Capitulo 1
Jesus Cristo realmente existiu
Falar de Jesus Cristo é falar da essência do cristianismo. O cristianismo implica princípios filosóficos, mas não é filosofia; contém princípios éticos, mas não é uma ética; possui princípios sociais, mas não é um movimento social. O cristianismo é Cristo conhecido, acreditado, amado, seguido e transmitido.
A história, cristã e pagã, dá testemunho de que Jesus Cristo existiu de verdade. Faz parte da coerência humana aceitar fatos históricos; seguir a doutrina e a mensagem de Jesus já requer, por uma parte, fé e, por outra, vontade e aceitação.
1. Jesus Cristo não é um mito. Existiu realmente.
Existem documentos históricos sobre Jesus de Nazaré.
Escritores pagãos: No princípio do século II se mencionam os chamados cristãos, aqueles que professam a fé em Cristo, considerado Deus. É o caso da carta que o historiador Plínio o Jovem, pró-consul da Bitínia, escreveu no ano 112 ao imperador Trajano: Os cristãos se reúnem num dia determinado, antes do amanhecer, e entoam hinos a Cristo como a um deus. Tácito, em seus Anais, fala no ano 115 do grande incêndio de Roma em 64, atribuído a Nero e por ele aos cristãos, aos quais culpou de tudo. Eis o texto: Para cessar essa voz, apresentou como réus e infligiu castigos àqueles que, desprezados por suas abominações, eram conhecidos pelo povo como cristãos. Este nome vinha de Cristo, o qual, sob o reino de Tibério, fora condenado à morte pelo procurador Pôncio Pilatos. Tal condenação suprimiu no início esta perniciosa superstição; logo em seguida, porém, ela surgiu de novo no solo da Judéia, onde tivera origem, assim como em Roma, onde conflui tudo quanto há de abominável e de indecoroso e onde ela encontra seguidores (15,4,4). Suetônio, historiador do ano 120, se refere ao imperador Cláudio, que expulsou de Roma os judeus por promoverem incessantes desordens por instigação de um tal Cresto.
Escritores judeus: Flávio Josefo, historiador judeu, em suas Antiguidades Judaicas escritas nos anos 93 e 94, refere que o sumo sacerdote Anás acusou de transgredir a lei o irmão de Jesus (chamado Cristo), de nome Santiago, e também alguns outros, apedrejando-os. (Antiquitates XX,9,1). Em outra passagem, mais explícita: Naquele mesmo tempo apareceu Jesus, homem sábio, se é lícito chamá-lo homem, pois fez coisas maravilhosas, foi mestre dos homens que aspiram pela verdade, atraindo para si muitos judeus e muitos gentios. Ele era o Cristo. E mesmo que Pilatos o tenha feito crucificar por causa das acusações de pessoas importantes do nosso povo, nem por isso deixaram de amá-lo aqueles que o haviam amado antes; pois Ele lhes apareceu ressuscitado ao terceiro dia, depois que os divinos profetas tinham predito dele estes fatos e muitos outros prodígios sobre a sua pessoa. Até hoje permanece a estirpe dos cristãos que tomaram dele o nome (Antiquitates, XV111,3,3)
Testemunhos cristãos: Um conjunto de 27 documentos está compilado no Novo Testamento: quatro Evangelhos, os Atos dos Apóstolos, 14 cartas de São Paulo, as 7 cartas chamadas católicas (de São Tiago, a primeira e a segunda de São Pedro, as três de São João e a de Judas Tadeu) e, finalmente, o Apocalipse. O Novo Testamento não é um livro de história. É um conjunto de livros que contêm o anúncio da mensagem da fé. Há nele muitos dados históricos, mais que nos livros não cristãos; o mais importante, porém, é a fé e a conversão. Não podemos, portanto, olhar para estes livros com os olhos do historiador e sim com o coração de quem crê. Também existem outros livros cristãos que falam de Jesus, mas eles não são reconhecidos pela Igreja como autênticos e revelados. Neles, mais do que a fé e a história, se reflete a euforia, a admiração humana dos milagres, as reflexões particulares. Tais livros são chamados de apócrifos.
Os Evangelhos: São a fonte mais importante da história de Cristo. Foram escritos à luz da Páscoa. Os redatores se serviram, numa primeira compilação, de documentos escritos anteriormente e de investigações pessoais, ao mesmo tempo em que davam aos seus escritos uma intencionalidade teológica. Um desses documentos anteriores é a chamada Quelle (fonte em alemão) que compilava discursos e logia (frases curtas memorizadas) de Cristo, existentes já nos anos 40, que foram utilizados por Lucas e Mateus. Outra fonte escrita é a conhecida pelo nome de tríplice tradição, que compila os fatos da vida de Cristo que os três sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) utilizaram. Dispomos de critérios válidos que nos permitem escutar, se não com as mesmas palavras de Jesus (obsessão do século passado) ao menos a mensagem autêntica de Jesus e visualizar fatos ocorridos realmente e que são de Jesus de Nazaré.
2. Como era a Palestina nos tempos de Jesus
Situação política: A Palestina estava dominada por Roma. A cultura dominante do país era a judaica, mas também o grego era falado. Era um país, portanto, com várias culturas: a hebraica, a grega e a romana. Roma respeitava bastante as instituições e peculiaridades dos povos que dominava. Havia um representante romano para governar com uma pequena guarda. A vida de Jesus se desenrola no tempo dos imperadores Augusto e Tibério. Herodes, o Grande, é o rei de toda a Palestina na época do nascimento de Jesus. Herodes morre e deixa o território para os filhos: Herodes Antipas herda a Galiléia e Arquelau a Judéia. No tempo de Jesus havia também judeus rebeldes que lutavam pela independência da Palestina. Entre eles estavam Judas Galileu e os zelotes.
Situação social: A Palestina se compunha de dois grupos sociais: os judeus habitantes da própria Palestina e os pagãos romanos. Havia bastantes judeus na diáspora, ou seja, vivendo fora da Palestina. Dentro do grupo judeu havia duas linhas do ponto de vista religioso:
Os fariseus eram um grupo religioso de maioria leiga, embora dele fizessem parte alguns sacerdotes. Obedeciam estritamente à Lei de Moisés. Respeitavam as tradições (sábado, ritos purificadores, orações, esmola, dízimo, etc), estudavam a Lei de Moisés, eram influentes e respeitados. Esperavam a futura vinda de um Messias libertador político, acreditavam na ressurreição final, desejavam a independência da Palestina. Não eram amigos dos romanos ainda que vivessem com eles.
Os saduceus eram um grupo religioso ao qual pertenciam as famílias sacerdotais mais importantes. Queriam também a independência, mas viviam sem grandes problemas sob a dominação romana. Rejeitavam as tradições orais judaicas e não acreditavam na ressurreição. Eram ricos.
Outras classes sociais: a grande multidão, gente simples, religiosa. Os sacerdotes, que cuidavam do templo e ofereciam sacrifícios. Os levitas ajudavam os sacerdotes. Os guardas do templo punham ordem dentro do recinto do templo. Os escribas, mestres e advogados. Os anciãos, cujas decisões eram determinantes. Os essênios ou monges de Qunram, uma espécie de ordem religiosa. Os discípulos de João Batista. Os publicanos, unidos aos romanos, cobravam impostos, eram ricos e odiados; considerados pecadores, não cumpriam a lei nem as purificações. Os herodianos desejavam que a família de Herodes tomasse o poder na Palestina. Os zelotas eram rebeldes e fanáticos contra a dominação romana; nacionalistas: patriotas, crentes e violentos, queriam uma nação livre e governada em nome de Deus.
3. Quais eram as instituições religiosas
Assim se resumia a fé israelita: fé em um só Deus, revelada aos Patriarcas, contida nas Escrituras; fé na eleição do povo de Israel.
Estas são as instituições religiosas no tempo de Jesus:
Sinédrio: para assuntos religiosos. Senado composto de 65 membros e presidido pelo sumo sacerdote. Formado por sacerdotes anciãos e escribas, com poder para julgar e castigar quem cometesse faltas em matéria religiosa. Para condenar à morte precisava da permissão do representante romano.
Sinagoga: lugar de reunião dos judeus para rezar, ler e escutar a Escritura, sempre aos sábados.
Templo: o centro da vida religiosa nacional. Construído e mantido com a contribuição dos fiéis. Nele eram oferecidos os sacrifícios.
Festas religiosas: O Sábado começava já na sexta-feira à tarde e durante ele todo trabalho era proibido terminantemente. A Páscoa é a festa principal, que comemora a libertação do povo eleito escravizado no Egito. Pentecostes: festa da Aliança realizada no Sinai entre Deus e Israel. Tabernáculos: ação de graças pelas colheitas e frutos. Dia da Reconciliação: perdão dos pecados de todo o povo. Dedicação do templo: aniversário da dedicação do templo feita por Judas Macabeu.
Que relação tinha Jesus com estas instituições sociais, políticas e religiosas? Podemos dizer o seguinte: Jesus era judeu de nascimento. Pertencia à classe média baixa, devido ao seu ofício de carpinteiro. Morava na província da Galiléia. Não era de família sacerdotal. Sua religiosidade era mais coincidente com a dos fariseus, mas sem que isto implicasse no cumprimento da lei e de todas as tradições. Não se manifesta por nenhuma opção política a favor ou contra Roma. Fala e se relaciona com homens de todas as classes sociais: sacerdotes, fariseus, saduceus, pobres, publicanos, prostitutas, doentes, pescadores, soldados romanos... Não era escravo, nem mendigo, nem diarista.
CONCLUSÃO: A existência de Cristo pertence à doutrina da fé, assim como também pertence à fé o fato de Cristo ter morrido por nós e ressuscitado ao terceiro dia. A fé em Cristo, portanto, não é uma crença num ser atemporal de que tivemos notícia por uma experiência mística, e menos ainda a crença num mito ou num símbolo. A nossa fé em Cristo é fé em uma Pessoa o Filho eterno do Pai que, num momento preciso da história, se encarnou na Virgem Maria por obra do Espírito Santo e se fez homem... (Concílio I de Constantinopla, a. 381, Symbolum; DS150). É, pois, fé num homem concreto. Mais: a existência de Jesus é também um fato provado pela ciência histórica, sobretudo mediante a análise do Novo Testamento, cujo valor histórico está fora de dúvida. Cabe também mencionar alguns testemunhos antigos não cristãos sobre a existência de Jesus, como já vimos neste capítulo. No capítulo seguinte aprofundaremos mais este ponto.
Fonte: vocacao.com
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