continuam inspirando e iluminando muitos no mundo inteiro. Eu gostaria de prestar uma homenagem especial à sua visão da educação, que fez tanto por formar o ethos, que é a força motriz das escolas e faculdades católicas atuais. Firmemente contrário a qualquer enfoque reducionista ou utilitarista, buscou condições educativas nas quais pudesse se unificar o esforço intelectual, a disciplina moral e o compromisso religioso. O projeto de fundar uma universidade católica na Irlanda lhe ofereceu a oportunidade de desenvolver suas ideias a respeito disso; e a coleção de discursos que publicou, com o título "A ideia de uma universidade" sustenta um ideal mediante o qual todos os que estão envolvidos na formação acadêmica podem continuar aprendendo. Mais ainda, que melhor meta podem ter os professores de religião que o famoso convite do beato John Henry sobre leigos inteligentes e bem formados? "Quero um laicado que não seja arrogante nem imprudente na hora de falar, nem alvorotado, mas homens que conheçam bem sua religião, que aprofundem nela, que saibam bem onde estão, que saibam o que têm e o que não têm; que conheçam seu credo a tal ponto, que possam prestar contas dele; que conheçam tão bem a história, que possam defendê-la" (A Posição Atual dos Católicos na Inglaterra, IX, 390). Hoje, quando o autor destas palavras foi elevado aos altares, peço que, por meio da sua intercessão e exemplo, todos os que trabalham no campo da educação e da catequese se inspirem com maior ardor na visão tão clara que ele nos deixou.
Ainda que a extensa produção literária sobre sua vida e obras prestou compreensivelmente maior atenção ao legado intelectual de John Henry Newman, nesta ocasião prefiro concluir com uma breve reflexão sobre sua vida sacerdotal, como pastor de almas. Sua visão do ministério pastoral sob o prisma do afeto e da humanidade está expresso de maneira maravilhosa em outro dos seus famosos sermões: "Se vossos sacerdotes fossem anjos, meus irmãos, eles não poderiam compartilhar convosco a dor, sintonizar convosco, não poderiam ter compaixão de vós, sentir ternura por vós e ser indulgentes convosco, como nós podemos; eles não poderiam ser nem modelos nem guias, e não teriam te levado do teu homem velho à vida nova, como eles, que vêm do nosso meio" (Homens, não anjos: os sacerdotes do Evangelho: discursos às congregações mistas, 3). Ele viveu profundamente esta visão tão humana do ministério sacerdotal, em seus desvelos pastorais pelo povo de Birmingham, durante os anos dedicados ao Oratório que ele mesmo fundou, visitando os doentes e os pobres, consolando os tristes ou atendendo os presos. Não é de surpreender que, ao morrer, milhares de pessoas se aglomeravam nas ruas enquanto seu corpo era transladado ao lugar da sua sepultura, a não mais que meia milha daqui; 120 anos depois, uma grande multidão se reuniu novamente para celebrar o reconhecimento eclesial solene da excepcional santidade deste pai de almas tão amado. Que melhor maneira de expressar nossa alegria deste momento que dirigindo-nos ao nosso Pai do céu com gratidão sincera, rezando com as mesmas palavras que o beato John Henry Newman colocou nos lábios do coro celestial dos anjos?
Praise to the Holiest in the height
And in the depth be praise;
In all his words most wonderful,
Most sure in all his ways!
("Seja louvado o Santíssimo no céu,
seja louvado no abismo;
em todas as suas palavras, o mais maravilhoso,
o mais seguro em todos os seus caminhos")
("O sonho de Gerontius")
[Tradução: Aline Banchieri.
© Libreria Editrice Vaticana]
BIRMINGHAM, domingo, 19 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a homilia que Bento XVI pronunciou hoje, ao presidir, no Wimblendon Park de Birmingham, a Celebração Eucarística de beatificação de John Henry Newman (1801-1890), cardeal e fundador dos oratórios de São Felipe Néri, na Inglaterra.
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Queridos irmãos e irmãs em Cristo:
Estamos aqui em Birmingham em um dia realmente feliz. Em primeiro lugar, porque é o dia do Senhor, o domingo, dia em que o Senhor Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e transformou para sempre o curso da história humana, oferecendo vida e esperança a todos os que vivem na escuridão e nas sombras da morte. É a razão pela qual os cristãos do mundo inteiro se reúnem neste dia para louvar e dar graças a Deus pelas maravilhas que Ele fez por nós. Este domingo, em particular, representa também um momento significativo na vida da nação britânica, ao ser o dia escolhido para comemorar o 70º aniversário da Batalha da Inglaterra. Para mim, que estive entre os que viveram e sofreram os escuros dias do regime nazista na Alemanha, é profundamente comovente estar conosco nesta ocasião e poder recordar a tantos concidadãos vossos que sacrificaram suas vidas, resistindo com garra às forças desta ideologia demoníaca. Penso em particular na vizinha Coventry, que sofreu duríssimos bombardeios, com numerosas vítimas, em novembro de 1940. Setenta anos depois, recordamos com vergonha e horror o espantoso preço da morte e destruição que a guerra traz consigo; e renovamos nossa determinação de trabalhar pela paz e pela reconciliação, onde quer que ameace um conflito. Mas existe outra razão, mais alegre, pela qual este dia é especial para a Grã-Bretanha, para o centro da Inglaterra, para Birmingham. Este é o dia em que formalmente o cardeal John Henry Newman foi elevado aos altares e declarado beato.
Agradeço ao arcebispo Bernard Longley por seu cordial acolhimento ao começar a Missa nesta manhã. Agradeço a todos os que trabalharam tão duramente durante tantos anos na promoção da causa do cardeal Newman, incluindo os padres do Oratório de Birmingham e os membros da Família Espiritual Das Werk. E saúdo todos vós, que viestes de diferentes lugares da Grã-Bretanha, Irlanda e outros pontos mais distantes; obrigado pela vossa presença nesta celebração, na qual louvamos e damos glória a Deus pelas virtudes heroicas deste santo inglês.
A Inglaterra tem uma longa tradição de santos mártires, cujo valente testemunho sustentou e inspirou a comunidade católica local durante séculos. É justo e conveniente reconhecer hoje a santidade de um confessor, um filho desta nação que, ainda que não tenha sido chamado a derramar o sangue pelo Senhor, jamais se cansou de dar um testemunho eloquente d'Ele ao longo de uma vida entregue ao ministério sacerdotal, especialmente a pregar, lecionar e escrever. É digno de fazer parte da longa fila de santos e eruditos destas ilhas: São Beda, Santa Hilda, São Aelred, o beato Duns Scot, por nomear apenas alguns. No beato John Newman, esta tradição de delicada erudição, profunda sabedoria humana e amor intenso pelo Senhor deu grandes frutos, como sinal da presença constante do Espírito Santo no coração do povo de Deus, suscitando copiosos dons de santidade.
O lema do cardeal Newman, cor ad cor loquitur, "o coração fala ao coração", oferece-nos a perspectiva da sua compreensão da vida cristã como um chamado à santidade, experimentada como o desejo profundo do coração humano de entrar em comunhão íntima com o coração de Deus. Recorda-nos que a fidelidade à oração vai nos transformando gradualmente em semelhança de Deus. Como escreveu em um dos seus muitos e belos sermões, "o hábito da oração, a prática de buscar Deus e o mundo invisível em cada momento, em cada lugar, em cada emergência... digo-vos que a oração tem o que se pode chamar de efeito natural na alma, espiritualizando-a e elevando-a. Um homem já não é o que era antes; gradualmente (...) se vê imbuído de uma série de ideias novas e se vê impregnado de princípios diferentes" (Sermões Paroquiais e Comuns, IV, 230-231). O Evangelho de hoje afirma que ninguém pode servir a dois senhores (cf. Lc 16, 13), e o Beato John Henry, em seus ensinamentos sobre a oração, esclarece como o fiel cristão toma partido por servir seu único e verdadeiro Mestre, que pede só para si nossa devoção incondicional (cf. Mt 23, 10). Newman nos ajuda a entender em que consiste isso para a nossa vida cotidiana: ele nos diz que nosso divino Mestre confiou uma tarefa específica a cada um de nós, um "serviço concreto", confiado de maneira única a cada pessoa concreta: "Tenho minha missão - escreve -, sou um elo na corrente, um vínculo de união entre pessoas. Ele não me criou para o nada. Farei o bem, farei seu trabalho; serei um anjo de paz, um pregador da verdade no lugar que me é próprio. (...) Se o fizer, eu me manterei em seus mandamentos e O servirei nas minhas tarefas" (Meditação e Devoção, 301-2).
O serviço concreto ao qual o beato John Henry foi chamado incluía a aplicação entusiasta da sua inteligência e sua prolífica caneta a muitas das mais urgentes "questões do dia". Suas intuições sobre a relação entre fé e razão, sobre o lugar vital da religião revelada na sociedade civilizada e sobre a necessidade de uma educação esmerada e ampla foram de grande importância, não somente para a Inglaterra vitoriana. Hoje também continuam inspirando e iluminando muitos no mundo inteiro. Eu gostaria de prestar uma homenagem especial à sua visão da educação, que fez tanto por formar o ethos, que é a força motriz das escolas e faculdades católicas atuais. Firmemente contrário a qualquer enfoque reducionista ou utilitarista, buscou condições educativas nas quais pudesse se unificar o esforço intelectual, a disciplina moral e o compromisso religioso. O projeto de fundar uma universidade católica na Irlanda lhe ofereceu a oportunidade de desenvolver suas ideias a respeito disso; e a coleção de discursos que publicou, com o título "A ideia de uma universidade" sustenta um ideal mediante o qual todos os que estão envolvidos na formação acadêmica podem continuar aprendendo. Mais ainda, que melhor meta podem ter os professores de religião que o famoso convite do beato John Henry sobre leigos inteligentes e bem formados? "Quero um laicado que não seja arrogante nem imprudente na hora de falar, nem alvorotado, mas homens que conheçam bem sua religião, que aprofundem nela, que saibam bem onde estão, que saibam o que têm e o que não têm; que conheçam seu credo a tal ponto, que possam prestar contas dele; que conheçam tão bem a história, que possam defendê-la" (A Posição Atual dos Católicos na Inglaterra, IX, 390). Hoje, quando o autor destas palavras foi elevado aos altares, peço que, por meio da sua intercessão e exemplo, todos os que trabalham no campo da educação e da catequese se inspirem com maior ardor na visão tão clara que ele nos deixou.
Ainda que a extensa produção literária sobre sua vida e obras prestou compreensivelmente maior atenção ao legado intelectual de John Henry Newman, nesta ocasião prefiro concluir com uma breve reflexão sobre sua vida sacerdotal, como pastor de almas. Sua visão do ministério pastoral sob o prisma do afeto e da humanidade está expresso de maneira maravilhosa em outro dos seus famosos sermões: "Se vossos sacerdotes fossem anjos, meus irmãos, eles não poderiam compartilhar convosco a dor, sintonizar convosco, não poderiam ter compaixão de vós, sentir ternura por vós e ser indulgentes convosco, como nós podemos; eles não poderiam ser nem modelos nem guias, e não teriam te levado do teu homem velho à vida nova, como eles, que vêm do nosso meio" (Homens, não anjos: os sacerdotes do Evangelho: discursos às congregações mistas, 3). Ele viveu profundamente esta visão tão humana do ministério sacerdotal, em seus desvelos pastorais pelo povo de Birmingham, durante os anos dedicados ao Oratório que ele mesmo fundou, visitando os doentes e os pobres, consolando os tristes ou atendendo os presos. Não é de surpreender que, ao morrer, milhares de pessoas se aglomeravam nas ruas enquanto seu corpo era transladado ao lugar da sua sepultura, a não mais que meia milha daqui; 120 anos depois, uma grande multidão se reuniu novamente para celebrar o reconhecimento eclesial solene da excepcional santidade deste pai de almas tão amado. Que melhor maneira de expressar nossa alegria deste momento que dirigindo-nos ao nosso Pai do céu com gratidão sincera, rezando com as mesmas palavras que o beato John Henry Newman colocou nos lábios do coro celestial dos anjos?
Praise to the Holiest in the height
And in the depth be praise;
In all his words most wonderful,
Most sure in all his ways!
("Seja louvado o Santíssimo no céu,
seja louvado no abismo;
em todas as suas palavras, o mais maravilhoso,
o mais seguro em todos os seus caminhos")
("O sonho de Gerontius")
[Tradução: Aline Banchieri.
© Libreria Editrice Vaticana]
CATEQUESE DO PAPA: “FALEI AO CORAÇÃO DE TODOS OS INGLESES”
Intervenção na audiência geral de hoje
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 22 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a intervenção do Papa Bento XVI durante a audiência geral, realizada na Praça de São Pedro, com os milhares de peregrinos procedentes do mundo inteiro.
* * *
Queridos irmãos e irmãs:
Hoje, eu gostaria de falar da viagem apostólica ao Reino Unido, que Deus me concedeu realizar na semana passada. Foi uma visita oficial e, ao mesmo tempo, uma peregrinação ao coração da história e do hoje de um povo rico de cultura e de fé, como o caso do britânico. Foi um acontecimento histórico, que marcou uma nova fase importante na longa e complexa história das relações entre essas populações e a Santa Sé. O principal objetivo da visita era proclamar beato o cardeal John Henry Newman, um dos maiores ingleses da sua época, insigne teólogo e homem de Igreja. De fato, a cerimônia de beatificação representou o principal momento da viagem apostólica, cujo tema estava inspirado no lema do cardeal Newman: "O coração fala ao coração". E nos quatro intensos e belíssimos dias transcorridos nesta nobre terra, tive a grande alegria de falar ao coração dos habitantes do Reino Unido, e eles falaram ao meu, especialmente com sua presença e com o testemunho da sua fé. Pude, de fato, constatar como a herança cristã ainda é forte e inclusive ativa em todos os estratos da vida social. O coração dos britânicos e sua existência estão abertos à realidade de Deus e há numerosas expressões de religiosidade que esta minha visita evidenciou ainda mais.
Desde o primeiro dia da minha permanência no Reino Unido - e durante todo o período da minha estadia -, recebi em todos os lugares um caloroso acolhimento por parte das autoridades, dos representantes das diversas realidades sociais, dos representantes das diferentes confissões religiosas e especialmente das pessoas comuns. Penso particularmente nos fiéis da comunidade católica e em seus pastores que, ainda sendo minoria no país, são muito estimados e considerados, comprometidos no anúncio alegre de Jesus Cristo, fazendo o Senhor resplandecer e tornando-se sua voz, especialmente entre os últimos. A todos renovo a expressão da minha profunda gratidão, pelo entusiasmo demonstrado e pela excelente diligência com que trabalharam pelo êxito desta visita minha, cuja lembrança conservarei para sempre no coração.
O primeiro encontro foi em Edimburgo, com Sua Majestade a rainha Elizabeth II, que, juntamente com seu consorte, o Duque de Edimburgo, acolheu-me com grande afeto em nome de todo o povo britânico. Foi um encontro muito cordial, caracterizado pela partilha de algumas profundas preocupações referentes ao bem-estar dos povos do mundo e pelo papel dos valores cristãos na sociedade. Na histórica capital da Escócia, pude admirar as belezas artísticas, testemunho de uma rica tradição e de profundas raízes cristãs. Fiz referência a isso no discurso a Sua Majestade e às autoridades presentes, recordando que a mensagem cristã se converteu em parte integrante da língua, do pensamento e da cultura dos povos destas ilhas. Falei também do papel que a Grã-Bretanha teve e continua tendo no panorama internacional, mencionando a importância dos passos levados a cabo para uma pacificação justa e duradoura na Irlanda do Norte.
A atmosfera de festa e de alegria criada pelos jovens e crianças alegrou a etapa de Edimburgo. Ao chegar depois a Glasgow, cidade embelezada por encantadores parques, presidi a primeira Santa Missa da viagem, precisamente no Bellahouston Park. Foi um momento de intensa espiritualidade, muito importante para os católicos do país, também considerando o fato de que naquele dia se celebrava a festa litúrgica de São Ninian, primeiro evangelizador da Escócia. Nessa assembleia litúrgica reunida em oração atenta e compartilhada, que ficou ainda mais solene pelas melodias tradicionais e cantos, recordei a importância da evangelização da cultura, especialmente em nossa época, na qual um relativismo penetrante ameaça escurecer a imutável verdade sobre a natureza do homem.
No segundo dia, comecei a visita a Londres. Lá encontrei, em primeiro lugar, o mundo da educação católica, que tem um papel relevante no sistema de instrução desse país. Em um autêntico clima de família, falei aos educadores, recordando a importância da fé na formação de cidadãos maduros e responsáveis. Aos numerosos adolescentes e jovens, que me acolheram com alegria e entusiasmo, propus que não buscassem objetivos limitados, contentando-se com escolhas cômodas, mas que procurassem algo maior, isto é, a busca da verdadeira felicidade que se encontra somente em Deus. No seguinte encontro, com os responsáveis das demais religiões majoritariamente presentes no Reino Unido, recordei a ineludível necessidade de um diálogo sincero, que precisa do respeito ao princípio de reciprocidade para que seja plenamente frutífero. Ao mesmo tempo, evidenciei a busca do sagrado como campo comum a todas as religiões, sobre o qual é preciso reforçar a amizade, a confiança e a colaboração.
A visita fraterna ao arcebispo da Cantuária foi a oportunidade para reafirmar o compromisso comum de dar testemunho da mensagem cristã que une católicos e anglicanos. Foi seguido por um dos momentos mais significativos da viagem apostólica: o encontro, na grande sala do Parlamento britânico, com personalidades institucionais, políticas, diplomáticas, acadêmicas, religiosas, representantes do mundo cultural e empresarial. Nesse lugar tão prestigioso, sublinhei que a religião, para os legisladores, não deve representar um problema a ser resolvido, mas um fator que contribui de forma vital para o caminho histórico e para o debate público da nação, em particular ao recordar a importância essencial do fundamento ético para as decisões nos diversos setores da vida social.
Nesse mesmo clima solene, dirigi-me depois à abadia de Westminster: pela primeira vez, um sucessor de Pedro estava no lugar de culto símbolo das antiquíssimas raízes cristãs do país. A recitação da oração das Vésperas, junto às diversas comunidades cristãs do Reino Unido, representou um momento importante nas relações entre a comunidade católica e a Comunhão Anglicana. Quando veneramos juntos o túmulo de São Eduardo o Confessor, enquanto o coral cantava Congregavit nos in unum Christi amor, todos nós louvamos Deus, que nos conduz no caminho rumo à unidade plena.
Na manhã do sábado, o encontro com o primeiro-ministro abriu a série de encontros com os maiores representantes do mundo político britânico. Foi seguida da Celebração Eucarística na catedral de Westminster, dedicada ao Preciosíssimo Sangue do Nosso Senhor. Foi um extraordinário momento de fé e de oração - que evidenciou a rica e belíssima tradição de música litúrgica "romana" e "inglesa" - da qual participaram os diversos componentes eclesiais, espiritualmente unidos à multidão de crentes da longa história cristã dessa terra. É enorme minha alegria por ter encontrado um grande número de jovens que participavam da Santa Missa do exterior da catedral. Com sua presença cheia de entusiasmo e ao mesmo tempo atenta e ansiosa, demonstraram querer ser os protagonistas de uma nova etapa de testemunho valente, de solidariedade com os fatos, de generoso compromisso ao serviço do Evangelho.
Na nunciatura apostólica, encontrei-me com algumas vítimas de abusos por parte de membros do clero e de religiosos. Foi um momento intenso de comoção e oração. Pouco depois, encontrei-me também com um grupo de profissionais e voluntários responsáveis pela proteção das crianças e dos jovens nos ambientes eclesiais, um aspecto particularmente importante e presente no compromisso pastoral da Igreja. Eu os agradeci e incentivei a continuar seu trabalho, que se insere na longa tradição da Igreja de cuidado pelo respeito, educação e formação das novas gerações. Também em Londres, visitei a casa de repouso de idosos, a cargo das Irmãzinhas dos Pobres, com a belíssima contribuição de numerosas enfermeiras e voluntários. Esta estrutura de acolhimento é sinal da grande consideração que a Igreja teve sempre pelo idoso, como também expressão do compromisso dos católicos britânicos no respeito à vida sem levar em consideração a idade ou as condições.
Como comentei, o cume da minha visita ao Reino Unido foi a beatificação do cardeal John Henry Newman, ilustre filho da Inglaterra. Esta foi precedida e preparada por uma vigília especial de oração que aconteceu no sábado à noite em Londres, no Hyde Park, em uma atmosfera de profundo recolhimento. À multidão de fiéis, especialmente os jovens, quis voltar a propor a luminosa figura do cardeal Newman, intelectual e crente, cuja mensagem espiritual pode se resumir no testemunho de que o caminho do conhecimento não é o fechamento no próprio "eu", e sim a abertura, a conversão e a obediência Àquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. O rito de beatificação aconteceu em Birmingham, durante a solene Celebração Eucarística dominical, com a presença de uma grande multidão procedente de toda Grã-Bretanha e da Irlanda, com representações de muitos outros países. Este impressionante acontecimento destacou ainda mais um erudito de tal grandeza, um insigne escritor e poeta, um sábio homem de Deus, cujo pensamento iluminou muitas consciências e que ainda hoje exerce um fascínio extraordinário. Que nele, em particular, se inspirem os crentes e as comunidades eclesiais do Reino Unido, para que também em nossos dias essa nobre terra continue produzindo frutos abundantes de vida evangélica.
O encontro com a Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales e com a da Escócia concluiu um dia de grande festa e de intensa comunhão de corações para a comunidade católica na Grã-Bretanha.
Queridos irmãos e irmãs, nesta minha visita ao Reino Unido, como sempre, quis sustentar em primeiro lugar a comunidade católica, incentivando-a a trabalhar sem cessar para defender as verdades morais imutáveis que, retomadas, iluminadas e confirmadas pelo Evangelho, estão na base de uma sociedade verdadeiramente humana, justa e livre. Quis também falar ao coração de todos os habitantes do Reino Unido, sem excluir ninguém, da verdadeira realidade do homem, das suas necessidades mais profundas, do seu destino último. Ao dirigir-me aos cidadãos desse país, encruzilhada da cultura e da economia mundiais, tive presente todo o Ocidente, dialogando com as razões desta civilização e comunicando a perene novidade do Evangelho, da qual ela está impregnada. Esta viagem apostólica confirmou em mim uma convicção profunda: as antigas nações da Europa têm uma alma cristã, que constitui uma unidade com o "gênio" e a história dos respectivos povos, e a Igreja não deixa de trabalhar para manter continuamente em pé esta tradição espiritual e cultural.
O beato John Henry Newman, cuja figura e escritos conservam ainda uma atualidade extraordinária, merece ser conhecido por todos. Que ele sustente os propósitos e os esforços dos cristãos para "difundir em todos os lugares o perfume de Cristo, para que toda a sua vida seja só uma irradiação da sua", como ele escrevia sabiamente em seu livro "Irradiar Cristo".
[No final da audiência, o Papa cumprimentou os fiéis em diversos idiomas. Estas foram suas palavras em português:]
Queridos irmãos e irmãs, Na semana passada, Deus concedeu-me a graça de visitar a Inglaterra e lá proclamar beato o cardeal Henry Newman, brilhante figura de intelectual e crente, cuja mensagem espiritual mostra como o caminho da consciência não é fecharmo-nos em nós mesmos, mas abertura, conversão e obediência a Cristo que é Caminho, Verdade e Vida. Nas palavras que dirigi aos cidadãos daquela Nação, tive presente todo o Ocidente, procurando dialogar com as razões desta civilização e comunicar a novidade perene do Evangelho de que ela está ainda impregnada. Esta visita apostólica confirmou em mim uma profunda convicção: as antigas nações da Europa conservam uma alma cristã, que forma um todo com o gênio e a história dos respectivos povos. E se há um secularismo agressivo que ameaça os valores fundamentais, a Igreja não se cansa de trabalhar para manter desperta esta tradição espiritual e cultural. Amados peregrinos de língua portuguesa, cordiais saudações para todos vós, de modo especial para os fiéis de Campinas, da paróquia Beato José de Anchieta de Cambuí. Continuai a defender aquelas verdades morais imutáveis que, iluminadas e confirmadas pelo Evangelho, estão na base de uma sociedade verdadeiramente humana, justa e livre. Sobre vós e vossas famílias desça a minha bênção.
[Tradução: Aline Banchieri.
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 22 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a intervenção do Papa Bento XVI durante a audiência geral, realizada na Praça de São Pedro, com os milhares de peregrinos procedentes do mundo inteiro.
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Queridos irmãos e irmãs:
Hoje, eu gostaria de falar da viagem apostólica ao Reino Unido, que Deus me concedeu realizar na semana passada. Foi uma visita oficial e, ao mesmo tempo, uma peregrinação ao coração da história e do hoje de um povo rico de cultura e de fé, como o caso do britânico. Foi um acontecimento histórico, que marcou uma nova fase importante na longa e complexa história das relações entre essas populações e a Santa Sé. O principal objetivo da visita era proclamar beato o cardeal John Henry Newman, um dos maiores ingleses da sua época, insigne teólogo e homem de Igreja. De fato, a cerimônia de beatificação representou o principal momento da viagem apostólica, cujo tema estava inspirado no lema do cardeal Newman: "O coração fala ao coração". E nos quatro intensos e belíssimos dias transcorridos nesta nobre terra, tive a grande alegria de falar ao coração dos habitantes do Reino Unido, e eles falaram ao meu, especialmente com sua presença e com o testemunho da sua fé. Pude, de fato, constatar como a herança cristã ainda é forte e inclusive ativa em todos os estratos da vida social. O coração dos britânicos e sua existência estão abertos à realidade de Deus e há numerosas expressões de religiosidade que esta minha visita evidenciou ainda mais.
Desde o primeiro dia da minha permanência no Reino Unido - e durante todo o período da minha estadia -, recebi em todos os lugares um caloroso acolhimento por parte das autoridades, dos representantes das diversas realidades sociais, dos representantes das diferentes confissões religiosas e especialmente das pessoas comuns. Penso particularmente nos fiéis da comunidade católica e em seus pastores que, ainda sendo minoria no país, são muito estimados e considerados, comprometidos no anúncio alegre de Jesus Cristo, fazendo o Senhor resplandecer e tornando-se sua voz, especialmente entre os últimos. A todos renovo a expressão da minha profunda gratidão, pelo entusiasmo demonstrado e pela excelente diligência com que trabalharam pelo êxito desta visita minha, cuja lembrança conservarei para sempre no coração.
O primeiro encontro foi em Edimburgo, com Sua Majestade a rainha Elizabeth II, que, juntamente com seu consorte, o Duque de Edimburgo, acolheu-me com grande afeto em nome de todo o povo britânico. Foi um encontro muito cordial, caracterizado pela partilha de algumas profundas preocupações referentes ao bem-estar dos povos do mundo e pelo papel dos valores cristãos na sociedade. Na histórica capital da Escócia, pude admirar as belezas artísticas, testemunho de uma rica tradição e de profundas raízes cristãs. Fiz referência a isso no discurso a Sua Majestade e às autoridades presentes, recordando que a mensagem cristã se converteu em parte integrante da língua, do pensamento e da cultura dos povos destas ilhas. Falei também do papel que a Grã-Bretanha teve e continua tendo no panorama internacional, mencionando a importância dos passos levados a cabo para uma pacificação justa e duradoura na Irlanda do Norte.
A atmosfera de festa e de alegria criada pelos jovens e crianças alegrou a etapa de Edimburgo. Ao chegar depois a Glasgow, cidade embelezada por encantadores parques, presidi a primeira Santa Missa da viagem, precisamente no Bellahouston Park. Foi um momento de intensa espiritualidade, muito importante para os católicos do país, também considerando o fato de que naquele dia se celebrava a festa litúrgica de São Ninian, primeiro evangelizador da Escócia. Nessa assembleia litúrgica reunida em oração atenta e compartilhada, que ficou ainda mais solene pelas melodias tradicionais e cantos, recordei a importância da evangelização da cultura, especialmente em nossa época, na qual um relativismo penetrante ameaça escurecer a imutável verdade sobre a natureza do homem.
No segundo dia, comecei a visita a Londres. Lá encontrei, em primeiro lugar, o mundo da educação católica, que tem um papel relevante no sistema de instrução desse país. Em um autêntico clima de família, falei aos educadores, recordando a importância da fé na formação de cidadãos maduros e responsáveis. Aos numerosos adolescentes e jovens, que me acolheram com alegria e entusiasmo, propus que não buscassem objetivos limitados, contentando-se com escolhas cômodas, mas que procurassem algo maior, isto é, a busca da verdadeira felicidade que se encontra somente em Deus. No seguinte encontro, com os responsáveis das demais religiões majoritariamente presentes no Reino Unido, recordei a ineludível necessidade de um diálogo sincero, que precisa do respeito ao princípio de reciprocidade para que seja plenamente frutífero. Ao mesmo tempo, evidenciei a busca do sagrado como campo comum a todas as religiões, sobre o qual é preciso reforçar a amizade, a confiança e a colaboração.
A visita fraterna ao arcebispo da Cantuária foi a oportunidade para reafirmar o compromisso comum de dar testemunho da mensagem cristã que une católicos e anglicanos. Foi seguido por um dos momentos mais significativos da viagem apostólica: o encontro, na grande sala do Parlamento britânico, com personalidades institucionais, políticas, diplomáticas, acadêmicas, religiosas, representantes do mundo cultural e empresarial. Nesse lugar tão prestigioso, sublinhei que a religião, para os legisladores, não deve representar um problema a ser resolvido, mas um fator que contribui de forma vital para o caminho histórico e para o debate público da nação, em particular ao recordar a importância essencial do fundamento ético para as decisões nos diversos setores da vida social.
Nesse mesmo clima solene, dirigi-me depois à abadia de Westminster: pela primeira vez, um sucessor de Pedro estava no lugar de culto símbolo das antiquíssimas raízes cristãs do país. A recitação da oração das Vésperas, junto às diversas comunidades cristãs do Reino Unido, representou um momento importante nas relações entre a comunidade católica e a Comunhão Anglicana. Quando veneramos juntos o túmulo de São Eduardo o Confessor, enquanto o coral cantava Congregavit nos in unum Christi amor, todos nós louvamos Deus, que nos conduz no caminho rumo à unidade plena.
Na manhã do sábado, o encontro com o primeiro-ministro abriu a série de encontros com os maiores representantes do mundo político britânico. Foi seguida da Celebração Eucarística na catedral de Westminster, dedicada ao Preciosíssimo Sangue do Nosso Senhor. Foi um extraordinário momento de fé e de oração - que evidenciou a rica e belíssima tradição de música litúrgica "romana" e "inglesa" - da qual participaram os diversos componentes eclesiais, espiritualmente unidos à multidão de crentes da longa história cristã dessa terra. É enorme minha alegria por ter encontrado um grande número de jovens que participavam da Santa Missa do exterior da catedral. Com sua presença cheia de entusiasmo e ao mesmo tempo atenta e ansiosa, demonstraram querer ser os protagonistas de uma nova etapa de testemunho valente, de solidariedade com os fatos, de generoso compromisso ao serviço do Evangelho.
Na nunciatura apostólica, encontrei-me com algumas vítimas de abusos por parte de membros do clero e de religiosos. Foi um momento intenso de comoção e oração. Pouco depois, encontrei-me também com um grupo de profissionais e voluntários responsáveis pela proteção das crianças e dos jovens nos ambientes eclesiais, um aspecto particularmente importante e presente no compromisso pastoral da Igreja. Eu os agradeci e incentivei a continuar seu trabalho, que se insere na longa tradição da Igreja de cuidado pelo respeito, educação e formação das novas gerações. Também em Londres, visitei a casa de repouso de idosos, a cargo das Irmãzinhas dos Pobres, com a belíssima contribuição de numerosas enfermeiras e voluntários. Esta estrutura de acolhimento é sinal da grande consideração que a Igreja teve sempre pelo idoso, como também expressão do compromisso dos católicos britânicos no respeito à vida sem levar em consideração a idade ou as condições.
Como comentei, o cume da minha visita ao Reino Unido foi a beatificação do cardeal John Henry Newman, ilustre filho da Inglaterra. Esta foi precedida e preparada por uma vigília especial de oração que aconteceu no sábado à noite em Londres, no Hyde Park, em uma atmosfera de profundo recolhimento. À multidão de fiéis, especialmente os jovens, quis voltar a propor a luminosa figura do cardeal Newman, intelectual e crente, cuja mensagem espiritual pode se resumir no testemunho de que o caminho do conhecimento não é o fechamento no próprio "eu", e sim a abertura, a conversão e a obediência Àquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. O rito de beatificação aconteceu em Birmingham, durante a solene Celebração Eucarística dominical, com a presença de uma grande multidão procedente de toda Grã-Bretanha e da Irlanda, com representações de muitos outros países. Este impressionante acontecimento destacou ainda mais um erudito de tal grandeza, um insigne escritor e poeta, um sábio homem de Deus, cujo pensamento iluminou muitas consciências e que ainda hoje exerce um fascínio extraordinário. Que nele, em particular, se inspirem os crentes e as comunidades eclesiais do Reino Unido, para que também em nossos dias essa nobre terra continue produzindo frutos abundantes de vida evangélica.
O encontro com a Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales e com a da Escócia concluiu um dia de grande festa e de intensa comunhão de corações para a comunidade católica na Grã-Bretanha.
Queridos irmãos e irmãs, nesta minha visita ao Reino Unido, como sempre, quis sustentar em primeiro lugar a comunidade católica, incentivando-a a trabalhar sem cessar para defender as verdades morais imutáveis que, retomadas, iluminadas e confirmadas pelo Evangelho, estão na base de uma sociedade verdadeiramente humana, justa e livre. Quis também falar ao coração de todos os habitantes do Reino Unido, sem excluir ninguém, da verdadeira realidade do homem, das suas necessidades mais profundas, do seu destino último. Ao dirigir-me aos cidadãos desse país, encruzilhada da cultura e da economia mundiais, tive presente todo o Ocidente, dialogando com as razões desta civilização e comunicando a perene novidade do Evangelho, da qual ela está impregnada. Esta viagem apostólica confirmou em mim uma convicção profunda: as antigas nações da Europa têm uma alma cristã, que constitui uma unidade com o "gênio" e a história dos respectivos povos, e a Igreja não deixa de trabalhar para manter continuamente em pé esta tradição espiritual e cultural.
O beato John Henry Newman, cuja figura e escritos conservam ainda uma atualidade extraordinária, merece ser conhecido por todos. Que ele sustente os propósitos e os esforços dos cristãos para "difundir em todos os lugares o perfume de Cristo, para que toda a sua vida seja só uma irradiação da sua", como ele escrevia sabiamente em seu livro "Irradiar Cristo".
[No final da audiência, o Papa cumprimentou os fiéis em diversos idiomas. Estas foram suas palavras em português:]
Queridos irmãos e irmãs, Na semana passada, Deus concedeu-me a graça de visitar a Inglaterra e lá proclamar beato o cardeal Henry Newman, brilhante figura de intelectual e crente, cuja mensagem espiritual mostra como o caminho da consciência não é fecharmo-nos em nós mesmos, mas abertura, conversão e obediência a Cristo que é Caminho, Verdade e Vida. Nas palavras que dirigi aos cidadãos daquela Nação, tive presente todo o Ocidente, procurando dialogar com as razões desta civilização e comunicar a novidade perene do Evangelho de que ela está ainda impregnada. Esta visita apostólica confirmou em mim uma profunda convicção: as antigas nações da Europa conservam uma alma cristã, que forma um todo com o gênio e a história dos respectivos povos. E se há um secularismo agressivo que ameaça os valores fundamentais, a Igreja não se cansa de trabalhar para manter desperta esta tradição espiritual e cultural. Amados peregrinos de língua portuguesa, cordiais saudações para todos vós, de modo especial para os fiéis de Campinas, da paróquia Beato José de Anchieta de Cambuí. Continuai a defender aquelas verdades morais imutáveis que, iluminadas e confirmadas pelo Evangelho, estão na base de uma sociedade verdadeiramente humana, justa e livre. Sobre vós e vossas famílias desça a minha bênção.
[Tradução: Aline Banchieri.
"Desejemos e pratiquemos a oração não a fim de nos satisfazer, mas termos força no serviço de Deus."
(Santa Teresa de Jesus)
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2010/09/25
Para que servem minhas fraquezas?
Nossa meta maior sempre será retornar para Deus!
Entretanto, os caminhos desta estrada de volta revelarão sempre a pessoa que somos, nossas virtudes e fracassos. Das virtudes, gostamos até demais delas! Dos fracassos, até nos causam pânico!
Quem se aproxima um pouco mais de Deus pela oração e direção espiritual, vai entendendo aos poucos que nossas fraquezas são amigas que, se ouvidas com vigilância e humildade, nos conduzirão para uma contínua conversão.
São Pe. Pio de Pieltrecina afirma que "se Deus permite que você vacile em alguma fraqueza, não é porque o abandonou; ao contrário, Ele está o fortalecendo na humildade e na vigilância."
Por isso, não tenha medo! Suas fraquezas podem ser, hoje, suas maiores e mais importantes aliadas!
Já havia pensado assim?
Deixe seu comentário sobre esta mensagem no blog.cancaonova.com/ricardosa..
Com carinho e orações,
Seu irmão,
Ricardo Sá
É preciso conciliar tempo para trabalho e família, diz Papa
Da Redação, com agências
A sala de imprensa da Santa Sé apresentou nesta sexta-feira, 24, a carta enviada pelo Papa Bento XVI ao presidente do Pontifício Conselho para a Família, Cardeal Ennio Antonelli. Na mensagem, o Santo Padre confirmou o VII Encontro Mundial das Famílias, que será realizado entre 30 de maio e 3 de junho de 2012, em Milão, na Itália, e fez uma reflexão sobre o tema do evento: "A Família: o trabalho e a festa”.
“O trabalho e a festa - explicou Bento XVI no documento - estão intimamente relacionados com a vida das famílias, pois condicionam as escolhas, influenciam as relações entre os cônjuges e entre pais e filhos, além de influenciarem nas relações das famílias com a sociedade e a Igreja".
“Nos nossos tempos atuais – disse o Papa -, infelizmente, a organização do trabalho baseada na competição do mercado e do lucro máximo, bem como a utilização das festas como ‘válvulas de escape’ contribuem para a desagregação da estrutura familiar e para o condicionamento de um estilo de vida individualista”.
"Por isso, é necessário promover uma reflexão e um compromisso para conciliar as exigências e os tempos do trabalho com os da família, e recuperar o verdadeiro sentido da festa, especialmente do domingo, páscoa semanal, dia do Senhor e dia do homem, dia da família, da comunidade e da solidariedade".
O Papa escreve que "o próximo Encontro Mundial das Famílias é uma ocasião privilegiada para voltar a expor o trabalho e a festa na perspectiva de uma família unida e aberta à vida, bem integrada na sociedade e na Igreja, atenta contra a qualidade das relações e a economia do núcleo familiar".
Seguidamente o Santo Padre expressa seu desejo de que já no ano 2011 (no 30° aniversário da exortação apostólica ‘Familiaris consortio’ de João Paulo II), "carta magna" da pastoral familiar, comece um itinerário com iniciativas em nível paroquial, diocesano e nacional, com o fim de "destacar as experiências de trabalho e de festa em seus aspectos mais reais e positivos, com especial insistência na incidência sobre a experiência de vida concreta das famílias".
Ao final da carta, o Santo Padre assinala que o VII Encontro Mundial, como os iores, durará cinco dias e culminará no sábado a noite com a ‘Festa dos testemunhos’ e na manhã do domingo com a Missa solene. Nestas duas celebrações, que presidirei, reuniremo-nos como ‘família de famílias’".
Comentando o tema da carta, o Cardeal Antonelli se referiu aos problemas que afetam a família e advertiu que "se privatiza e se reduz a um lugar de afetos e de gratificação individual; não recebe o adequado apoio cultural, jurídico, econômico e político; sofre o oneroso condicionamento de dinâmicas desintegrantes complexas, entre as que têm uma influência significativa a organização do trabalho e o declive da festa ao "tempo livre".
Neste sentido, sublinhou que o tema do Encontro de Milão "pode supor uma importante contribuição à defesa e promoção dos valores humanos autênticos no mundo atual, começando por novos estilos de vida familiar".
Participaram também da coletiva o Bispo Jean Laffitte, Dom Carlos Simón Vázquez e o padre Gianfranco Grieco, respectivamente secretário, subsecretário e chefe de escritório do Pontifício Conselho para a Família; o Bispo Auxiliar de Milão, Dom Erminio Do Scalzi, delegado do Cardeal Arcebispo Dionigi Tettamanzi para a organização do Encontro e Davide Milani, responsável pelas comunicações sociais desta arquidiocese.
Perdão é necessário para resolver atual crise espiritual, diz Papa
Kelen Galvan
Da Redação
"O núcleo da crise espiritual do nosso tempo tem as suas raízes no obscurecimento da graça do perdão", afirmou o Papa Bento XVI neste sábado, 25, aos bispos do Rio de Janeiro em visita ad Limina a Roma.
O Santo Padre explicou que quando o perdão não é reconhecido "como real e eficaz", tende-se a libertar a pessoa do sentimento de culpa. Sendo assim, afasta-se a possibilidade para que o perdão aconteça. Mas, explicou Bento XVI, "as pessoas assim 'libertadas' sabem que isso não é verdade, que o pecado existe e que elas mesmas são pecadoras".
.: Leia o discurso na íntegra
"Embora algumas linhas da psicologia sintam grande dificuldade em admitir que, entre os sentidos de culpa, possa haver também os devidos a uma ' verdadeira culpa', quem for tão 'frio' que não prove sentimentos de culpa nem sequer quando deve, procure por todos os meios recuperá-los, porque no ordenamento espiritual são necessários para a saúde da alma. De fato Jesus veio salvar, não aqueles que já se libertaram por si mesmos pensando que não têm necessidade d’Ele, mas quantos sentem que são pecadores e precisam d’Ele (cf. Lc 5, 31-32)", destacou.
O Papa afirmou ainda que "todos nós temos necessidade" desse perdão de Deus. "Como o Escultor divino que remove as incrustações de pó e lixo que se pousaram sobre a imagem de Deus inscrita em nós. Precisamos do perdão, que constitui o cerne de toda a verdadeira reforma: refazendo a pessoa no seu íntimo, torna-se também o centro da renovação da comunidade".
"Somente a partir desta profundidade de renovação do indivíduo é que nasce a Igreja, nasce a comunidade que une e sustenta na vida e na morte", explicou Bento XVI. "Ela é uma companhia na subida, na realização daquela purificação que nos torna capazes da verdadeira altura do ser homens, da companhia com Deus. À medida que se realiza a purificação, também a subida – que ao princípio é árdua – vai-se tornando cada vez mais jubilosa. Esta alegria deve transparecer cada vez mais da Igreja, contagiando o mundo, porque ela é a juventude do mundo".
E concluiu lembrando aos bispos que "tal obra não pode ser realizada com as nossas forças, mas são necessárias a luz e a graça que provêm do Espírito de Deus e agem no íntimo dos corações e das consciências".
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Canção Nova – Cantinho da Reflexão - Já não sei viver sem teu amor
*Monsenhor Jonas Abib
Adorar é um diálogo de amor. A adoração é um dom de Deus e não um esforço nosso. O primeiro passo sempre é de Deus. É ele quem toma a iniciativa de estar conosco, de se relacionar conosco para estabelecer uma relação íntima, de amizade. Por isso, a adoração não só é um desejo do nosso coração, mas, mais do que isto, é um desejo de Deus.
Cada um de nós tem um coração de adorador que precisa ser trabalhado, desenvolvido para crescer no dom da adoração. A indisposição que às vezes você sente para adorar não é sua. Este trabalho para crescer na adoração consiste num acolhimento da graça de Deus. Sim, é um dom que Deus quer nos dar pela ação do Espírito Santo. É dom, é preciso, em primeiro lugar, acolher.
O coração de adorador não é algo que vamos comprar com os nossos esforços, mas que vamos acolher com a nossa liberdade. É um exercício, contínuo e frequente, de todos os dias. É um trato de fidelidade e sinceridade com Deus. É um desejo de também demonstrar a Ele todo o nosso amor.
Quando se luta, a indisposição vai sumindo e quando menos esperar verá que está adorando. Independentemente do tempo que a pessoa tem para adorar, aquele tempo é muito precioso e não é em vão. Deus sabe da sua indisposição e do pecado original que está em você. Ele vê seu esforço e sua luta.
É claro que você gostaria de fazer uma oração gostosa, que faça esquentar por dentro. Mas Deus viu o seu esforço e para Ele valeu. Você pode não ter percebido, mas tudo o que precisava, aconteceu. Basta ficar diante do sol para ele causar efeito em você. Mesmo que o dia esteja nublado e a todo instante uma nuvem cubra o sol, tenha certeza de que os raios ultrapassaram aquelas nuvens e atingiram você. O fato de ter ficado exposto naquele lugar fez os raios do sol atingir a sua pele.
Assim também acontece com a adoração. É isso que quer dizer adorar em espírito e verdade. Você adora a partir da sua verdade, e a sua verdade naquele dia infelizmente era estar indisposto para adorar. Você não foi falso e adorou em verdade. Por muitas vezes sentirá essa indisposição porque ela vem do pecado original, mas você sempre estará partindo da verdade, portanto, estará sempre adorando em espírito e verdade.
Seu irmão,
*Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova e Presidente de Honra da Fundação João Paulo II. É autor de 48 livros, milhares de palestras em áudio e vídeo, viajando o Brasil e o mundo em encontros de evangelização. Acesse: www.padrejonas.com / http://twitter.com/padrejonasabib
MENSAGEM DO PAPA PARA A JMJ DE MADRI 2011
Texto integral em português
CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 14 de setembro de 2010 (ZENIT.org) – Apresentamos a Mensagem do Papa Bento XVI para a XXVI Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá em Madri, em agosto de 2011. O texto, difundido agora em português pela Santa Sé, fora publicado a 3 de setembro.
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«Enraizados e edificados n’Ele... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7).
Queridos amigos!
Penso com frequência na Jornada Mundial da Juventude de Sidney de 2008. Lá vivemos uma grande festa da fé, durante a qual o Espírito de Deus agiu com força, criando uma comunhão intensa entre os participantes, que vieram de todas as partes do mundo. Aquele encontro, assim como os precedentes, deu frutos abundantes na vida de numerosos jovens e de toda a Igreja. Agora, o nosso olhar dirige-se para a próxima Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar em Madrid em Agosto de 2011. Já em 1989, poucos meses antes da histórica derrocada do Muro de Berlim, a peregrinação dos jovens fez etapa na Espanha, em Santiago de Compostela. Agora, num momento em que a Europa tem grande necessidade de reencontrar as suas raízes cristãs, marcamos encontro em Madrid, com o tema: «Enraizados e edificados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). Por conseguinte, convido-vos para este encontro tão importante para a Igreja na Europa e para a Igreja universal. E gostaria que todos os jovens, quer os que compartilham a nossa fé em Jesus Cristo, quer todos os que hesitam, que estão na dúvida ou não crêem n’Ele, possam viver esta experiência, que pode ser decisiva para a vida: a experiência do Senhor Jesus ressuscitado e vivo e do seu amor por todos nós.
Na nascente das vossas maiores aspirações!
1. Em todas as épocas, também nos nossos dias, numerosos jovens sentem o desejo profundo de que as relações entre as pessoas sejam vividas na verdade e na solidariedade. Muitos manifestam a aspiração por construir relacionamentos de amizade autêntica, por conhecer o verdadeiro amor, por fundar uma família unida, por alcançar uma estabilidade pessoal e uma segurança real, que possam garantir um futuro sereno e feliz. Certamente, recordando a minha juventude, sei que estabilidade e segurança não são as questões que ocupam mais a mente dos jovens. Sim, a procura de um posto de trabalho e com ele poder ter uma certeza é um problema grande e urgente, mas ao mesmo tempo a juventude permanece contudo a idade na qual se está em busca da vida maior. Se penso nos meus anos de então: simplesmente não nos queríamos perder na normalidade da vida burguesa. Queríamos o que é grande, novo. Queríamos encontrar a própria vida na sua vastidão e beleza. Certamente, isto dependia também da nossa situação. Durante a ditadura nacional-socialista e durante a guerra nós fomos, por assim dizer, «aprisionados» pelo poder dominante. Por conseguinte, queríamos sair fora para entrar na amplidão das possibilidades do ser homem. Mas penso que, num certo sentido, todas as gerações sentem este impulso de ir além do habitual. Faz parte do ser jovem desejar algo mais do que a vida quotidiana regular de um emprego seguro e sentir o anseio pelo que é realmente grande. Trata-se apenas de um sonho vazio que esvaece quando nos tornamos adultos? Não, o homem é verdadeiramente criado para aquilo que é grande, para o infinito. Qualquer outra coisa é insuficiente. Santo Agostinho tinha razão: o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti. O desejo da vida maior é um sinal do facto que foi Ele quem nos criou, de que temos a Sua «marca». Deus é vida, e por isso todas as criaturas tendem para a vida; de maneira única e especial a pessoa humana, feita à imagem de Deus, aspira pelo amor, pela alegria e pela paz. Compreendemos então que é um contra-senso pretender eliminar Deus para fazer viver o homem! Deus é a fonte da vida; eliminá-lo equivale a separar-se desta fonte e, inevitavelmente, a privar-se da plenitude e da alegria: «De facto, sem o Criador a criatura esvaece» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 36). A cultura actual, nalgumas áreas do mundo, sobretudo no Ocidente, tende a excluir Deus, ou a considerar a fé como um facto privado, sem qualquer relevância para a vida social. Mas o conjunto de valores que estão na base da sociedade provém do Evangelho — como o sentido da dignidade da pessoa, da solidariedade, do trabalho e da família — constata-se uma espécie de «eclipse de Deus», uma certa amnésia, ou até uma verdadeira rejeição do Cristianismo e uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de perder a própria identidade profunda.
Por este motivo, queridos amigos, convido-vos a intensificar o vosso caminho de fé em Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Vós sois o futuro da sociedade e da Igreja! Como escrevia o apóstolo Paulo aos cristãos da cidade de Colossos, é vital ter raízes, bases sólidas! E isto é particularmente verdadeiro hoje, quando muitos não têm pontos de referência estáveis para construir a sua vida, tornando-se assim profundamente inseguros. O relativismo difundido, segundo o qual tudo equivale e não existe verdade alguma, nem qualquer ponto de referência absoluto, não gera a verdadeira liberdade, mas instabilidade, desorientação, conformismo às modas do momento. Vós jovens tendes direito de receber das gerações que vos precedem pontos firmes para fazer as vossas opções e construir a vossa vida, do mesmo modo como uma jovem planta precisa de um sólido apoio para que as raízes cresçam, para se tornar depois uma árvore robusta, capaz de dar fruto.
Enraizados e fundados em Cristo
2. Para ressaltar a importância da fé na vida dos crentes, gostaria de me deter sobre cada uma das três palavras que São Paulo usa nesta sua expressão: «Enraizados e fundados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). Nela podemos ver três imagens: «enraizado» recorda a árvore e as raízes que a alimentam; «fundado» refere-se à construção de uma casa; «firme» evoca o crescimento da força física e moral. Trata-se de imagens muito eloquentes. Antes de as comentar, deve-se observar simplesmente que no texto original as três palavras, sob o ponto de vista gramatical, estão no passivo: isto significa que é o próprio Cristo quem toma a iniciativa de radicar, fundar e tornar firmes os crentes.
A primeira imagem é a da árvore, firmemente plantada no solo através das raízes, que a tornam estável e a alimentam. Sem raízes, seria arrastada pelo vento e morreria. Quais são as nossas raízes? Naturalmente, os pais, a família e a cultura do nosso país, que são uma componente muito importante da nossa identidade. A Bíblia revela outra. O profeta Jeremias escreve: «Bendito o homem que deposita a confiança no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. É como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a inquieta a seca de um ano; continua a produzir frutos» (Jr 17, 7-8). Estender as raízes, para o profeta, significa ter confiança em Deus. D’Ele obtemos a nossa vida; sem Ele não poderíamos viver verdadeiramente. «Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está em Seu Filho» (1 Jo 5, 11). O próprio Jesus apresenta-se como nossa vida (cf. Jo 14, 6). Por isso a fé cristã não é só crer em verdades, mas é antes de tudo uma relação pessoal com Jesus Cristo, é o encontro com o Filho de Deus, que dá a toda a existência um novo dinamismo. Quando entramos em relação pessoal com Ele, Cristo revela-nos a nossa identidade e, na sua amizade, a vida cresce e realiza-se em plenitude. Há um momento, quando somos jovens, em que cada um de nós se pergunta: que sentido tem a minha vida, que finalidade, que orientação lhe devo dar? É uma fase fundamental, que pode perturbar o ânimo, às vezes também por muito tempo. Pensa-se no tipo de trabalho a empreender, quais relações sociais estabelecer, que afectos desenvolver... Neste contexto, penso de novo na minha juventude. De certa forma muito cedo tive a consciência de que o Senhor me queria sacerdote. Mais tarde, depois da Guerra, quando no seminário e na universidade eu estava a caminho para esta meta, tive que reconquistar esta certeza. Tive que me perguntar: é este verdadeiramente o meu caminho? É deveras esta a vontade do Senhor para mim? Serei capaz de Lhe permanecer fiel e de estar totalmente disponível para Ele, ao Seu serviço? Uma decisão como esta deve ser também sofrida. Não pode ser de outra forma. Mas depois surgiu a certeza: é bem assim! Sim, o Senhor quer-me, por isso também me dará a força. Ao ouvi-Lo, ao caminhar juntamente com Ele torno-me deveras eu mesmo. Não conta a realização dos meus próprios desejos, mas a Sua vontade. Assim a vida torna-se autêntica.
Tal como as raízes da árvore a mantêm firmemente plantada na terra, também os fundamentos dão à casa uma estabilidade duradoura. Mediante a fé, nós somos fundados em Cristo (cf. Cl 2, 7), como uma casa é construída sobre os fundamentos. Na história sagrada temos numerosos exemplos de santos que edificaram a sua vida sobre a Palavra de Deus. O primeiro foi Abraão. O nosso pai na fé obedeceu a Deus que lhe pedia para deixar a casa paterna a fim de se encaminhar para uma terra desconhecida. «Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça e foi chamado amigo de Deus» (Tg 2, 23). Estar fundados em Cristo significa responder concretamente à chamada de Deus, confiando n’Ele e pondo em prática a sua Palavra. O próprio Jesus admoesta os seus discípulos: «Porque me chamais: “Senhor, Senhor” e não fazeis o que Eu digo?» (Lc 6, 46). E, recorrendo à imagem da construção da casa, acrescenta: «todo aquele que vem ter Comigo, escuta as Minhas palavras e as põe em prática, é semelhante a um homem que construiu uma casa: Cavou, aprofundou e assentou os alicerces sobre a rocha. Sobreveio a inundação, a torrente arremessou-se com violência contra aquela casa e não pôde abalá-la por ter sido bem construída» (Lc 6, 47-48).
Queridos amigos, construí a vossa casa sobre a rocha, como o homem que «cavou muito profundamente». Procurai também vós, todos os dias, seguir a Palavra de Cristo. Senti-O como o verdadeiro Amigo com o qual partilhar o caminho da vossa vida. Com Ele ao vosso lado sereis capazes de enfrentar com coragem e esperança as dificuldades, os problemas, também as desilusões e as derrotas. São-vos apresentadas continuamente propostas mais fáceis, mas vós mesmos vos apercebeis que se revelam enganadoras, que não vos dão serenidade e alegria. Só a Palavra de Deus nos indica o caminho autêntico, só a fé que nos foi transmitida é a luz que ilumina o caminho. Acolhei com gratidão este dom espiritual que recebestes das vossas famílias e comprometei-vos a responder com responsabilidade à chamada de Deus, tornando-vos adultos na fé. Não acrediteis em quantos vos dizem que não tendes necessidade dos outros para construir a vossa vida! Ao contrário, apoiai-vos na fé dos vossos familiares, na fé da Igreja, e agradecei ao Senhor por a ter recebido e feito vossa!
Firmes na fé
3. «Enraizados e fundados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). A Carta da qual é tirado este convite, foi escrita por São Paulo para responder a uma necessidade precisa dos cristãos da cidade de Colossos. Com efeito, aquela comunidade estava ameaçada pela influência de determinadas tendências culturais da época, que afastavam os fiéis do Evangelho. O nosso contexto cultural, queridos jovens, tem numerosas analogias com o tempo dos Colossenses daquela época. De facto, há uma forte corrente de pensamento laicista que pretende marginalizar Deus da vida das pessoas e da sociedade, perspectivando e tentando criar um «paraíso» sem Ele. Mas a experiência ensina que o mundo sem Deus se torna um «inferno»: prevalecem os egoísmos, as divisões nas famílias, o ódio entre as pessoas e entre os povos, a falta de amor, de alegria e de esperança. Ao contrário, onde as pessoas e os povos acolhem a presença de Deus, o adoram na verdade e ouvem a sua voz, constrói-se concretamente a civilização do amor, na qual todos são respeitados na sua dignidade, cresce a comunhão, com os frutos que ela dá. Contudo existem cristãos que se deixam seduzir pelo modo de pensar laicista, ou são atraídos por correntes religiosas que afastam da fé em Jesus Cristo. Outros, sem aderir a estas chamadas, simplesmente deixaram esmorecer a sua fé, com inevitáveis consequências negativas a nível moral.
Aos irmãos contagiados por ideias alheias ao Evangelho, o apóstolo Paulo recorda o poder de Cristo morto e ressuscitado. Este mistério é o fundamento da nossa vida, o centro da fé cristã. Todas as filosofias que o ignoram, que o consideram «escândalo» (1 Cor 1, 23), mostram os seus limites diante das grandes perguntas que habitam o coração do homem. Por isso também eu, como Sucessor do apóstolo Pedro, desejo confirmar-vos na fé (cf. Lc 22, 32). Nós cremos firmemente que Jesus Cristo se ofereceu na Cruz para nos doar o seu amor; na sua paixão, carregou os nossos sofrimentos, assumiu sobre si os nossos pecados, obteve-nos o perdão e reconciliou-nos com Deus Pai, abrindo-nos o caminho da vida eterna. Deste modo fomos libertados do que mais entrava a nossa vida: a escravidão do pecado, e podemos amar a todos, até os inimigos, e partilhar este amor com os irmãos mais pobres e em dificuldade.
Queridos amigos, muitas vezes a Cruz assusta-nos, porque parece ser a negação da vida. Na realidade, é o contrário! Ela é o «sim» de Deus ao homem, a expressão máxima do seu amor e a nascente da qual brota a vida eterna. De facto, do coração aberto de Jesus na cruz brotou esta vida divina, sempre disponível para quem aceita erguer os olhos para o Crucificado. Portanto, não posso deixar de vos convidar a aceitar a Cruz de Jesus, sinal do amor de Deus, como fonte de vida nova. Fora de Cristo morto e ressuscitado, não há salvação! Só Ele pode libertar o mundo do mal e fazer crescer o Reino de justiça, de paz e de amor pelo qual todos aspiram.
Crer em Jesus Cristo sem o ver
4. No Evangelho é-nos descrita a experiência de fé do apóstolo Tomé ao acolher o mistério da Cruz e da Ressurreição de Cristo. Tomé faz parte dos Doze apóstolos; seguiu Jesus; foi testemunha directa das suas curas, dos milagres; ouviu as suas palavras; viveu a desorientação perante a sua morte. Na noite de Páscoa o Senhor apareceu aos discípulos, mas Tomé não estava presente, e quando lhe foi contado que Jesus estava vivo e se mostrou, declarou: «Se eu não vir o sinal dos cravos nas Suas mãos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e não meter a mão no Seu lado, não acreditarei» (Jo 20, 25).
Também nós gostaríamos de poder ver Jesus, de poder falar com Ele, de sentir ainda mais forte a sua presença. Hoje para muitos, o acesso a Jesus tornou-se difícil. Circulam tantas imagens de Jesus que se fazem passar por científicas e O privam da sua grandeza, da singularidade da Sua pessoa. Portanto, durante longos anos de estudo e meditação, maturou em mim o pensamento de transmitir um pouco do meu encontro pessoal com Jesus num livro: quase para ajudar a ver, a ouvir, a tocar o Senhor, no qual Deus veio ao nosso encontro para se dar a conhecer. De facto, o próprio Jesus aparecendo de novo aos discípulos depois de oito dias, diz a Tomé: «Chega aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente» (Jo 20, 27). Também nós temos a possibilidade de ter um contacto sensível com Jesus, meter, por assim dizer, a mão nos sinais da sua Paixão, os sinais do seu amor: nos Sacramentos Ele torna-se particularmente próximo de nós, doa-se a nós. Queridos jovens, aprendei a «ver», a «encontrar» Jesus na Eucaristia, onde está presente e próximo até se fazer alimento para o nosso caminho; no Sacramento da Penitência, no qual o Senhor manifesta a sua misericórdia ao oferecer-nos sempre o seu perdão. Reconhecei e servi Jesus também nos pobres, nos doentes, nos irmãos que estão em dificuldade e precisam de ajuda.
Abri e cultivai um diálogo pessoal com Jesus Cristo, na fé. Conhecei-o mediante a leitura dos Evangelhos e do Catecismo da Igreja Católica; entrai em diálogo com Ele na oração, dai-lhe a vossa confiança: ele nunca a trairá! «Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus» (Catecismo da Igreja Católica, n. 150). Assim podereis adquirir uma fé madura, sólida, que não estará unicamente fundada num sentimento religioso ou numa vaga recordação da catequese da vossa infância. Podereis conhecer Deus e viver autenticamente d’Ele, como o apóstolo Tomé, quando manifesta com força a sua fé em Jesus: «Meu Senhor e meu Deus!».
Amparados pela fé da Igreja para ser testemunhas
5. Naquele momento Jesus exclama: «Porque Me viste, acreditaste. Bem-aventurados os que, sem terem visto, acreditaram!» (Jo 20, 29). Ele pensa no caminho da Igreja, fundada sobre a fé das testemunhas oculares: os Apóstolos. Compreendemos então que a nossa fé pessoal em Cristo, nascida do diálogo com Ele, está ligada à fé da Igreja: não somos crentes isolados, mas, pelo Baptismo, somos membros desta grande família, e é a fé professada pela Igreja que dá segurança à nossa fé pessoal. O credo que proclamamos na Missa dominical protege-nos precisamente do perigo de crer num Deus que não é o que Jesus nos revelou: «Cada crente é, assim, um elo na grande cadeia dos crentes. Não posso crer sem ser motivado pela fé dos outros, e pela minha fé contribuo também para guiar os outros na fé» (Catecismo da Igreja Católica, n. 166). Agradeçamos sempre ao Senhor pelo dom da Igreja; ela faz-nos progredir com segurança na fé, que nos dá a vida verdadeira (cf. Jo 20, 31).
Na história da Igreja, os santos e os mártires hauriram da Cruz gloriosa de Cristo a força para serem fiéis a Deus até à doação de si mesmos; na fé encontraram a força para vencer as próprias debilidades e superar qualquer adversidade. De facto, como diz o apóstolo João, «Quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus?» (1 Jo 5, 5). E a vitória que nasce da fé é a do amor. Quantos cristãos foram e são um testemunho vivo da força da fé que se exprime na caridade; foram artífices de paz, promotores de justiça, animadores de um mundo mais humano, um mundo segundo Deus; comprometeram-se nos vários âmbitos da vida social, com competência e profissionalidade, contribuindo de modo eficaz para o bem de todos. A caridade que brota da fé levou-os a dar um testemunho muito concreto, nas acções e nas palavras: Cristo não é um bem só para nós próprios, é o bem mais precioso que temos para partilhar com os outros. Na era da globalização, sede testemunhas da esperança cristã em todo o mundo: são muitos os que desejam receber esta esperança! Diante do sepulcro do amigo Lázaro, morto havia quatro dias, Jesus, antes de o chamar de novo à vida, disse à sua irmã Marta: «Se acreditasses, verias a glória de Deus» (cf. Jo 11, 40). Também vós, se acreditardes, se souberdes viver e testemunhar a vossa fé todos os dias, tornar-vos-eis instrumentos para fazer reencontrar a outros jovens como vós o sentido e a alegria da vida, que nasce do encontro com Cristo!
Rumo à Jornada Mundial de Madrid
6. Queridos amigos, renovo-vos o convite a ir à Jornada Mundial da Juventude a Madrid. É com profunda alegria que espero cada um de vós pessoalmente: Cristo quer tornar-vos firmes na fé através a Igreja. A opção de crer em Cristo e de O seguir não é fácil; é dificultada pelas nossas infidelidades pessoais e por tantas vozes que indicam caminhos mais fáceis. Não vos deixeis desencorajar, procurai antes o apoio da Comunidade cristã, o apoio da Igreja! Ao longo deste ano preparai-vos intensamente para o encontro de Madrid com os vossos Bispos, os vossos sacerdotes e os responsáveis da pastoral juvenil nas dioceses, nas comunidades paroquiais, nas associações e nos movimentos. A qualidade do nosso encontro dependerá sobretudo da preparação espiritual, da oração, da escuta comum da Palavra de Deus e do apoio recíproco.
Amados jovens, a Igreja conta convosco! Precisa da vossa fé viva, da vossa caridade e do dinamismo da vossa esperança. A vossa presença renova a Igreja, rejuvenesce-a e confere-lhe renovado impulso. Por isso as Jornadas Mundiais da Juventude são uma graça não só para vós, mas para todo o Povo de Deus. A Igreja na Espanha está a preparar-se activamente para vos receber e para viver juntos a experiência jubilosa da fé. Agradeço às dioceses, às paróquias, aos santuários, às comunidades religiosas, às associações e aos movimentos eclesiais, que trabalham com generosidade na preparação deste acontecimento. O Senhor não deixará de os abençoar. A Virgem Maria acompanhe este caminho de preparação. Ela, ao anúncio do Anjo, acolheu com fé a Palavra de Deus; com fé consentiu a obra que Deus estava a realizar nela. Pronunciando o seu «fiat», o seu «sim», recebeu o dom de uma caridade imensa, que a levou a doar-se totalmente a Deus. Interceda por cada um e cada uma de vós, para que na próxima Jornada Mundial possais crescer na fé e no amor. Garanto-vos a minha recordação paterna na oração e abençoo-vos de coração.
Vaticano, 6 de Agosto de 2010, Festa da Transfiguração do Senhor.
BENEDICTUS PP. XVI
NOTA DA CNBB SOBRE AS ELEIÇÕES NO BRASIL
BRASÍLIA, sexta-feira, 17 de setembro de 2010 (ZENIT.org) – Apresentamos a nota difundida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) nessa quinta-feira, a respeito das Eleições 2010 no país.
* * *
Constantes interpelações têm chegado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB a respeito de seu posicionamento em relação às eleições do próximo dia 3 de outubro.
Falam em nome da CNBB somente a Assembleia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência. O único pronunciamento oficial da CNBB sobre as eleições/2010 é a Declaração sobre o Momento Político Nacional, aprovada pela 48ª Assembleia Geral da CNBB, deste ano, cujo conteúdo permanece como orientação neste momento de expressão do exercício da cidadania em nosso País.
Nessa Declaração, a CNBB, em consonância com sua missão histórica, mantém a tradição de apresentar princípios éticos, morais e cristãos fundamentais para ajudar os eleitores no discernimento do seu voto visando à consolidação da democracia entre nós.
Reafirmamos, portanto, o que diz a Declaração: “A campanha eleitoral é oportunidade para empenho de todos na reflexão sobre o que precisa ser levado adiante com responsabilidade e o que deve ser modificado, em vista de um Projeto Nacional com participação popular.
Por isso, incentivamos a que todos participem e expressem, através do voto ético, esclarecido e consciente, a sua cidadania nas próximas eleições, superando possíveis desencantos com a política, procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana. Em particular, encorajamos os leigos e as leigas da nossa Igreja a que assumam ativamente seu papel de cidadãos colaborando na construção de um País melhor para todos.
Confiando na intercessão de Nossa Senhora Aparecida, invocamos as bênçãos de Deus para todo o Povo Brasileiro”.
Brasília, 16 de setembro de 2010
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana – MG
Presidente da CNBB
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário Geral da CNBB
* * *
Constantes interpelações têm chegado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB a respeito de seu posicionamento em relação às eleições do próximo dia 3 de outubro.
Falam em nome da CNBB somente a Assembleia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência. O único pronunciamento oficial da CNBB sobre as eleições/2010 é a Declaração sobre o Momento Político Nacional, aprovada pela 48ª Assembleia Geral da CNBB, deste ano, cujo conteúdo permanece como orientação neste momento de expressão do exercício da cidadania em nosso País.
Nessa Declaração, a CNBB, em consonância com sua missão histórica, mantém a tradição de apresentar princípios éticos, morais e cristãos fundamentais para ajudar os eleitores no discernimento do seu voto visando à consolidação da democracia entre nós.
Reafirmamos, portanto, o que diz a Declaração: “A campanha eleitoral é oportunidade para empenho de todos na reflexão sobre o que precisa ser levado adiante com responsabilidade e o que deve ser modificado, em vista de um Projeto Nacional com participação popular.
Por isso, incentivamos a que todos participem e expressem, através do voto ético, esclarecido e consciente, a sua cidadania nas próximas eleições, superando possíveis desencantos com a política, procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana. Em particular, encorajamos os leigos e as leigas da nossa Igreja a que assumam ativamente seu papel de cidadãos colaborando na construção de um País melhor para todos.
Confiando na intercessão de Nossa Senhora Aparecida, invocamos as bênçãos de Deus para todo o Povo Brasileiro”.
Brasília, 16 de setembro de 2010
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana – MG
Presidente da CNBB
Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB
Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário Geral da CNBB
HOMILIA NA BEATIFICAÇÃO DE JOHN HENRY NEWM
“O coração fala ao coração”
BIRMINGHAM, domingo, 19 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a homilia que Bento XVI pronunciou hoje, ao presidir, no Wimblendon Park de Birmingham, a Celebração Eucarística de beatificação de John Henry Newman (1801-1890), cardeal e fundador dos oratórios de São Felipe Néri, na Inglaterra.
* * *
Queridos irmãos e irmãs em Cristo:
Estamos aqui em Birmingham em um dia realmente feliz. Em primeiro lugar, porque é o dia do Senhor, o domingo, dia em que o Senhor Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e transformou para sempre o curso da história humana, oferecendo vida e esperança a todos os que vivem na escuridão e nas sombras da morte. É a razão pela qual os cristãos do mundo inteiro se reúnem neste dia para louvar e dar graças a Deus pelas maravilhas que Ele fez por nós. Este domingo, em particular, representa também um momento significativo na vida da nação britânica, ao ser o dia escolhido para comemorar o 70º aniversário da Batalha da Inglaterra. Para mim, que estive entre os que viveram e sofreram os escuros dias do regime nazista na Alemanha, é profundamente comovente estar conosco nesta ocasião e poder recordar a tantos concidadãos vossos que sacrificaram suas vidas, resistindo com garra às forças desta ideologia demoníaca. Penso em particular na vizinha Coventry, que sofreu duríssimos bombardeios, com numerosas vítimas, em novembro de 1940. Setenta anos depois, recordamos com vergonha e horror o espantoso preço da morte e destruição que a guerra traz consigo; e renovamos nossa determinação de trabalhar pela paz e pela reconciliação, onde quer que ameace um conflito. Mas existe outra razão, mais alegre, pela qual este dia é especial para a Grã-Bretanha, para o centro da Inglaterra, para Birmingham. Este é o dia em que formalmente o cardeal John Henry Newman foi elevado aos altares e declarado beato.
Agradeço ao arcebispo Bernard Longley por seu cordial acolhimento ao começar a Missa nesta manhã. Agradeço a todos os que trabalharam tão duramente durante tantos anos na promoção da causa do cardeal Newman, incluindo os padres do Oratório de Birmingham e os membros da Família Espiritual Das Werk. E saúdo todos vós, que viestes de diferentes lugares da Grã-Bretanha, Irlanda e outros pontos mais distantes; obrigado pela vossa presença nesta celebração, na qual louvamos e damos glória a Deus pelas virtudes heroicas deste santo inglês.
A Inglaterra tem uma longa tradição de santos mártires, cujo valente testemunho sustentou e inspirou a comunidade católica local durante séculos. É justo e conveniente reconhecer hoje a santidade de um confessor, um filho desta nação que, ainda que não tenha sido chamado a derramar o sangue pelo Senhor, jamais se cansou de dar um testemunho eloquente d'Ele ao longo de uma vida entregue ao ministério sacerdotal, especialmente a pregar, lecionar e escrever. É digno de fazer parte da longa fila de santos e eruditos destas ilhas: São Beda, Santa Hilda, São Aelred, o beato Duns Scot, por nomear apenas alguns. No beato John Newman, esta tradição de delicada erudição, profunda sabedoria humana e amor intenso pelo Senhor deu grandes frutos, como sinal da presença constante do Espírito Santo no coração do povo de Deus, suscitando copiosos dons de santidade.
O lema do cardeal Newman, cor ad cor loquitur, "o coração fala ao coração", oferece-nos a perspectiva da sua compreensão da vida cristã como um chamado à santidade, experimentada como o desejo profundo do coração humano de entrar em comunhão íntima com o coração de Deus. Recorda-nos que a fidelidade à oração vai nos transformando gradualmente em semelhança de Deus. Como escreveu em um dos seus muitos e belos sermões, "o hábito da oração, a prática de buscar Deus e o mundo invisível em cada momento, em cada lugar, em cada emergência... digo-vos que a oração tem o que se pode chamar de efeito natural na alma, espiritualizando-a e elevando-a. Um homem já não é o que era antes; gradualmente (...) se vê imbuído de uma série de ideias novas e se vê impregnado de princípios diferentes" (Sermões Paroquiais e Comuns, IV, 230-231). O Evangelho de hoje afirma que ninguém pode servir a dois senhores (cf. Lc 16, 13), e o Beato John Henry, em seus ensinamentos sobre a oração, esclarece como o fiel cristão toma partido por servir seu único e verdadeiro Mestre, que pede só para si nossa devoção incondicional (cf. Mt 23, 10). Newman nos ajuda a entender em que consiste isso para a nossa vida cotidiana: ele nos diz que nosso divino Mestre confiou uma tarefa específica a cada um de nós, um "serviço concreto", confiado de maneira única a cada pessoa concreta: "Tenho minha missão - escreve -, sou um elo na corrente, um vínculo de união entre pessoas. Ele não me criou para o nada. Farei o bem, farei seu trabalho; serei um anjo de paz, um pregador da verdade no lugar que me é próprio. (...) Se o fizer, eu me manterei em seus mandamentos e O servirei nas minhas tarefas" (Meditação e Devoção, 301-2).
O serviço concreto ao qual o beato John Henry foi chamado incluía a aplicação entusiasta da sua inteligência e sua prolífica caneta a muitas das mais urgentes "questões do dia". Suas intuições sobre a relação entre fé e razão, sobre o lugar vital da religião revelada na sociedade civilizada e sobre a necessidade de uma educação esmerada e ampla foram de grande importância, não somente para a Inglaterra vitoriana. Hoje também continuam inspirando e iluminando muitos no mundo inteiro. Eu gostaria de prestar uma homenagem especial à sua visão da educação, que fez tanto por formar o ethos, que é a força motriz das escolas e faculdades católicas atuais. Firmemente contrário a qualquer enfoque reducionista ou utilitarista, buscou condições educativas nas quais pudesse se unificar o esforço intelectual, a disciplina moral e o compromisso religioso. O projeto de fundar uma universidade católica na Irlanda lhe ofereceu a oportunidade de desenvolver suas ideias a respeito disso; e a coleção de discursos que publicou, com o título "A ideia de uma universidade" sustenta um ideal mediante o qual todos os que estão envolvidos na formação acadêmica podem continuar aprendendo. Mais ainda, que melhor meta podem ter os professores de religião que o famoso convite do beato John Henry sobre leigos inteligentes e bem formados? "Quero um laicado que não seja arrogante nem imprudente na hora de falar, nem alvorotado, mas homens que conheçam bem sua religião, que aprofundem nela, que saibam bem onde estão, que saibam o que têm e o que não têm; que conheçam seu credo a tal ponto, que possam prestar contas dele; que conheçam tão bem a história, que possam defendê-la" (A Posição Atual dos Católicos na Inglaterra, IX, 390). Hoje, quando o autor destas palavras foi elevado aos altares, peço que, por meio da sua intercessão e exemplo, todos os que trabalham no campo da educação e da catequese se inspirem com maior ardor na visão tão clara que ele nos deixou.
Ainda que a extensa produção literária sobre sua vida e obras prestou compreensivelmente maior atenção ao legado intelectual de John Henry Newman, nesta ocasião prefiro concluir com uma breve reflexão sobre sua vida sacerdotal, como pastor de almas. Sua visão do ministério pastoral sob o prisma do afeto e da humanidade está expresso de maneira maravilhosa em outro dos seus famosos sermões: "Se vossos sacerdotes fossem anjos, meus irmãos, eles não poderiam compartilhar convosco a dor, sintonizar convosco, não poderiam ter compaixão de vós, sentir ternura por vós e ser indulgentes convosco, como nós podemos; eles não poderiam ser nem modelos nem guias, e não teriam te levado do teu homem velho à vida nova, como eles, que vêm do nosso meio" (Homens, não anjos: os sacerdotes do Evangelho: discursos às congregações mistas, 3). Ele viveu profundamente esta visão tão humana do ministério sacerdotal, em seus desvelos pastorais pelo povo de Birmingham, durante os anos dedicados ao Oratório que ele mesmo fundou, visitando os doentes e os pobres, consolando os tristes ou atendendo os presos. Não é de surpreender que, ao morrer, milhares de pessoas se aglomeravam nas ruas enquanto seu corpo era transladado ao lugar da sua sepultura, a não mais que meia milha daqui; 120 anos depois, uma grande multidão se reuniu novamente para celebrar o reconhecimento eclesial solene da excepcional santidade deste pai de almas tão amado. Que melhor maneira de expressar nossa alegria deste momento que dirigindo-nos ao nosso Pai do céu com gratidão sincera, rezando com as mesmas palavras que o beato John Henry Newman colocou nos lábios do coro celestial dos anjos?
Praise to the Holiest in the height
And in the depth be praise;
In all his words most wonderful,
Most sure in all his ways!
("Seja louvado o Santíssimo no céu,
seja louvado no abismo;
em todas as suas palavras, o mais maravilhoso,
o mais seguro em todos os seus caminhos")
("O sonho de Gerontius")
[Tradução: Aline Banchieri.
© Libreria Editrice Vaticana]
BIRMINGHAM, domingo, 19 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a homilia que Bento XVI pronunciou hoje, ao presidir, no Wimblendon Park de Birmingham, a Celebração Eucarística de beatificação de John Henry Newman (1801-1890), cardeal e fundador dos oratórios de São Felipe Néri, na Inglaterra.
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Queridos irmãos e irmãs em Cristo:
Estamos aqui em Birmingham em um dia realmente feliz. Em primeiro lugar, porque é o dia do Senhor, o domingo, dia em que o Senhor Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e transformou para sempre o curso da história humana, oferecendo vida e esperança a todos os que vivem na escuridão e nas sombras da morte. É a razão pela qual os cristãos do mundo inteiro se reúnem neste dia para louvar e dar graças a Deus pelas maravilhas que Ele fez por nós. Este domingo, em particular, representa também um momento significativo na vida da nação britânica, ao ser o dia escolhido para comemorar o 70º aniversário da Batalha da Inglaterra. Para mim, que estive entre os que viveram e sofreram os escuros dias do regime nazista na Alemanha, é profundamente comovente estar conosco nesta ocasião e poder recordar a tantos concidadãos vossos que sacrificaram suas vidas, resistindo com garra às forças desta ideologia demoníaca. Penso em particular na vizinha Coventry, que sofreu duríssimos bombardeios, com numerosas vítimas, em novembro de 1940. Setenta anos depois, recordamos com vergonha e horror o espantoso preço da morte e destruição que a guerra traz consigo; e renovamos nossa determinação de trabalhar pela paz e pela reconciliação, onde quer que ameace um conflito. Mas existe outra razão, mais alegre, pela qual este dia é especial para a Grã-Bretanha, para o centro da Inglaterra, para Birmingham. Este é o dia em que formalmente o cardeal John Henry Newman foi elevado aos altares e declarado beato.
Agradeço ao arcebispo Bernard Longley por seu cordial acolhimento ao começar a Missa nesta manhã. Agradeço a todos os que trabalharam tão duramente durante tantos anos na promoção da causa do cardeal Newman, incluindo os padres do Oratório de Birmingham e os membros da Família Espiritual Das Werk. E saúdo todos vós, que viestes de diferentes lugares da Grã-Bretanha, Irlanda e outros pontos mais distantes; obrigado pela vossa presença nesta celebração, na qual louvamos e damos glória a Deus pelas virtudes heroicas deste santo inglês.
A Inglaterra tem uma longa tradição de santos mártires, cujo valente testemunho sustentou e inspirou a comunidade católica local durante séculos. É justo e conveniente reconhecer hoje a santidade de um confessor, um filho desta nação que, ainda que não tenha sido chamado a derramar o sangue pelo Senhor, jamais se cansou de dar um testemunho eloquente d'Ele ao longo de uma vida entregue ao ministério sacerdotal, especialmente a pregar, lecionar e escrever. É digno de fazer parte da longa fila de santos e eruditos destas ilhas: São Beda, Santa Hilda, São Aelred, o beato Duns Scot, por nomear apenas alguns. No beato John Newman, esta tradição de delicada erudição, profunda sabedoria humana e amor intenso pelo Senhor deu grandes frutos, como sinal da presença constante do Espírito Santo no coração do povo de Deus, suscitando copiosos dons de santidade.
O lema do cardeal Newman, cor ad cor loquitur, "o coração fala ao coração", oferece-nos a perspectiva da sua compreensão da vida cristã como um chamado à santidade, experimentada como o desejo profundo do coração humano de entrar em comunhão íntima com o coração de Deus. Recorda-nos que a fidelidade à oração vai nos transformando gradualmente em semelhança de Deus. Como escreveu em um dos seus muitos e belos sermões, "o hábito da oração, a prática de buscar Deus e o mundo invisível em cada momento, em cada lugar, em cada emergência... digo-vos que a oração tem o que se pode chamar de efeito natural na alma, espiritualizando-a e elevando-a. Um homem já não é o que era antes; gradualmente (...) se vê imbuído de uma série de ideias novas e se vê impregnado de princípios diferentes" (Sermões Paroquiais e Comuns, IV, 230-231). O Evangelho de hoje afirma que ninguém pode servir a dois senhores (cf. Lc 16, 13), e o Beato John Henry, em seus ensinamentos sobre a oração, esclarece como o fiel cristão toma partido por servir seu único e verdadeiro Mestre, que pede só para si nossa devoção incondicional (cf. Mt 23, 10). Newman nos ajuda a entender em que consiste isso para a nossa vida cotidiana: ele nos diz que nosso divino Mestre confiou uma tarefa específica a cada um de nós, um "serviço concreto", confiado de maneira única a cada pessoa concreta: "Tenho minha missão - escreve -, sou um elo na corrente, um vínculo de união entre pessoas. Ele não me criou para o nada. Farei o bem, farei seu trabalho; serei um anjo de paz, um pregador da verdade no lugar que me é próprio. (...) Se o fizer, eu me manterei em seus mandamentos e O servirei nas minhas tarefas" (Meditação e Devoção, 301-2).
O serviço concreto ao qual o beato John Henry foi chamado incluía a aplicação entusiasta da sua inteligência e sua prolífica caneta a muitas das mais urgentes "questões do dia". Suas intuições sobre a relação entre fé e razão, sobre o lugar vital da religião revelada na sociedade civilizada e sobre a necessidade de uma educação esmerada e ampla foram de grande importância, não somente para a Inglaterra vitoriana. Hoje também continuam inspirando e iluminando muitos no mundo inteiro. Eu gostaria de prestar uma homenagem especial à sua visão da educação, que fez tanto por formar o ethos, que é a força motriz das escolas e faculdades católicas atuais. Firmemente contrário a qualquer enfoque reducionista ou utilitarista, buscou condições educativas nas quais pudesse se unificar o esforço intelectual, a disciplina moral e o compromisso religioso. O projeto de fundar uma universidade católica na Irlanda lhe ofereceu a oportunidade de desenvolver suas ideias a respeito disso; e a coleção de discursos que publicou, com o título "A ideia de uma universidade" sustenta um ideal mediante o qual todos os que estão envolvidos na formação acadêmica podem continuar aprendendo. Mais ainda, que melhor meta podem ter os professores de religião que o famoso convite do beato John Henry sobre leigos inteligentes e bem formados? "Quero um laicado que não seja arrogante nem imprudente na hora de falar, nem alvorotado, mas homens que conheçam bem sua religião, que aprofundem nela, que saibam bem onde estão, que saibam o que têm e o que não têm; que conheçam seu credo a tal ponto, que possam prestar contas dele; que conheçam tão bem a história, que possam defendê-la" (A Posição Atual dos Católicos na Inglaterra, IX, 390). Hoje, quando o autor destas palavras foi elevado aos altares, peço que, por meio da sua intercessão e exemplo, todos os que trabalham no campo da educação e da catequese se inspirem com maior ardor na visão tão clara que ele nos deixou.
Ainda que a extensa produção literária sobre sua vida e obras prestou compreensivelmente maior atenção ao legado intelectual de John Henry Newman, nesta ocasião prefiro concluir com uma breve reflexão sobre sua vida sacerdotal, como pastor de almas. Sua visão do ministério pastoral sob o prisma do afeto e da humanidade está expresso de maneira maravilhosa em outro dos seus famosos sermões: "Se vossos sacerdotes fossem anjos, meus irmãos, eles não poderiam compartilhar convosco a dor, sintonizar convosco, não poderiam ter compaixão de vós, sentir ternura por vós e ser indulgentes convosco, como nós podemos; eles não poderiam ser nem modelos nem guias, e não teriam te levado do teu homem velho à vida nova, como eles, que vêm do nosso meio" (Homens, não anjos: os sacerdotes do Evangelho: discursos às congregações mistas, 3). Ele viveu profundamente esta visão tão humana do ministério sacerdotal, em seus desvelos pastorais pelo povo de Birmingham, durante os anos dedicados ao Oratório que ele mesmo fundou, visitando os doentes e os pobres, consolando os tristes ou atendendo os presos. Não é de surpreender que, ao morrer, milhares de pessoas se aglomeravam nas ruas enquanto seu corpo era transladado ao lugar da sua sepultura, a não mais que meia milha daqui; 120 anos depois, uma grande multidão se reuniu novamente para celebrar o reconhecimento eclesial solene da excepcional santidade deste pai de almas tão amado. Que melhor maneira de expressar nossa alegria deste momento que dirigindo-nos ao nosso Pai do céu com gratidão sincera, rezando com as mesmas palavras que o beato John Henry Newman colocou nos lábios do coro celestial dos anjos?
Praise to the Holiest in the height
And in the depth be praise;
In all his words most wonderful,
Most sure in all his ways!
("Seja louvado o Santíssimo no céu,
seja louvado no abismo;
em todas as suas palavras, o mais maravilhoso,
o mais seguro em todos os seus caminhos")
("O sonho de Gerontius")
[Tradução: Aline Banchieri.
© Libreria Editrice Vaticana]
CATEQUESE DO PAPA: “FALEI AO CORAÇÃO DE TODOS OS INGLESES”
Intervenção na audiência geral de hoje
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 22 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a intervenção do Papa Bento XVI durante a audiência geral, realizada na Praça de São Pedro, com os milhares de peregrinos procedentes do mundo inteiro.
* * *
Queridos irmãos e irmãs:
Hoje, eu gostaria de falar da viagem apostólica ao Reino Unido, que Deus me concedeu realizar na semana passada. Foi uma visita oficial e, ao mesmo tempo, uma peregrinação ao coração da história e do hoje de um povo rico de cultura e de fé, como o caso do britânico. Foi um acontecimento histórico, que marcou uma nova fase importante na longa e complexa história das relações entre essas populações e a Santa Sé. O principal objetivo da visita era proclamar beato o cardeal John Henry Newman, um dos maiores ingleses da sua época, insigne teólogo e homem de Igreja. De fato, a cerimônia de beatificação representou o principal momento da viagem apostólica, cujo tema estava inspirado no lema do cardeal Newman: "O coração fala ao coração". E nos quatro intensos e belíssimos dias transcorridos nesta nobre terra, tive a grande alegria de falar ao coração dos habitantes do Reino Unido, e eles falaram ao meu, especialmente com sua presença e com o testemunho da sua fé. Pude, de fato, constatar como a herança cristã ainda é forte e inclusive ativa em todos os estratos da vida social. O coração dos britânicos e sua existência estão abertos à realidade de Deus e há numerosas expressões de religiosidade que esta minha visita evidenciou ainda mais.
Desde o primeiro dia da minha permanência no Reino Unido - e durante todo o período da minha estadia -, recebi em todos os lugares um caloroso acolhimento por parte das autoridades, dos representantes das diversas realidades sociais, dos representantes das diferentes confissões religiosas e especialmente das pessoas comuns. Penso particularmente nos fiéis da comunidade católica e em seus pastores que, ainda sendo minoria no país, são muito estimados e considerados, comprometidos no anúncio alegre de Jesus Cristo, fazendo o Senhor resplandecer e tornando-se sua voz, especialmente entre os últimos. A todos renovo a expressão da minha profunda gratidão, pelo entusiasmo demonstrado e pela excelente diligência com que trabalharam pelo êxito desta visita minha, cuja lembrança conservarei para sempre no coração.
O primeiro encontro foi em Edimburgo, com Sua Majestade a rainha Elizabeth II, que, juntamente com seu consorte, o Duque de Edimburgo, acolheu-me com grande afeto em nome de todo o povo britânico. Foi um encontro muito cordial, caracterizado pela partilha de algumas profundas preocupações referentes ao bem-estar dos povos do mundo e pelo papel dos valores cristãos na sociedade. Na histórica capital da Escócia, pude admirar as belezas artísticas, testemunho de uma rica tradição e de profundas raízes cristãs. Fiz referência a isso no discurso a Sua Majestade e às autoridades presentes, recordando que a mensagem cristã se converteu em parte integrante da língua, do pensamento e da cultura dos povos destas ilhas. Falei também do papel que a Grã-Bretanha teve e continua tendo no panorama internacional, mencionando a importância dos passos levados a cabo para uma pacificação justa e duradoura na Irlanda do Norte.
A atmosfera de festa e de alegria criada pelos jovens e crianças alegrou a etapa de Edimburgo. Ao chegar depois a Glasgow, cidade embelezada por encantadores parques, presidi a primeira Santa Missa da viagem, precisamente no Bellahouston Park. Foi um momento de intensa espiritualidade, muito importante para os católicos do país, também considerando o fato de que naquele dia se celebrava a festa litúrgica de São Ninian, primeiro evangelizador da Escócia. Nessa assembleia litúrgica reunida em oração atenta e compartilhada, que ficou ainda mais solene pelas melodias tradicionais e cantos, recordei a importância da evangelização da cultura, especialmente em nossa época, na qual um relativismo penetrante ameaça escurecer a imutável verdade sobre a natureza do homem.
No segundo dia, comecei a visita a Londres. Lá encontrei, em primeiro lugar, o mundo da educação católica, que tem um papel relevante no sistema de instrução desse país. Em um autêntico clima de família, falei aos educadores, recordando a importância da fé na formação de cidadãos maduros e responsáveis. Aos numerosos adolescentes e jovens, que me acolheram com alegria e entusiasmo, propus que não buscassem objetivos limitados, contentando-se com escolhas cômodas, mas que procurassem algo maior, isto é, a busca da verdadeira felicidade que se encontra somente em Deus. No seguinte encontro, com os responsáveis das demais religiões majoritariamente presentes no Reino Unido, recordei a ineludível necessidade de um diálogo sincero, que precisa do respeito ao princípio de reciprocidade para que seja plenamente frutífero. Ao mesmo tempo, evidenciei a busca do sagrado como campo comum a todas as religiões, sobre o qual é preciso reforçar a amizade, a confiança e a colaboração.
A visita fraterna ao arcebispo da Cantuária foi a oportunidade para reafirmar o compromisso comum de dar testemunho da mensagem cristã que une católicos e anglicanos. Foi seguido por um dos momentos mais significativos da viagem apostólica: o encontro, na grande sala do Parlamento britânico, com personalidades institucionais, políticas, diplomáticas, acadêmicas, religiosas, representantes do mundo cultural e empresarial. Nesse lugar tão prestigioso, sublinhei que a religião, para os legisladores, não deve representar um problema a ser resolvido, mas um fator que contribui de forma vital para o caminho histórico e para o debate público da nação, em particular ao recordar a importância essencial do fundamento ético para as decisões nos diversos setores da vida social.
Nesse mesmo clima solene, dirigi-me depois à abadia de Westminster: pela primeira vez, um sucessor de Pedro estava no lugar de culto símbolo das antiquíssimas raízes cristãs do país. A recitação da oração das Vésperas, junto às diversas comunidades cristãs do Reino Unido, representou um momento importante nas relações entre a comunidade católica e a Comunhão Anglicana. Quando veneramos juntos o túmulo de São Eduardo o Confessor, enquanto o coral cantava Congregavit nos in unum Christi amor, todos nós louvamos Deus, que nos conduz no caminho rumo à unidade plena.
Na manhã do sábado, o encontro com o primeiro-ministro abriu a série de encontros com os maiores representantes do mundo político britânico. Foi seguida da Celebração Eucarística na catedral de Westminster, dedicada ao Preciosíssimo Sangue do Nosso Senhor. Foi um extraordinário momento de fé e de oração - que evidenciou a rica e belíssima tradição de música litúrgica "romana" e "inglesa" - da qual participaram os diversos componentes eclesiais, espiritualmente unidos à multidão de crentes da longa história cristã dessa terra. É enorme minha alegria por ter encontrado um grande número de jovens que participavam da Santa Missa do exterior da catedral. Com sua presença cheia de entusiasmo e ao mesmo tempo atenta e ansiosa, demonstraram querer ser os protagonistas de uma nova etapa de testemunho valente, de solidariedade com os fatos, de generoso compromisso ao serviço do Evangelho.
Na nunciatura apostólica, encontrei-me com algumas vítimas de abusos por parte de membros do clero e de religiosos. Foi um momento intenso de comoção e oração. Pouco depois, encontrei-me também com um grupo de profissionais e voluntários responsáveis pela proteção das crianças e dos jovens nos ambientes eclesiais, um aspecto particularmente importante e presente no compromisso pastoral da Igreja. Eu os agradeci e incentivei a continuar seu trabalho, que se insere na longa tradição da Igreja de cuidado pelo respeito, educação e formação das novas gerações. Também em Londres, visitei a casa de repouso de idosos, a cargo das Irmãzinhas dos Pobres, com a belíssima contribuição de numerosas enfermeiras e voluntários. Esta estrutura de acolhimento é sinal da grande consideração que a Igreja teve sempre pelo idoso, como também expressão do compromisso dos católicos britânicos no respeito à vida sem levar em consideração a idade ou as condições.
Como comentei, o cume da minha visita ao Reino Unido foi a beatificação do cardeal John Henry Newman, ilustre filho da Inglaterra. Esta foi precedida e preparada por uma vigília especial de oração que aconteceu no sábado à noite em Londres, no Hyde Park, em uma atmosfera de profundo recolhimento. À multidão de fiéis, especialmente os jovens, quis voltar a propor a luminosa figura do cardeal Newman, intelectual e crente, cuja mensagem espiritual pode se resumir no testemunho de que o caminho do conhecimento não é o fechamento no próprio "eu", e sim a abertura, a conversão e a obediência Àquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. O rito de beatificação aconteceu em Birmingham, durante a solene Celebração Eucarística dominical, com a presença de uma grande multidão procedente de toda Grã-Bretanha e da Irlanda, com representações de muitos outros países. Este impressionante acontecimento destacou ainda mais um erudito de tal grandeza, um insigne escritor e poeta, um sábio homem de Deus, cujo pensamento iluminou muitas consciências e que ainda hoje exerce um fascínio extraordinário. Que nele, em particular, se inspirem os crentes e as comunidades eclesiais do Reino Unido, para que também em nossos dias essa nobre terra continue produzindo frutos abundantes de vida evangélica.
O encontro com a Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales e com a da Escócia concluiu um dia de grande festa e de intensa comunhão de corações para a comunidade católica na Grã-Bretanha.
Queridos irmãos e irmãs, nesta minha visita ao Reino Unido, como sempre, quis sustentar em primeiro lugar a comunidade católica, incentivando-a a trabalhar sem cessar para defender as verdades morais imutáveis que, retomadas, iluminadas e confirmadas pelo Evangelho, estão na base de uma sociedade verdadeiramente humana, justa e livre. Quis também falar ao coração de todos os habitantes do Reino Unido, sem excluir ninguém, da verdadeira realidade do homem, das suas necessidades mais profundas, do seu destino último. Ao dirigir-me aos cidadãos desse país, encruzilhada da cultura e da economia mundiais, tive presente todo o Ocidente, dialogando com as razões desta civilização e comunicando a perene novidade do Evangelho, da qual ela está impregnada. Esta viagem apostólica confirmou em mim uma convicção profunda: as antigas nações da Europa têm uma alma cristã, que constitui uma unidade com o "gênio" e a história dos respectivos povos, e a Igreja não deixa de trabalhar para manter continuamente em pé esta tradição espiritual e cultural.
O beato John Henry Newman, cuja figura e escritos conservam ainda uma atualidade extraordinária, merece ser conhecido por todos. Que ele sustente os propósitos e os esforços dos cristãos para "difundir em todos os lugares o perfume de Cristo, para que toda a sua vida seja só uma irradiação da sua", como ele escrevia sabiamente em seu livro "Irradiar Cristo".
[No final da audiência, o Papa cumprimentou os fiéis em diversos idiomas. Estas foram suas palavras em português:]
Queridos irmãos e irmãs, Na semana passada, Deus concedeu-me a graça de visitar a Inglaterra e lá proclamar beato o cardeal Henry Newman, brilhante figura de intelectual e crente, cuja mensagem espiritual mostra como o caminho da consciência não é fecharmo-nos em nós mesmos, mas abertura, conversão e obediência a Cristo que é Caminho, Verdade e Vida. Nas palavras que dirigi aos cidadãos daquela Nação, tive presente todo o Ocidente, procurando dialogar com as razões desta civilização e comunicar a novidade perene do Evangelho de que ela está ainda impregnada. Esta visita apostólica confirmou em mim uma profunda convicção: as antigas nações da Europa conservam uma alma cristã, que forma um todo com o gênio e a história dos respectivos povos. E se há um secularismo agressivo que ameaça os valores fundamentais, a Igreja não se cansa de trabalhar para manter desperta esta tradição espiritual e cultural. Amados peregrinos de língua portuguesa, cordiais saudações para todos vós, de modo especial para os fiéis de Campinas, da paróquia Beato José de Anchieta de Cambuí. Continuai a defender aquelas verdades morais imutáveis que, iluminadas e confirmadas pelo Evangelho, estão na base de uma sociedade verdadeiramente humana, justa e livre. Sobre vós e vossas famílias desça a minha bênção.
[Tradução: Aline Banchieri.
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 22 de setembro de 2010 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a intervenção do Papa Bento XVI durante a audiência geral, realizada na Praça de São Pedro, com os milhares de peregrinos procedentes do mundo inteiro.
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Queridos irmãos e irmãs:
Hoje, eu gostaria de falar da viagem apostólica ao Reino Unido, que Deus me concedeu realizar na semana passada. Foi uma visita oficial e, ao mesmo tempo, uma peregrinação ao coração da história e do hoje de um povo rico de cultura e de fé, como o caso do britânico. Foi um acontecimento histórico, que marcou uma nova fase importante na longa e complexa história das relações entre essas populações e a Santa Sé. O principal objetivo da visita era proclamar beato o cardeal John Henry Newman, um dos maiores ingleses da sua época, insigne teólogo e homem de Igreja. De fato, a cerimônia de beatificação representou o principal momento da viagem apostólica, cujo tema estava inspirado no lema do cardeal Newman: "O coração fala ao coração". E nos quatro intensos e belíssimos dias transcorridos nesta nobre terra, tive a grande alegria de falar ao coração dos habitantes do Reino Unido, e eles falaram ao meu, especialmente com sua presença e com o testemunho da sua fé. Pude, de fato, constatar como a herança cristã ainda é forte e inclusive ativa em todos os estratos da vida social. O coração dos britânicos e sua existência estão abertos à realidade de Deus e há numerosas expressões de religiosidade que esta minha visita evidenciou ainda mais.
Desde o primeiro dia da minha permanência no Reino Unido - e durante todo o período da minha estadia -, recebi em todos os lugares um caloroso acolhimento por parte das autoridades, dos representantes das diversas realidades sociais, dos representantes das diferentes confissões religiosas e especialmente das pessoas comuns. Penso particularmente nos fiéis da comunidade católica e em seus pastores que, ainda sendo minoria no país, são muito estimados e considerados, comprometidos no anúncio alegre de Jesus Cristo, fazendo o Senhor resplandecer e tornando-se sua voz, especialmente entre os últimos. A todos renovo a expressão da minha profunda gratidão, pelo entusiasmo demonstrado e pela excelente diligência com que trabalharam pelo êxito desta visita minha, cuja lembrança conservarei para sempre no coração.
O primeiro encontro foi em Edimburgo, com Sua Majestade a rainha Elizabeth II, que, juntamente com seu consorte, o Duque de Edimburgo, acolheu-me com grande afeto em nome de todo o povo britânico. Foi um encontro muito cordial, caracterizado pela partilha de algumas profundas preocupações referentes ao bem-estar dos povos do mundo e pelo papel dos valores cristãos na sociedade. Na histórica capital da Escócia, pude admirar as belezas artísticas, testemunho de uma rica tradição e de profundas raízes cristãs. Fiz referência a isso no discurso a Sua Majestade e às autoridades presentes, recordando que a mensagem cristã se converteu em parte integrante da língua, do pensamento e da cultura dos povos destas ilhas. Falei também do papel que a Grã-Bretanha teve e continua tendo no panorama internacional, mencionando a importância dos passos levados a cabo para uma pacificação justa e duradoura na Irlanda do Norte.
A atmosfera de festa e de alegria criada pelos jovens e crianças alegrou a etapa de Edimburgo. Ao chegar depois a Glasgow, cidade embelezada por encantadores parques, presidi a primeira Santa Missa da viagem, precisamente no Bellahouston Park. Foi um momento de intensa espiritualidade, muito importante para os católicos do país, também considerando o fato de que naquele dia se celebrava a festa litúrgica de São Ninian, primeiro evangelizador da Escócia. Nessa assembleia litúrgica reunida em oração atenta e compartilhada, que ficou ainda mais solene pelas melodias tradicionais e cantos, recordei a importância da evangelização da cultura, especialmente em nossa época, na qual um relativismo penetrante ameaça escurecer a imutável verdade sobre a natureza do homem.
No segundo dia, comecei a visita a Londres. Lá encontrei, em primeiro lugar, o mundo da educação católica, que tem um papel relevante no sistema de instrução desse país. Em um autêntico clima de família, falei aos educadores, recordando a importância da fé na formação de cidadãos maduros e responsáveis. Aos numerosos adolescentes e jovens, que me acolheram com alegria e entusiasmo, propus que não buscassem objetivos limitados, contentando-se com escolhas cômodas, mas que procurassem algo maior, isto é, a busca da verdadeira felicidade que se encontra somente em Deus. No seguinte encontro, com os responsáveis das demais religiões majoritariamente presentes no Reino Unido, recordei a ineludível necessidade de um diálogo sincero, que precisa do respeito ao princípio de reciprocidade para que seja plenamente frutífero. Ao mesmo tempo, evidenciei a busca do sagrado como campo comum a todas as religiões, sobre o qual é preciso reforçar a amizade, a confiança e a colaboração.
A visita fraterna ao arcebispo da Cantuária foi a oportunidade para reafirmar o compromisso comum de dar testemunho da mensagem cristã que une católicos e anglicanos. Foi seguido por um dos momentos mais significativos da viagem apostólica: o encontro, na grande sala do Parlamento britânico, com personalidades institucionais, políticas, diplomáticas, acadêmicas, religiosas, representantes do mundo cultural e empresarial. Nesse lugar tão prestigioso, sublinhei que a religião, para os legisladores, não deve representar um problema a ser resolvido, mas um fator que contribui de forma vital para o caminho histórico e para o debate público da nação, em particular ao recordar a importância essencial do fundamento ético para as decisões nos diversos setores da vida social.
Nesse mesmo clima solene, dirigi-me depois à abadia de Westminster: pela primeira vez, um sucessor de Pedro estava no lugar de culto símbolo das antiquíssimas raízes cristãs do país. A recitação da oração das Vésperas, junto às diversas comunidades cristãs do Reino Unido, representou um momento importante nas relações entre a comunidade católica e a Comunhão Anglicana. Quando veneramos juntos o túmulo de São Eduardo o Confessor, enquanto o coral cantava Congregavit nos in unum Christi amor, todos nós louvamos Deus, que nos conduz no caminho rumo à unidade plena.
Na manhã do sábado, o encontro com o primeiro-ministro abriu a série de encontros com os maiores representantes do mundo político britânico. Foi seguida da Celebração Eucarística na catedral de Westminster, dedicada ao Preciosíssimo Sangue do Nosso Senhor. Foi um extraordinário momento de fé e de oração - que evidenciou a rica e belíssima tradição de música litúrgica "romana" e "inglesa" - da qual participaram os diversos componentes eclesiais, espiritualmente unidos à multidão de crentes da longa história cristã dessa terra. É enorme minha alegria por ter encontrado um grande número de jovens que participavam da Santa Missa do exterior da catedral. Com sua presença cheia de entusiasmo e ao mesmo tempo atenta e ansiosa, demonstraram querer ser os protagonistas de uma nova etapa de testemunho valente, de solidariedade com os fatos, de generoso compromisso ao serviço do Evangelho.
Na nunciatura apostólica, encontrei-me com algumas vítimas de abusos por parte de membros do clero e de religiosos. Foi um momento intenso de comoção e oração. Pouco depois, encontrei-me também com um grupo de profissionais e voluntários responsáveis pela proteção das crianças e dos jovens nos ambientes eclesiais, um aspecto particularmente importante e presente no compromisso pastoral da Igreja. Eu os agradeci e incentivei a continuar seu trabalho, que se insere na longa tradição da Igreja de cuidado pelo respeito, educação e formação das novas gerações. Também em Londres, visitei a casa de repouso de idosos, a cargo das Irmãzinhas dos Pobres, com a belíssima contribuição de numerosas enfermeiras e voluntários. Esta estrutura de acolhimento é sinal da grande consideração que a Igreja teve sempre pelo idoso, como também expressão do compromisso dos católicos britânicos no respeito à vida sem levar em consideração a idade ou as condições.
Como comentei, o cume da minha visita ao Reino Unido foi a beatificação do cardeal John Henry Newman, ilustre filho da Inglaterra. Esta foi precedida e preparada por uma vigília especial de oração que aconteceu no sábado à noite em Londres, no Hyde Park, em uma atmosfera de profundo recolhimento. À multidão de fiéis, especialmente os jovens, quis voltar a propor a luminosa figura do cardeal Newman, intelectual e crente, cuja mensagem espiritual pode se resumir no testemunho de que o caminho do conhecimento não é o fechamento no próprio "eu", e sim a abertura, a conversão e a obediência Àquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. O rito de beatificação aconteceu em Birmingham, durante a solene Celebração Eucarística dominical, com a presença de uma grande multidão procedente de toda Grã-Bretanha e da Irlanda, com representações de muitos outros países. Este impressionante acontecimento destacou ainda mais um erudito de tal grandeza, um insigne escritor e poeta, um sábio homem de Deus, cujo pensamento iluminou muitas consciências e que ainda hoje exerce um fascínio extraordinário. Que nele, em particular, se inspirem os crentes e as comunidades eclesiais do Reino Unido, para que também em nossos dias essa nobre terra continue produzindo frutos abundantes de vida evangélica.
O encontro com a Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales e com a da Escócia concluiu um dia de grande festa e de intensa comunhão de corações para a comunidade católica na Grã-Bretanha.
Queridos irmãos e irmãs, nesta minha visita ao Reino Unido, como sempre, quis sustentar em primeiro lugar a comunidade católica, incentivando-a a trabalhar sem cessar para defender as verdades morais imutáveis que, retomadas, iluminadas e confirmadas pelo Evangelho, estão na base de uma sociedade verdadeiramente humana, justa e livre. Quis também falar ao coração de todos os habitantes do Reino Unido, sem excluir ninguém, da verdadeira realidade do homem, das suas necessidades mais profundas, do seu destino último. Ao dirigir-me aos cidadãos desse país, encruzilhada da cultura e da economia mundiais, tive presente todo o Ocidente, dialogando com as razões desta civilização e comunicando a perene novidade do Evangelho, da qual ela está impregnada. Esta viagem apostólica confirmou em mim uma convicção profunda: as antigas nações da Europa têm uma alma cristã, que constitui uma unidade com o "gênio" e a história dos respectivos povos, e a Igreja não deixa de trabalhar para manter continuamente em pé esta tradição espiritual e cultural.
O beato John Henry Newman, cuja figura e escritos conservam ainda uma atualidade extraordinária, merece ser conhecido por todos. Que ele sustente os propósitos e os esforços dos cristãos para "difundir em todos os lugares o perfume de Cristo, para que toda a sua vida seja só uma irradiação da sua", como ele escrevia sabiamente em seu livro "Irradiar Cristo".
[No final da audiência, o Papa cumprimentou os fiéis em diversos idiomas. Estas foram suas palavras em português:]
Queridos irmãos e irmãs, Na semana passada, Deus concedeu-me a graça de visitar a Inglaterra e lá proclamar beato o cardeal Henry Newman, brilhante figura de intelectual e crente, cuja mensagem espiritual mostra como o caminho da consciência não é fecharmo-nos em nós mesmos, mas abertura, conversão e obediência a Cristo que é Caminho, Verdade e Vida. Nas palavras que dirigi aos cidadãos daquela Nação, tive presente todo o Ocidente, procurando dialogar com as razões desta civilização e comunicar a novidade perene do Evangelho de que ela está ainda impregnada. Esta visita apostólica confirmou em mim uma profunda convicção: as antigas nações da Europa conservam uma alma cristã, que forma um todo com o gênio e a história dos respectivos povos. E se há um secularismo agressivo que ameaça os valores fundamentais, a Igreja não se cansa de trabalhar para manter desperta esta tradição espiritual e cultural. Amados peregrinos de língua portuguesa, cordiais saudações para todos vós, de modo especial para os fiéis de Campinas, da paróquia Beato José de Anchieta de Cambuí. Continuai a defender aquelas verdades morais imutáveis que, iluminadas e confirmadas pelo Evangelho, estão na base de uma sociedade verdadeiramente humana, justa e livre. Sobre vós e vossas famílias desça a minha bênção.
[Tradução: Aline Banchieri.
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